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Ao falar da família, André Macias chora durante entrevista à Gazeta do Povo. | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Ao falar da família, André Macias chora durante entrevista à Gazeta do Povo.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

De licença do cargo de vice-presidente do Coritiba, o empresário André Luiz Macias não sabe se volta ao clube após o vazamento de conversas de WhatsApp em que ele e outros membros da diretoria criticam outros integrantes da cúpula alviverde. Macias se considera vítima de golpe de um grupo que pretende tomar o poder no Alto da Glória e que o Coxa enfrenta uma verdadeira fogueira de vaidades. “O problema do ego é inerente da raça, mas no Coritiba está muito acentuado”, diz ele, que e m determinado momento chegou a chorar durante a entrevista . Confira:

VEJA as conversas no WhatsApp que minaram a cúpula do Coritiba

Você ingressou na Justiça após o vazamento de conversas no WhatsApp?

São duas ações cíveis e oito criminais, de cada um que estava no grupo contra o Bruno [Kafka, que vazou as conversas]. Há também oito ações contra o mentor disso tudo, que tem objetivo político de voltar ao clube.

Quem é esse mentor?

[silêncio]

Era do G5?

A pedido do meu advogado, não posso revelar.

“Quis expor a verdade à torcida”, afirma ex-funcionário do Coxa que vazou conversas do Whatsapp

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Os integrantes desse grupo de WhatsApp queriam a saída dos vices Ricardo Guerra e Ernesto Pedroso?

Primeiro, quero dizer que um grupo de WhatsApp nada mais é do que uma “conversa de boteco”, com todos falando de uma forma mais aberta possível. Se eu estivesse falando em outro ambiente, seria em outro tom.

Todos do grupo tinham proximidade com você? Quem permitia a entrada de novos integrantes?

Eu não era administrador. O grupo foi criado em dezembro e entrei em fevereiro. Saí várias vezes, mas ficavam me colocando novamente. Eram pessoas que se conhecem há 15 anos.

O grupo era grande?

Não, só oito pessoas. O Bruno era o nono elemento. Ele era a única exceção.

Por que vocês admitiram o Bruno se ele não era desse grupo de amigos?

Ele virou funcionário do clube. Eu, como vice-presidente, almoçava com alguns funcionários e diretores para despachar muitas coisas. E o Bruno, que era assistente administrativo, participava desses almoços.

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Você disse que com os outros integrantes do grupo havia uma relação de amizade. Você não acredita que com a entrada do Bruno não seria melhor ter se resguardado mais?

Mas o que eu falo? É um crime vazar conversa privada.

Por que você acha que as conversas foram divulgadas?

Tem alguém por trás, porque a hora em que ele se desligou do clube também teve o desligamento de algumas pessoas. E essas pessoas procuraram gente de outras alas com o objetivo de derrubar quem estava lá para que pudesse voltar ao clube. O Bruno aproveitou essa história para ir ao núcleo político e falar “Tenho isso para derrubar o Macias”.

Você não acha que o comentários no WhatsApp foram imprudência?

Errei, mas não como pessoa física. Como vice-presidente do Coritiba não poderia permitir estar num grupo, por mais que seja sigilosa a conversa.

As conversas do WhatsApp expuseram uma divisão no G5. Quando se formou a chapa ano passado você já tinha desencontros com os futuros membros do G5?

Nas reuniões eu sempre divergi de várias coisas. E desde o momento que o futebol foi blindado e ninguém mais podia participar, quem mandava era o Pedroso. Fui proibido de qualquer coisa em relação ao futebol. Mas havia coisas que eu achava absurdas. De qualquer forma, nunca houve uma pessoa do grupo para derrubar colegas do G5. Eu pessoalmente fui vítima de um isolamento político desde o primeiro dia. Sempre pensei que o Coritiba precisava ter uma integração entre a base e o profissional para revelar jogadores. Mas havia dirigentes que diziam: “Não, vamos buscar o ídolo no aeroporto com o meu carro para a imprensa fotografar”.

Nunca argumentaram com você o porquê desse isolamento?

O Pedroso disse que no futebol ele mandava do jeito dele. E o Guerra entendia que eu era um concorrente.

O que você pretende apresentar na sua defesa ao conselho de ética?

Do que me acusam? Ninguém sabe. Sou vítima de um golpe.

O que o levou a se licenciar?

Quero dar a maior liberdade para que tudo seja esclarecido. O que não posso é ser condenado sem direito à defesa, o que aconteceu até agora.

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O Ney Franco afirmou que havia gente no vestiário atrapalhando o trabalho da comissão técnica. E você diz que o Pedroso isolou o departamento de futebol. Houve um choque das duas partes?

Na verdade são coisas distintas. A montagem do time começou em janeiro, as divergências do G5 começaram na montagem do time. Eu não fui responsável pela computação de nenhum jogador. A saída do Pedroso não foi articulada. Agora, lógico, quem sai, sai magoado. E depois de uma série de resultados negativos do Coritiba, houve uma reunião na diretoria, como há em todo clube.

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O que foi dito na reunião?

Como o Pierre [Boulos, vice que também pediu licença do cargo] sabia que o conteúdo da reunião vazaria, porque tudo vaza para a imprensa no Coritiba, ele se adiantou e ligou para o Ney Franco dizendo “Ney, houve uma reunião e eu fui favorável à sua saída. Mas fui voto vencido e foi decidido que você fica. Então saiba que você conta com meu apoio. Estou sendo sincero”. Só que sinceridade demais às vezes magoa.

O Ney Franco teria digerido mal essa franqueza?

O Ney é um grande cara. Mas ele sentia necessidade de desabafar, tinha uma amizade grande com o Pedroso.

