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Recorde as cinco partidas mais importantes do primeiro título paranista nas páginas da Gazeta do Povo de 1991:

Estreia

28 de julho de 1991: Toledo 0 x 1 ParanáO primeiro jogo foi fora de cara e a vitória na largada deu mais confiança ao Tricolor.

Primeiro Clássico

22 de setembro de 1991: Atlético 1 x 1 Paraná Diante do Atlético, o empate deixou o time bem colocado.

Recuperação

6 de outubro de 1991: Paraná 2 x 0 CoritibaO o resultado significou a recuperação após uma derrota para o Sport Campo Mourão fora de casa.

Goleada no Tubarão

27 de outubro de 1991: Londrina 1 x 6 Paraná Não costumava ser fácil pegar o Londrina no VGD, mas o esquadrão paranista aplicou goleada, arrancando para o título.

Jogo do título

8 de dezembro de 1991: Coritiba 1 x 1 Paraná

Precisando do empate, o primeiro titulo do Paraná veio com o gol de Ednelson. Quase 2 anos depois da fusão entre Colorado e Pinheiros, o Tricolor era campeão pela primeira vez.

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Por espaço, garotos não temem crise

Ansiosos por vestir a camisa tricolor, as atuais apostas paranistas parecem alheias ao momento de turbulência interna que o clube vem passando. As espinhas no rosto e os poucos fios de barba parecem encorajar os garotos. Eles estão dispostos a assumir a responsabilidade de colocar o Paraná de volta na Primeira Divisão do Campeonato Paranaense.

O zagueiro Felipe, 18, é um dos veteranos. Ele irá disputar a segunda Copa São Paulo e garante estar pronto para o profissional. "Podemos fazer um bom torneio para chegar com força no Para­na­ense, voltar à elite e ajudar o Paraná a voltar a ser o que era antes".

Questionado se os júniores estão preparados, o meia Leandro, 16, responde com tarimba. "A gente sabe que o Paraná está passando por uma crise financeira e é hora de apostar nas categorias de base. Nós estamos treinando, esperando uma oportunidade e sabemos que temos condições de vestir bem a camisa do clube." (CB)

Faz 20 anos; parecem 100. No dia 8 de dezembro de 1991, o clube "que nasceste gigante" – conforme a estrofe inicial do seu hino – fazia jus à fama. Com apenas duas temporadas em campo, o Paraná desbancava a dupla Atletiba para erguer o primeiro troféu.

Um Couto Pereira aparentemente muito mais lotado do que do que os 22.952 torcedores anunciados testemunhou o título. O ga­­tilho de uma hegemonia. O ápice de um clube hoje em derrocada.

O Tricolor era o caçula em um cenário com tradição por todos os lados. A 77ª edição do Campeonato Paranaense contava com o recorde de 24 equipes e o interior assustava com a força de clubes como Ope­­rário, Grêmio Maringá, Londrina e Cascavel. Além, claro, de Atlético e Coritiba.

Mas, após 26 jogos, 17 vitórias, 5 em­­pates, 4 derrotas, 52 gols a favor e 20 contra, todos foram relegados à espectadores de uma festa que se re­­petiria até 1997 – com exceção do título do Londrina em 92. Ano no qual os paranistas se preocuparam mesmo em festejar a conquista da Série B.

A primeira taça era o álibi que talvez faltasse para colorados e pinheirenses assumirem de vez o novo formato da sua paixão, então apoiada em uma grande torcida e um patrimônio invejável.

No campo, uma equipe forte. "Tecnicamente era um time muito bom. Sem falsa modéstia, nos dois primeiros anos o Paraná teve os times mais fortes da sua história", lembra Serginho Cabeção.

"Apesar de serem jogadores de bastante talento, no cenário nacional não eram tão conhecidos. E o Paraná fez isso, valorizou os atletas", relembra Adoílson, jogador com o registro número 1 do clube. "Eu estava no Grêmio Maringá e o meu preparador, Carlinhos Neves, disse que se eu mantivesse o ritmo ele iria me levar para um clube novo. Não acreditei, achei que ele só queria que eu treinasse mais [risos]. Não é que era verdade?", relembra.

Talento à parte, personagens daquela campanha exaltaram outra qualidade da equipe: empatia. "O clima era muito bom. Um time unido de verdade, um lutava pelo outro", relembra Adoílson. União que extrapolava o time. "Nós nos cobrávamos muito, às vezes partíamos para a ignorância nos jogos. Dávamos broncas homéricas uns nos outros. Mas éramos tão unidos que todos sabiam que era para o bem", endossa Serginho, o "tesoureiro" do elenco.

