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Festa tricolor no Couto Pereira: dez anos de angústia. | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Festa tricolor no Couto Pereira: dez anos de angústia.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Dez anos longe da elite do futebol e distante de qualquer grande conquista fez a comemoração pelo acesso do Paraná Clube à Série A do Campeonato Brasileiro virar quase uma surpresa. “Não sei como comemorar a conquista. São dez anos. Será que tenho de fazer uma festa ou vamos no bar, vamos aonde?”, confessou o presidente Leonardo Oliveira. Mesmo desacostumados a festejar, os paranistas comemoraram muito. Lotaram o aeroporto Afonso Pena para esperar o time e foram em carreata até a Vila Capanema para vibrar ainda mais.

O fim da década na Série B começou a ser construído bem antes da vitória sobre o CRB, em Maceió, sábado passado. Com o clube vivendo situação financeira quase insustentável, em 2015, um grupo denominado Paranistas de Bem assumiu o poder e iniciou um processo de restruturação, especialmente do futebol, que culminou com a conquista do acesso.

R$ 30 milhões

é quanto o Paraná espera receber de direitos pela transmissão de jogos na Série A. Na Série B era de cerca de R$ 5 milhões. Clubes como Corinthians e Flamengo arrecadaram cerca de R$ 200 milhões.

“O Paraná estava pra fechar. O João Carvalho (torcedor, ex-líder da Organizada Fúria Independente), chamou dez paranistas dispostos a participar e ficou decidido que de cara precisávamos investir R$ 4 milhões”, relata o empresário Carlos Werner, um dos líderes do movimento.

Werner é empresário do ramo de estruturas metálicas e revela já ter investido mais de R$ 20 milhões no Paraná. “Fiz em contratos de mútuos”, afirma. O CT Ninho da Gralha, por exemplo, está atrelado ao empresário. “Aquilo é uma garantia. Tinha de dar uma satisfação para minha família. Mas espero que no futuro, aquele patrimônio fique com o Paraná”, comenta.

Com o investimento feito por Werner, o Tricolor conseguiu negociar muitas das dívidas que afogavam o caixa. O débito mais assustador era com o empresário Léo Rabello, antigo agente do meia Thiago Neves, vendido pelo clube na década passada. A conta, com juros, passava dos R$ 30 milhões, mas foi quitada por bem menos em uma renegociação.

“Se o Paraná está de portas abertas, devemos isso a ele (Carlos Werner)”, crava Leonardo Oliveira. “O clube estava 99% com a porta fechada. Ele chegou com um pé de cabra e arrebentou a porta”, compara o presidente.

No entanto, na atual temporada do acesso, a participação financeira do empresário foi bem menor. Nas categorias de base, o investimento continuou sendo feito, mas o departamento de futebol profissional precisou caminhar com as próprias pernas. “Se você criar um filho por 20 anos e ficar sempre de mãos dadas com ele, jamais vai andar sozinho. O mérito da conquista é do Leonardo Oliveira, do Rodrigo Pastana (executivo de futebol), e de todos que trabalharam no futebol”, elogia o empresário.

R$ 20 milhões

foram investidos pelo empresário Carlos Werner, um dos líderes do movimento Paranistas de Bem, para salvar o clube da falência.

Mesmo sem fazer grandes aportes, a ajuda de Werner apareceu em pelo menos dois momentos em 2017. Quando bancou a ida do jogo com o Internacional para a Arena da Baixada e agora, na campanha “quanto vale o ingresso?”, promovida pelo clube para que torcedores pagassem o valor que quisessem (a partir de R$ 20) para o jogo festivo diante do Boa Esporte, no Couto Pereira. “Paguei R$ 40 mil pelo ingresso. Fiz isso pelos guerreiros (jogadores e comissão técnica) que merecem uma premiação maior”, diz.

Por mais que andasse sozinho, o futebol paranista trabalhou com valores bem menores do que os adversários na temporada. A folha salarial, de aproximadamente R$ 450 mil, é uma das menores da Série B. Internamente, o objetivo era apenas evitar uma queda para a Terceira Divisão.

“Como nosso investimento seria ainda menor, o presidente disse que não poderia manter meu contrato que havíamos acertado. Eu falei que com aquele valor, poderia trabalhar e ele topou manter o contrato. Dividimos a responsabilidade”, conta o executivo Rodrigo Pastana.

Com histórico em clubes pequenos e médios, o dirigente já havia conquistado outros acessos em equipes como Guarani e Criciúma. No Paraná, conseguiu ser certeiro nas contratações para não desperdiçar o baixo orçamento disponível. “O presidente foi muito homem de topar. Tivemos de apostar em jogadores da Série C, muitos nem tinham disputado a Série B”, pondera Pastana. “Foi ele que fez a montagem do time e da comissão técnica. O papel dele foi fundamental”, afirma Oliveira, enaltecendo o trabalho de Pastana.

Para a elite do futebol brasileiro, o desafio será ainda maior. Embora o contrato de televisão para o ano que vem ainda não esteja assinado, a expectativa é que a principal receita do Paraná pule de R$ 5 milhões anuais, para mais de R$ 30 milhões. Mesmo assim, o Tricolor estará no patamar dos que menos recebem da TV na Primeira Divisão. Clubes como Corinthians e Flamengo, por exemplo, arrecadaram cerca de R$ 200 milhões para as transmissões do Brasileirão em 2017.

“Vamos partir do mesmo princípio que tivemos na Série B. Vamos lutar para permanecer. Não adianta falar em Libertadores e título, nada disso”, admite Pastana. “Menos mal que agora não partimos do zero”, comemora o executivo, enaltecendo parte de uma base do elenco que deve seguir na equipe para disputar a Série A.

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