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Reação

Passa pelos corredores da Fifa e do Congresso Nacional o contra-ataque ao desequilíbrio na relação entre clubes e jogadores provocado pela Lei Pelé. Em 2011, entrou em vigor uma série de emendas ao texto original da Lei 9.615/98. As principais modificações foram a regulamentação do direito de preferência na renovação do primeiro contrato profissional e na definição de regras para compensar os clubes pela formação de atletas.

"As modificações visaram a reequilibrar a relação com agentes e atletas, de forma que se trouxe uma proteção mais adequada aos contratos", diz o advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito esportivo.

Dilma Rousseff regulamenta a Lei Pelé

O Diário Oficial da União publicou, ontem, o Decreto 7.984, assinado pela presidente Dilma Rousseff, que regulamenta pontos da Lei Pelé. As mudanças extrapolam o futebol e afetam o esporte olímpico. Três seções inteiras da lei passam a regulamentar o repasse de recursos públicos para entidades esportivas. Os beneficiários precisam estar em dia com suas obrigações com a União, estabelecer um plano de trabalho para os investimentos e se submetem às mesmas normas da administração pública. Os Comitês olímpico e paralímpico terão de elaborar procedimentos para descentralização dos recursos públicos. Os dois comitês, além das entidades nacionais de desporto, terão, também, de firmar um contrato de desempenho, parâmetro para a aplicação dos recursos.

A regulamentação também estipula obrigações para a formação de atletas. Entre elas, o acompanhamento de nutricionista e fisioterapeuta, alojamentos adequados, seguro de vida e acidentes e cobrança de rendimento escolar.

Já pacificada na Justiça Tra­­balhista, a caracterização do direito de imagem como salário também passa a constar da lei. Fica definido ainda que o repasse do direito de arena (5% dos direitos de transmissão) seja feito a sindicatos nacionais dos atletas.

Por que dividir o lucro? Quando se tem um boleiro promissor dentro de casa, a pergunta se torna inevitável. E muitos pais vão atrás da resposta com a intenção de escapar de agentes, empresários ou dirigentes oportunistas. Vale a pena. Mas há um risco: nem todo filho é um Neymar

A cena se repete antes de cada jogo, a poucos minutos de a bola rolar. Pai e filho ajoelham e rezam juntos no vestiário. Enquanto o jovem termina de ajeitar seu uniforme, ouve um misto de orientação com carga motivacional, uma mescla de objetivos a serem cumpridos com a lembrança de que jogar bola é algo natural para ele. No fim do jogo, seja qual for o resultado, lá está o pai à espera do filho, com a análise de seu desempenho – dura como a de um técnico exigente e ao mesmo tempo com a ternura paterna.

A cena descrita acima, comum em muitos campinhos de pelada e jogos de categorias de base, é protagonizada pelo mais importante jogador brasileiro da atualidade. Não tem jogo do Santos ou da seleção brasileira que Neymar entre para disputar sem ouvir atentamente as instruções de Neymar Silva Santos. Seu pai. E seu empresário.

Por se tratar da maior estrela dos gramados brasileiros, a atuação de Seu Neymar na gerência da carreira do filho chama mais atenção, porém está longe de ser exceção. Após passarem a primeira década da Lei Pelé assistindo à livre atuação dos empresários, que praticamente tomaram para si a vida de seus herdeiros, as famílias decidiram contra-atacar. Pais, irmãos e tios entraram firme no jogo do futebol brasileiro, relegando os agentes apenas à obrigatória participação nas transferências.

O caso de Neymar é emblemático. Seu Neymar dirige, desde 2006, a NR Sports, grupo de empresas que gerencia os negócios do filho. São cinco subempresas: NR Sports (gerencia a imagem do jogador), NN Participações (cuida dos investimentos imobiliários de Neymar), Nstore (comércio eletrônico de produtos com a marca Neymar), NN Administração (gestão financeira) e Instituto Projeto Neymar Jr. (formação de atletas).

Uma empresa que administrou, em 2012, um faturamento de 20 milhões de euros, que faz do atacante o quinto jogador mais bem pago do mundo, segundo levantamento da revista France Football. Seu Neymar está à frente de todas as decisões, mas não necessariamente sozinho. O Santos criou uma estrutura específica para cuidar da imagem do atleta. A 9ine, agência de Ronaldo, atua na captação de patrocínio. Há um advogado entre os 25 funcionários da NR para cuidar das questões legais.

"O Neymar pai é um dos melhores exemplos de como um pai pode gerenciar a carreira do filho. Tem de ser profissional e ele é 24 horas por dia, cobra metas. Fazer por fazer está errado", diz o empresário Marcos Malaquias, que, embora não admita, é um dos operadores da negociação de Neymar com o Barcelona.

Wagner Ribeiro também está nesse negócio. É o agente Fifa de Neymar, peça indispensável para a realização da transferência. A atuação direta de Neymar pai limitou os poderes de Ribeiro na condução da carreira do jogador que, por pouco, ele não emplacou no Real Madrid – Neymar tinha apenas 14 anos.

"Perder" um jogador para o pai não é novidade na carreira de Ribeiro. Kaká e Robinho também romperam com o empresário para ter sua carreira gerenciada dentro de casa. O distrato com o meia do Real Madrid foi mais traumático. O pai dele, Bosco Leite, considerou que o agente não dedicava a atenção necessária ao seu filho e assumiu ele mesmo o negócio. No caso do atacante milanista, a separação ocorreu por motivo pessoal. Robinho chegou a trabalhar com um amigo, teve problemas em alguns negócios e acabou recorrendo a seu pai, Gilvan de Souza.

No caso de atletas top como Neymar, Kaká e Robinho, a relação dos pais-empresários com clubes e investidores acabam, de um jeito ou de outro, fluindo. Na pior das hipóteses, o lucro garantido pelo jogador apara qualquer aresta. O problema é quando o talento não é o imaginado em casa.

"Cada família acha que tem um Neymar em casa. Às vezes demora um pouco para sentir que a realidade é diferente", diz Guilherme Miranda, diretor-executivo do Grupo DIS, responsável por captar talentos para empresa e, quando é o caso, avisar às famílias que elas não têm um Neymar em casa.

Para os clubes, a entrada em campo dos pais significa mais uma ponta para ser atendida na hora de uma negociação. "É uma batalha diária sentar com até cinco pessoas para renovar um contrato. O direito federativo é sempre 100% do clube, mas os direitos econômicos são partilhados por diversos donos. É uma equação complexa", resume Felipe Ximenes, superintendente de futebol do Coritiba.

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