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Novamente no pódio com a medalha de prata no peito, a seleção feminina repete o desfecho da Olimpíada de Atenas e da Copa do Mundo da China. | Rodolfo Buhrer/Gazeta do Povo
Novamente no pódio com a medalha de prata no peito, a seleção feminina repete o desfecho da Olimpíada de Atenas e da Copa do Mundo da China.| Foto: Rodolfo Buhrer/Gazeta do Povo
  • Após a derrota, as jogadoras da seleção brasileira desabaram no gramado do Estádio dos Trabalhadores

Cristiane passa pelos jornalistas chorando e com dificuldades de andar por causa de uma pancada recebida na perna direita. Pede para não dar entrevistas. O pandeiro que daria o tom da comemoração pela conquista da inédita medalha de ouro olímpica repousa silencioso debaixo de um dos braços da atacante.

O Brasil, repetindo o triste enredo de quatro anos atrás, em Atenas, pára nos Estados Unidos e não sai do segundo lugar. Prata com o gosto amargo de quem dominou o adversário por boa parte dos 120 minutos de jogo (contando tempo normal e prorrogação), mas saiu derrotado. Um a zero, gol de Carli Lloyd, aos 6 minutos do tempo extra.

O choro de Cristiane tem um significado muito maior do que simplesmente um revés esportivo. É o fim da esperança de ver o futebol feminino valorizado no Brasil.

"Mais uma final e não ganhamos nada. No nosso país a prata significa derrota. Se quiséssemos ser ouvidas, precisaríamos vencer", afirmou a volante Renata Costa, paranaense de Assaí, que sonhava em desfilar pelas ruas da pequena cidade no caminhão do Corpo de Bombeiros, com a premiação dourada reluzindo no peito. "Acabou", resumiu.

O drama faz todo o sentido. Não é fácil para uma mulher ganhar a vida como jogadora de futebol no Brasil. Além do preconceito, escancarado nos olhares de reprovação, as atletas jogam muitas vezes por uma simples ajuda de custo, valor infinitamente inferior ao salário mínino. Isso quando já integram o topo da pirâmide, uma elite que dá para contar nos dedos. Na categoria de base, quando muito, recebem um vale-transporte para ir e outro para voltar.

Era esse tipo de problema que elas esperavam ver resolvido com a valorização que um título em Pequim representaria. Acreditavam até que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ajudaria a diminuir o abismo que separa mulheres e homens no futebol nacional. Sonhavam alto, com a possibilidade da criação de um campeonato decente, nos moldes do Brasileirão. Algo bem diferente da apagada Copa do Brasil, disputada pela primeira vez no ano passado.

"Aprendi com tudo o que já tive de enfrentar a lutar, lutar e lutar. Sou uma sofredora que gosta de lutar. Só assim para jogar bola no Brasil", disse a pernambucana Bárbara, goleira do Sport Recife, que barrou a paranaense Andréia Suntaque durante a competição. "É difícil saber que a gente brigou tanto, mas os Estados Unidos é que foram campeões. Infelizmente, nem sempre o melhor vence", acrescentou, entregando a consternação.

Esquecido no banco de trás do ônibus que levou a delegação de volta à Vila Olímpica, o pandeiro permaneceu calado. Atravessou o samba da seleção brasileira feminina de futebol.

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