Você diz que tudo vaza para a imprensa. Mas a reclamação do Ney Franco era justamente de que informações do vestiário estavam vazando para reuniões do G5.

Eu nunca entrei no vestiário do Coritiba com o Ney Franco como técnico. Vestiário não é lugar de dirigente.

Como é seu relacionamento com os jogadores? A impressão é que eles gostavam muito do Pedroso.

Em oito meses de gestão fui apenas uma vez ao CT. Fui porque o Pedroso tinha se desligado do futebol, o Bacellar não podia ir e eu falei para o presidente que alguém tinha que ir lá dar tranquilidade ao elenco. Conversei só com o Ney Franco. Disse a ele que estávamos trabalhando firme para que não tivesse qualquer problema extra-campo.

O Ney Franco disse que o caso do WhatsApp serviu para fechar o grupo...

Acho que os jogadores fizeram o certo. O que lamento é o Ney Franco ou qualquer outra pessoa estar discutindo política no elenco. Jogador é jogador, dirigente é dirigente.

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Você acredita que tudo isso respingou no elenco?

Se respingou, foi positivamente. O Coritiba reagiu, mas por uma série de fatores. Não seria um grupo de WhatsApp que faria o Coritiba reagir.

Você tinha a função de articular a criação da Copa Sul-Minas. Isso partiu de você?

Eu sou o mentor, com o aval do presidente Bacellar.

Com a sua saída, há gente para tocar isso?

Com certeza existem pessoas capacitadas. Não sou insubstituível.

Você acha que despertou inveja por tomar a frente da Sul-Minas?

Apesar de o clube ser muito maior do que eu, despertou sim. O problema do ego é inerente da raça, mas no Coritiba está muito acentuado.

Foi você quem estreitou a aproximação do Coritiba com o Atlético?

Fui eu. Eu sou coxa-branca, meu rival é o Atlético e quero ganhar deles sempre. Mas depois que você vira dirigente tem que entender que nossos times são médios, não adianta um querer destruir o outro senão os dois perdem comercialmente e politicamente. Não temos força, então temos que ser inteligentes. Para os dois crescerem devem estar juntos. Não adianta chegar na Globo sozinho, não adianta chegar na CBF sozinho. Tivemos um relacionamento com o Mário Celso Petraglia institucional muito sério, honesto e leal. Tudo que combinamos foi cumprido.

Eu sou coxa-branca, meu rival é o Atlético e quero ganhar deles sempre. Mas depois que você vira dirigente tem que entender que nossos times são médios. Não temos força, então temos que ser inteligentes. Para os dois crescerem devem estar juntos. Tivemos um relacionamento com o Mário Celso Petraglia institucional muito sério, honesto e leal.

O presidente falou logo depois de as conversas do WhatsApp virem à tona que se pudesse demitiria você. Há clima para você voltar?

O presidente deu essa entrevista após ter ouvido somente um lado. Depois conversei com ele e perguntei se aquela realmente era a vontade dele. O presidente disse que não. Falou que eu havia ajudado o Coritiba e que eu estava sendo homem em pedir licença.

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Essa exposição toda atingiu sua família?

Foi muito pesado. Aconteceu um episódio de uma irmã que me ligava diariamente. Eu atendia e falava “já te ligo, estou numa reunião no Coritiba”. Domingo, no almoço da família, eu não comparecia porque tinha jogo. Um dia eu estava almoçando no restaurante com o presidente de um clube e minha mãe me liga dizendo que minha irmã estava internada porque havia acabado de perder um filho. Minha mãe disse que minha irmã me ligou várias vezes para contar da gravidez e eu não atendi. Isso me deu um choque. Quando surgiu a história do WhatsApp, minha mãe passou várias noites em claro. Meu pai é cardiopata e foi internado. Minha família sentiu muito.

Você quer voltar ao Coxa?

Me coloquei à disposição da comissão. Nessa licença voltei aos meus negócios. Meu primeiro objetivo é provar que não prejudiquei o Coritiba. Quero ser absolvido. Depois analiso se volto.

O que você pode dizer sobre o dinheiro que saiu do clube para a campanha do Ricardo Gomyde à presidência da Federação?

O Coritiba foi um dos idealizadores da campanha do Gomyde, assim como o Atlético. O representante do Coritiba na campanha era eu. O Coritiba fez uma doação de R$ 200 mil, dinheiro que foi devolvido ao clube pelo Bacellar. O Coritiba pode, estatutariamente, fazer essa doação.

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Você acha que pelo fato de o presidente já ter devolvido o dinheiro ao clube o assunto está encerrado?

O clube não está lesado. Mas foi criado um factoide político. Falaram que eu havia roubado R$ 200 mil da Federação. Depois falaram que eu roubei R$ 100 mil. Depois falaram que a minha empresa estava prestando serviço. A minha empresa atende o Gomyde. Não seria ilícito que pessoas que atuavam na campanha comprassem da minha empresa. Eu não vendi para o Coritiba, vendi para a campanha.

Você não acha que o fato de a sua empresa prestar serviço para a campanha não levantaria questionamentos?

Eu abri mão das minhas comissões. Só prestei o serviço pela agilidade e para baratear a campanha. Me acusam que as notas fiscais não foram emitidas para o Coritiba. Não foram emitidas para o Coritiba porque seria fraude. O clube não teria contabilmente como comprovar a despesa porque doou dinheiro para a campanha. Então as notas foram emitidas para pessoas que solicitaram os serviços. Foi apresentada na contabilidade da campanha a declaração da forma mais limpa e transparente. Não tem nada.

Você faria tudo de volta no G5?

Sim. E com mais afinco, pelo bem do clube.

Inclusive a participação no grupo do Whatsapp?

Não [risos]. Hoje não participo de nenhum grupo de WhatsApp.

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