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Marcelo Barros Wendt, o Kiko (de branco), salta do penhasco na ilha de Kakynthos, na Grécia, onde conquistou o quinto lugar no Mundial de base jump | Divulgação
Marcelo Barros Wendt, o Kiko (de branco), salta do penhasco na ilha de Kakynthos, na Grécia, onde conquistou o quinto lugar no Mundial de base jump| Foto: Divulgação

Entrevista

Mail Cani, mãe de paraquedista

Quando Mail Cani, 60 anos, pegou o filho tentando pular do terceiro andar do prédio onde morava em Curitiba, com um saco de lixo como paraquedas, ela pensou ter salvo o pequeno Cani do perigo. Mas seu sufoco estava só começando. O jeito foi aceitar a carreira de um dos saltadores mais ousados do planeta. Mesmo assim, a empresária aposentada garante que jamais vai se acostumar à profissão do filho.

Quando o Cani lhe contou como ele levaria a vida, o que você sentiu?

Foi um susto. Ele sempre foi um menino líder, criativo, inventava as brincadeiras. Na verdade, era um inventador de moda (risos). [Quando tinha 8 anos, Luigi improvisou uma rampa com uma tábua e saltou de bicicleta sobre quatro amigos.]

O que você sente quando o vê saltando?

Não olho como filho. Observo o arrojo da profissão que ele escolheu, como é difícil. Acho bonito, interessante e dou nota 10. Mas, se olhar como mãe, o bicho pega.

Ele te conta os projetos que pretende fazer, ou mostra só depois de ter dado certo?

Ele conta e eu digo: "isso não vai dar certo, é impossível". Daí, quando ele volta, já fez.

Seu filho chegou a te levar em um salto de paraquedas. Te ajudou a aceitar melhor o que ele faz?

Ajudou. Depois de uns três anos de profissão, ele tinha uma escola de paraquedismo e fiz o salto com um instrutor enquanto ele filmava tudo. É lindo. Foi quando entendi que ele nasceu para isso. Se tirarem isso dele, ele murcha, morre que nem uma flor. Gostei. Mas eu não vou me acostumar nunca em vê-lo saltar. (ALM)

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Quando saltar de paraquedas é tão emocionante quanto passear de bicicleta no parque, está na hora de aumentar a dose. Ou, no caso, diminuir: diminuir a altura do salto, o tamanho do paraquedas, dispensar o reserva e mergulhar no base jump.

Assista o salto de base jump

A versão mais radical – e perigosa – do paraquedismo resgatou a adrenalina perdida em 15 anos e mais de 6 mil saltos de avião do curitibano Marcelo Barros Wendt, o Kiko, de 36 anos.

Agora, seu desafio é se jogar de um dos obstáculos que formam o B.A.S.E, sigla em inglês para Buil­­ding, Antenna, Spam e Earth, ou, em português, prédio, antena, ponte e terra – esta mais conhecida como penhasco mesmo.

Com cerca de 10 mil praticantes no mundo, o instrutor de paraquedismo é o único base jumper em Curitiba, ao lado de Luiz Cláudio Marinho, o Kako, a se aventurar na sexta modalidade mais arriscada do planeta. Esporte com 0,82 morte para cada mil adeptos, de acordo com um ranking de 2010 da revista Superin­­teressante. Estatís­­tica suficiente para ser proibido em vários países. No Brasil, não há regulação a respeito.

Mas é tão perigosa a ponto de obrigar os participantes a treinos clandestinos, capazes de tornar a prática ainda mais temerária. "Eu não gosto de fazer isso, a gente pode ser confundido com um ladrão. Mas não tem outro jeito, porque pedimos autorização e não dão. Então, invadimos", conta Kiko.

Ele não conta quais os prédios em Curitiba são usados nos saltos, uma estratégia para driblar uma fiscalização maior. Revela, porém, o desejo de saltar do CCI, no centro da capital. A investida já foi negada, mas ele não desistiu.

Até mesmo nos campeonatos, com tudo autorizado, antes de saltar cada participante grava um depoimento assumindo os riscos, no que todos torcem para não ser um vídeo de despedida.

O último filmado por Kiko foi antes do Mundial de Base Jump, disputado na Grécia, neste mês, e onde o Brasil despontou. Ele ficou em quinto lugar, entre 22 atletas de 13 países. O quarto e o sexto lugares também foram verde e amarelo, para Ruy Fernandes e Kedley Oliveti, respectivamente.

"O resultado surpreendeu e passaram a olhar o Brasil com outros olhos. Tivemos contato com a organização e a intenção é trazer uma etapa para o país e ajudar a promover o esporte", planeja Kiko. "Organizar" o perigo passaria pela criação de uma associação, buscar apoio e regras.

"Hoje são cerca de 60 praticantes do Brasil. Conseguimos desenvolver bastante a modalidade nos últimos anos, mas ainda estamos quase uma década atrasados", admite. Ele reconhece que a própria natureza do esporte atrapalha. "Muita gente nos chama de louco. Mas para praticar base jump você precisa estar muito preparado", defende.

A bagagem vem do paraquedismo e também exige técnica e equipamentos específicos. O pior que pode acontecer – além do equipamento não funcionar – é o paraquedas abrir virado para o obstáculo. "Você precisa de um feeling para controlar tudo rapidamente. É a experiência que vai te dar isso na hora do salto em um tempo tão curto", explica.

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