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Jogador ainda luta para voltar a atuar pela Chape. | /Lara Mota
Jogador ainda luta para voltar a atuar pela Chape.| Foto: /Lara Mota

Na próxima semana, a Chapecoense cumpre mais uma fase das homenagens que tem recebido e viaja à Itália, onde vai participar de um amistoso contra a Roma para angariar fundos. Na delegação, estarão três sobreviventes da tragédia aérea que aconteceu na Colômbia no fim do ano passado: Alan Ruschel, Jakson Follman e Neto.

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O zagueiro foi o primeiro a voltar ao clube, cerca de 40 dias após o acidente e, desde então, tem dividido a rotina entre homenagens, treinos e a luta para voltar aos gramados. Neto também encontrou tempo nos últimos meses para reunir as histórias vividas por ele e por pessoas próximas na Colômbia desde que foi resgatado dos escombros da aeronave da Lamia.

Histórias que agora viraram um livro. ”Posso crer no amanhã” vendeu antecipadamente cinco mil exemplares e será lançado oficialmente na próxima Bienal do Livro, entre os dias 30 de agosto e 10 de setembro no Rio de Janeiro. Antes disso e às vésperas da viagem à Roma, Neto conversou com exclusividade com a Gazeta do Povo. Confira:

Gazeta do Povo: Como surgiu a ideia do livro?

Neto: A editora entrou em contato comigo pra que eu contasse a minha história e a história da minha fé, mas eu nunca imaginei isso. Meu irmão até me disse que minha vida daria um filme, mas eu nunca me preocupei com isso, sempre me preocupei mais em ficar bem, em estar perto da minha família, em fazer o que eu sempre fiz que é jogar futebol. A editora acabou optando em colocar no livro a minha história de vida, a superação até ser jogador profissional e não se resume ao acidente. Claro que o acidente é uma parcela grande, porque isso eu vou carregar eternamente, mas tem outras coisas. Engloba tudo o que aconteceu até eu chegar a ser um sobrevivente daquela tragédia.

Tem coisas que você ainda não tinha falado em entrevistas e que as pessoas vão descobrir lendo o livro?

Com o tempo a gente vai lembrando de tudo. Eu não lembrava de nada no início. Tem muitas coisas que eu não falei nas entrevistas. Mas o interessante é que não é apenas um relato meu. Outras pessoas participam. Minha esposa por exemplo, Simone, se resguardou bastante e quase não falou com a imprensa, agora ela fala. Tem relatos dela, do meu irmão mais velho que esteve na Colômbia, dos médicos, do pastor que esteve lá. Vai ser muito bacana o livro pra quem ler porque vai ver o acidente não só do ponto de vista do Neto, mas do ponto de vista de outras pessoas que participaram estando próximos. E sozinho a gente não é nada! Fui ajudado por muitas pessoas, até mesmo em oração.

Sua fé aumentou depois de tudo isso?

Aumentar não aumentou, mas confirmou tudo aquilo que eu penso. A Bíblia dá vários indícios de que a vida é passageira, uma neblina, que a gente é um sopro. E também dá vários indícios de que isso aqui não é o fim, isso é o início e que tem algo muito melhor preparado. Deus existe e a vida é passageira e curta, então a gente tem que aproveitar ao máximo aqui, com muito amor, com muito carinho junto dos nossos familiares porque o amanhã a Deus pertence e nem sempre amanhã as pessoas que a gente ama estarão ao nosso lado.

Você se considera um milagre? 

Eu não gosto de falar que eu sou um milagre, eu gosto de falar que o Deus que eu creio faz milagres. É Ele que tem o controle de toda a situação. Infelizmente muitos se foram e eu não posso me sentir mais especial do que eles. Eles certamente estão lá do lado d’Ele. 

Como tem sido esse processo de recuperação? 

Eu já tive momentos bons e momentos ruins. Eu não conseguia dormir à noite. E eu vim para o clube muito cedo e tive que lidar com pessoas diferentes, um ambiente diferente, e era muito difícil acreditar que ninguém mais viria daqueles que se foram. Foram momentos muito duros, mas foram momentos de aprendizado também. O que está na Bíblia acontece, a vida é um sopro. A gente tem que viver como se hoje fosse o dia mais importante, porque a gente está vivo hoje. Sofri muito no início e sofro ainda às vezes com a saudade de tudo o que eu vivi aqui, mas a gente tem que se acostumar com essa vida nova, que virou nosso mundo de ponta cabeça. Sempre que as pessoas vêm tirar fotos comigo eu dou atenção e carinho porque são pessoas que muitas vezes oraram por mim sem me conhecer. Sou muito grato a tudo e a todos.

Como você está hoje e quais são seus planos para o futuro?

Eu quero voltar a jogar, mas está dando trabalho! (risos) Eu ainda tenho que fazer outra cirurgia, porque rompi o ligamento do joelho direito. Tentei voltar sem operar, cheguei a correr e bater na bola, mas não tinha condições porque a dor era muito grande. Espero que depois dessa cirurgia eu volte, mas não tenho interesse de voltar a jogar por voltar, quero voltar a ser o Neto, como sempre foi. Quero vestir essa camisa para fazer bem feito como eu sempre fiz aqui. Se Deus quiser, vou ficar com o nome na história.

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