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| Foto: ALBARI ROSA/ALBARI ROSA

Nos últimos meses, o esporte mundial foi tomado por diversas denúncias de assédio, exploração e abuso sexual, ainda mais depois de casos de repercussão internacional, como das ginastas nos Estados Unidos e de jogadores na Inglaterra. No Brasil, atletas de grandes clubes de futebol entraram numa campanha do Sindicato de Atletas de São Paulo para tratar de um tema que é considerado tabu no meio.

Diego Lugano, Rodrigo Caio, Giovanni (ex-Santos), Julio Cesar (goleiro do Red Bull Brasil), Leandrão (Boavista), Danilo Fernandes, Felipe (zagueiro do Porto), Souza (ex-Flamengo), Cicinho, Edu Dracena e Moisés, entre outros, gravaram vídeos e mensagens para chamar a atenção para o assunto. “A ideia foi chamar jogadores de destaque, que são ouvidos pelo grande público e são formadores de opinião”, explicou Alexandre Montrimas, ex-goleiro e que já passou por situações delicadas em sua carreira.

“Eu sofri essa tentativa de abuso durante muitos anos, mas sempre entendi o que era isso, pois tinha meus pais perto de mim. Em 10 dos meus 20 anos de carreira, entre categoria de base e clubes pequenos, eu fui assediado. Justamente em um período em que eu me encontrava vulnerável”, disse.

Agora, Montrimas dá palestras para crianças e adolescentes dos clubes em todo do Brasil para alertar sobre esse perigo. “O assédio vem em forma de convite, de abuso psicológico. Explico aos jovens o que é assédio e o que fazer para evitar e como denunciar. Após as palestras, às vezes eu tenho relatos de abusos sexuais, não no clube, mas de um amigo de alguém. Eles se identificam com isso, pois acaba criando uma ligação de confiança.”

As palestras são de prevenção. Quando o público é formado por crianças dos times sub-10 e sub-13, Montrimas pede também a presença dos pais, que muitas vezes precisam ser alertados sobre os perigos que rondam seus filhos. “Aos poucos, os assistentes sociais foram entendendo o projeto. Hoje tenho o apoio de todos eles”, comentou o ex-jogador, ciente de que a quantidade de assistentes sociais nos clubes brasileiros - 45 no total em todo País - é muito pequena.

O início do trabalho foi no ano passado. Segundo o presidente do sindicato, Rinaldo Martorelli, em torno de 1.500 jovens já foram atendidos pelas palestras. “O que a gente percebe é que a ‘autoridade’ do assediador acaba intimidando o assediado, ou às vezes a fragilidade, inclusive financeira, do assediado leva a esse tipo de situação. A ‘autoridade’ do treinador, do preparador, do agente. Muitas vezes o menino nem entende que é assédio”, afirmou.

Tanto Martorelli quanto Montrimas lembram que esse tipo de campanha pode ajudar a prevenir situações como a que ocorreu na ginástica dos Estados Unidos, quando o médico Larry Nassar abusou de 156 mulheres e foi condenado a 175 anos de prisão. Na segunda-feira, o ex-treinador inglês Barry Bennell foi condenado a 30 anos de prisão por abusar de 12 crianças de 8 a 15 anos em um time que está atualmente na quarta divisão inglesa.

“Se tivesse tido campanha explicando o que é abuso, até para os pais, talvez esses episódios tristes não tivessem acontecido. Futebol é um esporte de massa e os alvos ficam fáceis para esses predadores. Queremos chamar atenção para o assunto”, concluiu Montrimas.

Deputados cobram ação da CBF para evitar casos de abuso

Na capital federal, o clima é de cobrança em relação à atuação da CBF para evitar casos de abuso sexual de jovens atletas no País. Integrantes da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados dizem que a entidade não cumpre um pacto firmado após a CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em 2014.

Na época, quando o Brasil ainda se preparava para receber a Copa do Mundo e a Olimpíada do Rio, dois anos depois, os deputados sugeriram à confederação ações como a promoção de campanhas de prevenção dos crimes; qualificação de profissionais para atuação preventiva junto às crianças; uso da ouvidoria da CBF para recebimento de denúncias; e fiscalização nas escolas de formação de atletas.

Na última audiência pública realizada sobre casos de exploração sexual no futebol, em agosto do ano passado, deputados reconheceram que a CBF apoiou campanhas educativas e promoveu cursos de qualificação para profissionais, mas sem foco específico em abusos sexuais. “A CBF cumpriu parcialmente apenas duas ações das dez previstas no pacto”, afirmou a deputada Érika Kokay. “Não podemos permitir esse desrespeito ao Parlamento e às crianças e adolescentes.”

O tema também foi abordado na CPI de Tráfico de Pessoas, em que os deputados pediram que a entidade desenvolvesse medidas preventivas para inibir a ação de exploradores que agem como falsos olheiros, prometendo sucesso profissional e riqueza na carreira para jovens jogadores. “Muitos jovens são capturados por essa ideia sedutora da fama, do sucesso, da riqueza fácil, do glamour que geralmente ronda a imagem desses jogadores profissionais bem sucedidos no futebol brasileiro”, afirma o deputado Arnaldo Jordy. “Há necessidade da criação de mecanismos para que olheiros e escolinhas de futebol, muitas sem o registro de pessoa jurídica, não atuem de forma irregular.”

O Estado entrou em contato com a CBF, mas não obteve retorno até o fechamento da edição. A reportagem apurou que a entidade discute internamente a criação de ações preventivas sobre o tema e estuda formas de aproximação com os clubes de futebol do País.

Em entrevista à Rádio Câmara após a audiência pública de agosto de 2017, o secretário-geral da CBF, Walter Feldmann, disse estranhar as queixas dos parlamentares. “Vejo com estranheza, já que fizemos um extenso relatório apresentado à Comissão de Direitos Humanos e Minorias e acredito, inclusive, que extrapolamos o que foi acordado”, afirmou.

Feldmann se colocou à disposição para esclarecimentos à Câmara e citou a criação de programas e campanhas contra o abuso de crianças e adolescentes desenvolvidas junto as clubes e as escolinhas de futebol e disse que a entidade trata o assunto como prioridade. “Estamos dando um tratamento prioritário a esta questão.”

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