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Militares deslocados para a segurança dos Jogos na Praia do Flamengo, um dos pontos turísticos do Rio de janeiro | CHRISTOPHE SIMON/AFP
Militares deslocados para a segurança dos Jogos na Praia do Flamengo, um dos pontos turísticos do Rio de janeiro| Foto: CHRISTOPHE SIMON/AFP

Aqui no Brasil, não é incomum ouvir gritos horripilantes no aeroporto; normalmente, eles são apenas os sons de adolescentes brincando de perseguir uns aos outros pelos terminais. Também não é incomum observar malas de viagem paradas junto aos portões de embarque, deixadas por viajantes que deram uma volta para comprar um café.

De muitas maneiras, os brasileiros vivem em um mundo pré-11 de Setembro. Embora estejam acostumados com criminosos e policiais fortemente armados em suas cidades, em grande parte eles não estão familiarizados com o terrorismo internacional.

No entanto, somente neste mês de julho, com a iminência dos Jogos Olímpicos, uma série de incidentes chamaram a atenção até mesmo dos mais anestesiados pela violência. No dia 15 de julho, autoridades brasileiras deportaram um professor de física franco-argelino que, em 2012, havia sido condenado na França por fornecer conselhos logísticos para terroristas.

Dois dias depois, um grupo brasileiro jurou fidelidade ao Estado Islâmico pelo aplicativo de mensagens Telegram. E, nos últimos dias, uma dúzia de simpatizantes do Estado Islâmico foi presa após ter supostamente discutido um possível ataque aos Jogos, que começam no dia 5 de agosto.

O maior país da América do Sul não tem tido praticamente nenhuma experiência com os tipos de ataques com que islâmicos extremistas têm chacoalhado cidades da Europa e dos Estados Unidos. Muitas pessoas tratam a ameaça de terror de maneira despreocupada. Para as celebrações do carnaval, em fevereiro, talvez elas se vistam com fantasias de Osama Bin Laden e façam piadas mordazes sobre bombardeios.

Mas a realidade já começou a bater.

Em uma conferência de imprensa na semana passada, o secretário de segurança do estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, contou aos repórteres que um centro antiterrorista estava funcionando em Brasília com cinquenta policiais.

Também disse que planeja enviar pelo menos 80 mil oficiais de segurança para as ruas do Rio durante os Jogos, número que representa o dobro do utilizado em Londres, em 2012. “Estamos preparados, os planos foram finalizados”, adicionou Beltrame.

Quando perguntado se estava preocupado com a possibilidade de um ataque terrorista durante os Jogos, que devem atrair cerca de 500 mil visitantes, Beltrame respondeu: “Claro que estamos preocupados. Mas o Brasil é um país com baixo nível de ameaça”.

De fato, o Brasil assume posições muito baixas em avaliações como a da Global Terrorism Index, publicadas pelo Instituto para a Economia e Paz, com base em Nova York. Em sua lista de países afetados pelo terrorismo, os Estados Unidos estão na 35.ª posição, enquanto o Brasil está na 74.ª.

Mesmo assim, este país não está livre de possíveis ameaças. O ministro da Justiça anunciou na semana passada uma operação contra uma série de homens que supostamente conversaram sobre treinar artes marciais e comprar armas de fogo para um possível ataque aos Jogos. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, os descreveu como “amadores” que expressaram apoio ao Estado Islâmico, mas que nunca tiveram treinamento com o grupo no Iraque ou na Síria.

Exercícios

Em resposta à ameaça de terror, autoridades conduziram exercícios de segurança e apresentaram alguns procedimentos novos. Em um sábado recente, uma estação subterrânea de metrô no Rio — a parada que os fãs utilizarão para comparecer aos eventos de basquete e ciclismo — foi fechada para que a polícia pudesse realizar um exercício de treinamento.

Alguns dias depois, viajantes brasileiros aterrissaram nos aeroportos do Rio para encontrar grandes filas e confusão, enquanto as autoridades introduziam revistas de segurança mais rigorosas, que anteriormente eram necessárias apenas para voos internacionais.

Na semana passada, o governo lançou uma campanha equivalente à norte-americana “Se você vê algo, diga algo”. Seu mantra é “Fica Ligado”. Os cartazes que a acompanham mostram uma mulher puxando a manga da camisa de um policial enquanto aponta para um uma mochila abandonada.

Alguns especialistas estão preocupados de que essas medidas tenham chegado muito tarde. “Você não quer ficar alterando completamente algumas medidas de segurança fundamentais no último minuto”, diz Patrick Skinner, diretor de projetos especiais do Soufan Group [organização que oferece inteligência de segurança para governos e multinacionais] e ex-agente da CIA, especializado em contraterrorismo.

“Você quer fazer isso em etapas e ver como funciona, porque até mesmo na maior das burocracias haverá muitas falhas”, completa. Ele adiciona que consertar problemas de segurança duas semanas antes do início dos Jogos é uma “receita para o desastre”. Se o Brasil terá ou não tudo o que precisa para evitar isso, não está claro.

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