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O zelador Cidão sofre para manter em ordem o Comendador Meneghel, estádio que padece com o vandalismo e a falta de futebol | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
O zelador Cidão sofre para manter em ordem o Comendador Meneghel, estádio que padece com o vandalismo e a falta de futebol| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Entrevista

"Se tivesse bastante dinheiro, tocava o União por mais cinco anos"

Serafim Meneghel, dono do União Bandeirante

Leia entrevista completa.

O refúgio de um campeão

Nilton De Sordi, o lateral-direito na primeira Copa do Mundo vencida pelo país

Leia entrevista completa.

R$ 3,7 bilhões

O Produto Interno Bruto (PIB) do Norte Pioneiro corresponde a apenas 3% do total do estado. A região é a terceira mais pobre do Paraná, em um total de dez mesorregiões.

12 equipes

Em 1962, o Norte Pioneiro teve sua maior participação no Campeonato Paranaense. O Comercial, de Cornélio Procópio, superou Operário e Esportiva de Jacarezinho no triangular final para levar o único troféu da região.

Sete anos

O União Bandeirante, em 2006, foi o único time do Norte Pioneiro na primeira divisão estadual. Neste ano, a região não tem clubes nas duas principais séries e dificilmente colocará alguém na Terceirona.

  • As duas imagens de Nossa Senhora são dos poucos objetos ainda inteiros no vestiário do Comendador Meneghel.
  • A única atividade fixa no Comendador Meneghel é a borracharia anexa ao estádio.
  • Vidros quebrados acima da bilheteria são os primeiros sinais de depredação do estádio.
  • Aparecido Domingos de Oliveira, o Cidão, é o responsável por cuidar do estádio. A cobertura arrancada por uma tempestade, há dois anos, ainda não foi reposta.
  • A bola, as duas santas e o par de chuteiras são alguns raros vestígios de uso do vestiário.
  • Vista geral do estádio mostra o gramado alto, a cobertura destelhada e alguns dos refletores, que não funcionam porque a fiação foi roubada.
  • Betão (esq.) sucedeu Pescuma na zaga do União, nos anos 70, e mais tarde voltou para trabalhar na comissão técnica; Nardo foi vice-campeão estadual em 1989 (goleiro) e 92 (preparador de goleiros): personagens de um União que não existe mais.

"O futebol daqui está morto." As duras palavras saem com naturalidade da boca que mais deu ordens nos gramados da região. Serafim Meneghel comandou o União Bandeirante por quatro décadas. Hoje, é testemunha de um futebol que não existe mais. Casa de equipes que, por meio século, desafiaram os grandes do estado, o Norte Pioneiro tornou-se um cemitério de clubes. Uma a uma, as forças da região foram fechando as portas. Algumas tentaram voltar em versões genéricas, enfraquecidas e de curta duração.

FOTOS: Veja O abandono do Estádio Comendador Luiz Meneghel

VÍDEO: Serafim Meneghel conta histórias e lendas do União Bandeirante

A última incursão no profissionalismo resume bem a situação. Com um histórico rico no amador, o União Nova Fátima, instigado por empresários paulistas, inscreveu-se na Terceirona do ano passado. Sem estádio e sem dinheiro, desistiu no meio da competição. Fora da elite desde 2007, o Norte Pioneiro não deve ter representante também nas duas divisões de acesso do estado este ano. Ausência registrada anteriormente apenas em 1955, 1957 e 2007.

Penúria no futebol que reflete a pobreza dos municípios. Entre as dez mesor­­regiões do Paraná, o Norte Pio­­neiro é a terceira mais pobre, segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econô­­mico e Social (Ipardes), com base no Censo de 2010. Responsável por 3% do PIB pa­­ranaense, vive na contra­­mão do estado: é mais agrícola (22% do PIB) e menos industrializada (18%) que a média geral, de 7% e 28%, respectivamente.

Espelho da economia na pobreza e na riqueza. Os períodos de prosperidade, quase sempre puxados pelo café, enchiam de dinheiro o bolso dos fazendeiros e os estádios de torcedores e bons times. O primeiro clube a se aventurar no profissionalismo foi a Esportiva de Jacarezinho, em 1950. Na época, a cidade era o centro da produção cafeeira da região, sede de grandes fazendas com populosas vilas de colonos, ainda guardando resquícios da escravidão.

"O período entre o fim da Segunda Guerra e meados dos anos 60 é o auge do café na região. Os fazendeiros investiam na montagem de times como lazer. Contratavam, pagavam salário, davam bicho em mantimentos e pequenos objetos de luxo. Foi a lógica do futebol em todo o Norte até os anos 70", conta o professor de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Rogério Ivano.

As duas décadas áureas do café são também o período mais glorioso do futebol do Norte Pioneiro. O ápice é em 1962, ano em que 12 equipes da região se inscrevem no Campeonato Paranaense. Duas – Comercial, de Cor­­nélio Procópio, e Esportiva – chegam ao triangular final, contra o Operário. O Comercial leva pela primeira e única vez o título para esta parte do estadol.

Além da prosperidade eco­­nô­­mica, o formato do Es­­­­­tadual estimulava a parti­­ci­­pação de equipes. O torneio era dividido em regiões. Havia um grupo só do Norte Pioneiro. Com acesso difícil a Curitiba – apenas parte da estrada era asfaltada –, os times recorriam a São Paulo e Minas Gerais para buscar jogadores. "Eu rodava o interior de São Paulo atrás de jogador e todos eles já tinham ouvido falar da Esportiva", orgulha-se Pedro Chueire, 87 anos, diretor de futebol durante toda a existência do time de Jacarezinho. Potências nacionais como Palmeiras, São Paulo, Santos, Corinthians e Flamengo rodavam os mu­­nicípios em concorridos amistosos.

O declínio começou na segunda metade dos anos 60. A unificação do Estadual encareceu o futebol e a queda do café tornou o dinheiro mais escasso. A geada de 1975 foi o golpe final. "O excesso de produção tornava o plantio menos vantajoso, havia muita concentração de terra e os cafezais já estavam velhos. A grande geada foi o cataclisma, jogou a pá de cal no café", explica Ivano.

Sobreviveram apenas dois times de dono: o União Ban­­­­­­deirante, da família Meneghel, dona de usina e fazendas de cana de açúcar, e o Matsubara, dos Matsubara, barões do algodão. O clássico do Algodão Doce mantém o futebol vivo e forte no Norte Pioneiro entre os anos 70 e 90, um duopólio quebrado apenas pela Platinense, entre 1985 e 89.

A exemplo do que aconteceu com o café, o cultivo de algodão minguou no estado. A família Matsubara perdeu dinheiro e poder de investimento no time. A usina Meneghel retirou o apoio ao União em 2004. Em um futebol mais caro, dominado por empresários, os clubes resistiram pouco pelas próprias pernas.

"As mudanças na economia e no futebol prejudicaram a região. Hoje o futebol vive de marketing, e quem vai investir em uma região onde não se tem retorno de mídia nem massa crítica?", constata Norio Matsubara, filho de Sueo e herdeiro do clube de Cambará. Herdeiro de um futebol que não existe mais.O abandono do Estádio Comendador Meneghel

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Esportes | 14:12

Tiro na bola, invasões de campo, jogadores folclóricos... Cinco vezes vice-campeão estadual, o União Bandeirante tem uma das histórias mais ricas do futebol paranaense, protagonizadas pelo seu fundador e dono.

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