Ele cuidava da famosa "caixinha" onde cada jogador doava parte do bicho (prêmio por jogo) e cujo valor era rateado com todos os funcionários, da rouparia ao jardineiro, criando uma cumplicidade coletiva.

E a tal da caixinha jamais esteve vazia. "O pagamento não atrasou nem um dia sequer. Os prêmios eram pagos religiosamente", revela o co­­mandante da época, Otacílio Gon­­çalves. Dinheiro, até então, não era problema – e sim a solução. "Ganhamos até o 'bicho molhado' [pago no vestiário após a volta olímpica no Alto da Glória]", relembra Ednélson.

Ex-Colorado, ele era o único formado na base e titular naquela tarde ensolarada de domingo. Se perdesse, o Paraná teria de encarar jogos decisivos contra o Atlético.

"Na preleção, Otacílio exaltou a campanha toda, como foi difícil a disputa dos pontos corridos. Mas que estávamos ali para coroar todo esforço, pois nós éramos o melhor [time]", narra Serginho. Um discurso tão simples, mas capaz de embargar até hoje a voz do ex-atacante. "Me emociono mesmo."

Na rodinha dos jogadores no vestiário do Alto da Glória, foi João Antônio quem tomou a palavra. "Só saio daqui em um caminhão de bombeiro", avisou o "Mestre João", como era carinhosamente chamado. Ele prometera o título quando foi recebido por quase dois mil torcedores na sede da Kennedy, ao lado do lateral-direito Balu, no início da temporada.

Com o Coxa saindo na frente, o tão esperado "passeio" dependia de um empate. Desenhado assim por ele, Ednélson: "Serginho vai para o meio para receber a bola. Abre espaço. O lateral tenta acompanhar e eu passo. O Serginho faz um passe preciso. Domino com a esquerda já para finalizar. E chuto, na diagonal, para o gol de Luiz Henrique. Gol, gol!! Aí foi só alegria e correr para a torcida."

E o Paraná nascia gigante.

Teu destino é?

A letra do hino paranista não vacila em dizer que o destino do clube é "vitória, vitória..." Mas não há como falar do futuro – exatamente 20 anos após o primeiro título do Tricolor – sem passar pela incógnita no Ninho da Gralha, o centro de formação de atletas do clube.

Diante dos problemas financeiros do Paraná, as jogadas de Felipe, Hudson, Leandro, Severo e Carlinhos – todos nem nascidos no festivo 8 de dezembro de 91 – clamam por atenção e valorização. Eles são, na prática, o destino cantado.

Os cinco garotos são alguns dos destaques da base. A geração que, apostam os dirigentes, vai reerguer o ex-campeão.

"O Paraná tem história. Nós temos a oportunidade de colocar ele no lugar que merece e podemos fazer o time ser grande de novo", avisa o meia Carlinhos, de 17 anos.

Campeão pelo Colorado e pe­­lo Pinheiros na década de 80, o ex-goleiro Paulo Roberto de Oliveira é hoje o responsável pe­­lo time júnior, que disputará a Copa São Paulo, em janeiro. Par­­te do grupo, mesmo imaturo e queimando etapas, poderá jogar também a Série Prata do Para­­naense.

O treinador deixa claro que existe urgência para que novos Thiago Neves, Maurílio, Ilan e Ri­­cardinho surjam, mas pede cautela. "Temos de ter calma. Esta­­mos formando um time para despontar em 2013, 2014. Apres­­sar as coisas pode acabar queimando uma geração inteira", diz.

"É preciso que os garotos te­­nham uma sequência. Eles precisam passar por todas as categorias, começar a fazer parte do grupo profissional, ir para o banco e ser colocado em campo. Mas esse percurso não tem sido percorrido", critica o técnico, em defesa dos pupilos.

Matéria-prima é o que não falta. O volante Hudson, por exemplo, de apenas 15 anos, já foi con­­vocado para a seleção brasileira sub-15 e sonha em trilhar sua carreira na Vila Capanema.

"Temos ótimos jogadores aqui que não subiram para o profissional por falta de oportunidade. Quero me destacar aqui no Paraná, antes de qualquer coisa", garante o adolescente.

Porém, a pressão para achar talentos tem influenciado o processo de formação. Desde 2007, por exemplo, o Paraná não consegue um título amador nos torneios do estado.

Veja o gol de Ednelson no jogo do título de 1991 contra o Coritiba:

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