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| Foto: Andrew Testa/NYT

À primeira vista, a linha lateral de onde joga o United London FC contém exatamente o que se esperaria de uma partida de futebol de nível amador em um campo alugado na capital da Inglaterra: garrafas de água, várias bolas, reservas no aquecimento, uma torcida que o presidente do clube, Mark North, descreve como “um homem e seu cão”. O que chama mais a atenção é o que está faltando: um técnico.

No United London FC, a posição do treinador tradicional é desnecessária. Em seu lugar, a equipe é escalada pelos torcedores do time toda semana.

Formado este ano e atualmente jogando na Primeira Liga da Essex Alliance – a 12ª divisão do futebol competitivo da Inglaterra – o United London FC afirma ser o único time sem técnico do mundo. No lugar de um treinador tradicional, seu modelo de negócio reúne elementos de votações de reality TV e dados de jogadores semelhantes aos usados em videogames e por olheiros. Emprega um sistema no estilo futebol fantasia, que premia ou tira pontos dos torcedores da equipe (agindo individualmente como técnicos) com base em sua escalação dos 11 jogadores que entram em campo, que marcam gol ou fazem assistência, ou que impedem que o adversário marque pontos.

Bastidor

Josh Rogers conversa com o elenco no vestiário, antes de uma partida da equipe.Andrew Testa/NYT

“No futebol fora da Liga, não há muito espectador, porque a Premier League toma conta de tudo. É aí que queremos ser diferentes, porque estamos construindo uma torcida on-line, não de uma localidade”, disse North, 38 anos. Até hoje, mais de duas mil pessoas se inscreveram no clube, que jogou sua primeira partida competitiva no início de setembro. A equipe diz ter torcedores na Austrália, Argentina, Brasil, Canadá, Suécia e Estados Unidos.

Cada semana, os torcedores votam na escalação do United London, analisando as estatísticas de jogadores, checando relatórios e vídeos de jogos das semanas anteriores publicados on-line pelo clube. Após o término da votação na sexta-feira, a equipe de sábado é anunciada. “Acho que é legal, porque mantém a torcida envolvida. Os torcedores têm mais influência do que, digamos, no Real Madrid. O Zidane não vai te perguntar se o Ronaldo deve começar jogando ou não”, disse John Frusciante, 19 anos, de Aberdeen, Nova Jersey, que se inscreveu recentemente.

North disse que a ideia para a equipe lhe ocorreu no ano passado, enquanto ele e a esposa assistiam tevê, em um sábado à noite. Cansado de programas de dança de salão e concursos de cantores, North, que trabalhava com recrutamento financeiro na época, começou a conceber formas de aplicar o modelo de voto dos reality shows ao futebol.

Como para os participantes desses programas, cada votação semanal é importante para os jogadores do United London. Enquanto tentava encontrar integrantes para um time de base, North percebeu que tinha acesso a um grande número deles assim que eram preteridos pelos clubes profissionais ingleses a cada temporada.

Segunda chance

Após esse corte anual altamente competitivo, muitos jogadores abandonam suas esperanças de jogar futebol profissional por volta dos 18 anos de idade. O United London, então, se apresenta como uma segunda chance para eles, tanto que o distintivo do clube traz uma fênix ressurgindo das chamas.

Dureza

Jogadores ajudam a colocar a rede no gol para partida do United London FC: vida dura em busca de uma chance no futebol.Andrew Testa/NYT

“Um monte de jogadores, quando chegam aos 18, 19, 20 anos, não têm currículo”, disse Jon Willis, o chefe de recrutamento no Centro de Carreiras Futebolísticas, organização que ajuda a colocar os atletas em novos clubes, e que ajudou a organizar os testes do United London FC. Willis disse que o United London permitia que os jogadores redefinissem sua carreira, ou tentassem chamar a atenção de um novo clube. “O programa é interessante porque todos os jogos são gravados. Vai colocar os jogadores na vitrine”, disse Willis.

Agora, o United London FC criou uma equipe diversificada, com jogadores que buscam uma segunda, terceira e até mesmo quarta chance, entre eles um jovem turco; o rapaz que, segundo o clube, foi o quarto mais rápido do Reino Unido no ano passado; o sobrinho de um atacante estrangeiro que joga na Inglaterra.

“Agora não estou pensando muito sobre isso. Se está jogando, sabe que é por causa de pessoas como você, do jeito que joga e do que pode acrescentar ao time”, disse Georges Kekota, que já jogou na terceira divisão do futebol belga, sobre o poder de escolha ou de corte da torcida. Com 26 anos, ele é um dos mais velhos membros da equipe.

Intervalo de jogo e os jogadores do United London FC descansam no campo mesmo.Andrew Testa/NYT

Por enquanto, os torcedores do United London podem influenciar a escalação da equipe apenas antes dos jogos. Em um site de aparência simples – North admitiu que enfrentou problemas com isso –, os torcedores encontram uma escalação sem jogadores, que eles podem preencher selecionando nomes de menus drop-down abaixo de cada posição. Clicar na estrela acima do nome de um jogador indica que ele foi escolhido para ser o capitão, dando ao “técnico” o dobro de pontos, caso ele tenha um bom desempenho. Conforme a tecnologia for melhorando, disse North, o clube gostaria de permitir que a torcida decidisse também sobre as substituições e outras questões. Por enquanto, essas e os treinos ficam a cargo de membros da equipe do United London.

North não revelou quantos desses mais de dois mil técnicos torcedores são usuários ativos. A razão, disse ele, é que essa informação poderia permitir que ele e sua equipe manipulassem a votação para beneficiar seus jogadores preferidos.

No entanto, brincou dizendo que os resultados até agora haviam mostrado que, de qualquer maneira, ele talvez não fosse a melhor pessoa para fazer essas escolhas. Seu papel no clube inclui a tarefa de montar as redes antes dos jogos, mas ele também se reúne todos os domingos para contar cada passe, drible e chute da partida do dia anterior, para que os torcedores tenham as informações necessárias para votar na semana seguinte. Porém, isso não lhe dá a vantagem de ser “de casa” quando faz sua própria escalação.

“Fui apenas o sétimo colocado – um sueco ficou no topo do ranking. E olha que eu conheço todos eles!”

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