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A extinção de clubes significa menos chance de emprego para os boleiros do país | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
A extinção de clubes significa menos chance de emprego para os boleiros do país| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Regional

Arapongas e Cianorte ameaçam engrossar estatística de dissidentes

O Paranaense não chegou à metade e dois clubes concorrem para engrossar a estatística dos desistentes. Há dez dias, o Arapongas anunciou que encerrará as atividades e, mais recentemente, o Cianorte seguiu o coro. "A notícia teve uma grande repercussão. Mas não veio nenhum centavo", reconheceu o presidente do Arapongas, Adir Leme. Com um investimento de R$ 1,2 milhão, a equipe não consegue fechar a conta: 60% vai para a folha salarial, 10% para transporte e outros 30% para as demais despesas. Além disso, os custos com as taxas da FPF e despesas de jogos consomem 30% da renda das partidas. "Para entrar em campo, gastamos no mínimo R$ 12 mil", explicou Leme.

Ainda assim, o presidente da FPF, Hélio Cury, tem esperanças na permanência das equipes. "Não vai acontecer [o fechamento dos dois clubes]. O Cianorte vem de uma fase muito boa de três, quatro anos e a situação atual em campo abalou bastante. O Arapongas também não estava vendo retorno do investimento. Foi mais para mobilizar as cidades."

Cury garante que se a FPF não enfrentasse uma grave crise financeira, poderia ajudar mais seus afiliados. "Vamos limpar a lousa financeiramente, zerar e aí começar a ajudar os clubes, por exemplo, tirando os custos de arbitragem."

Realidade paranaense

Em 2009, o Campeonato Paranaense da Série A contava com 15 clubes e mais 10 equipes disputavam a Série B estadual. A elite local tem hoje 12 integrantes. A Segunda Divisão terá entre 9 e 10 times, a serem definidos no arbitral da próxima semana. A Série C do ano passado foi disputada por apenas cinco agremiações.

A crise nos campeonatos es­­taduais tem causado baixas irreversíveis. Em apenas três anos, 80 clubes deixaram de disputar alguma divisão dos torneios locais pelo país, uma redução de 11% – de 734 para 654 equipes. O encolhimento recente dos regionais foi apontado por um estudo divulgado ontem pela Pluri Consultoria, que mostra um futuro ainda mais sombrio, especialmente para os times menores.

Estado mais rico do país, São Paulo é o único que ainda ostenta participantes na Quarta Divisão. Há dez anos, contudo, os gramados paulistas abrigavam disputas até da Sexta Divisão. O Pa­­raná está entre os sete es­­tados que ainda contam com torneios da Terceira Divisão. Em quatros estados, porém, não existe nem sequer a Segunda Divisão e outros nove rumam para o mesmo fim em no máximo dois anos.

No Amapá e em Roraima, a elite local conta com apenas seis integrantes, enquanto no Piauí sobraram oito times. Esvaziamento que os co­­loca como fortes candidatos a assistir ao fim dos torneios caseiros. "No cenário atual dos estaduais, o prejuí­zo é certo. Os grandes saem machucados e os pequenos saem mortos", comenta Fernando Ferreira, econo­mista e sócio-diretor da Pluri Consultoria.

"Enquanto as federações permanecem em um estado de inércia, não buscam uma saída para aumentar a receita dos clubes, o mercado vai se ajustando pela dor. Clubes pequenos vão se desfiliando e fechando as portas, clubes grandes vão dando menos importância aos estaduais", diz ele.

"É o que Atlético e Grê­­mio estão fazendo. A ruptura do modelo dos estaduais é iminente", reforça Ferreira. Mesmo diante dos maiores rivais, tanto o Rubro-Negro quanto o time gaúcho desprezaram os clássicos do último domingo. O Furação sub-23 perdeu por 2 a 1 para o Coritiba, mesmo placar da vitória Colorada contra os reservas gremistas.

"O que o Grêmio fez domingo é simbólico. Não quis saber do Grenal porque é Estadual, prefere treinar para um jogo da Libertadores de daqui a duas semanas. E o Rio Grande do Sul é o último lugar onde você ia imaginar uma coisa dessas", analisou o economista.

Com menos estrelas nos campos regionais, mais difícil de vender os campeona­tos aos patrocinadores. Sem dinheiro, as equipes grandes sofrem e as menores agonizam. "Nos dois últimos anos, fizemos um bom dinheiro com a venda das placas [de publicidade nos estádios]. Mas a tevê só funciona com os grandes e a saída do Atlético tirou nosso poder de fogo", justificou o presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Hélio Cury.

A falta de apelo se refle­te nas arquibancadas. "Esta­mos nos acostumando a um nível de mediocridade. Vão quatro mil pessoas a um Vas­­co x Duque de Caxias e a gen­­te acha bom, enquanto o Bradford, da Quarta Divisão inglesa, põe 11 mil pessoas por jogo", ressalta o consultor da Pluri.

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