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Bicicleta de Femke Van den Driessche estava turbinada com um motor escondido na prova do Mundial de ciclocross. | YORICK JANSENS/AFP
Bicicleta de Femke Van den Driessche estava turbinada com um motor escondido na prova do Mundial de ciclocross.| Foto: YORICK JANSENS/AFP

O velho fantasma dos motores escondidos em bicicletas virou realidade neste domingo (31), com a jovem belga Femke Van den Driessche sendo flagrada no primeiro caso de doping mecânico da história do ciclismo, no Mundial de ciclocross de Zolder, na Bélgica.

“Havia um motor escondido, foi claramente uma fraude tecnológica”, declarou o presidente da União Ciclista Internacional, Brian Cookson.

O ciclismo é, junto com o atletismo, um dos esportes mais atingidos como o doping, com casos emblemáticos como o de Lance Armstrong, que teve seus sete títulos da Volta da França cassados depois de confessar ter usado substâncias proibidas.

Diante dos progressos da luta antidoping, porém, outra praga parece estar ameaçando a credibilidade já bastante abalada da modalidade.“Muitas vezes, as pessoas brincavam sobre essa história de doping mecânico, como se não existisse, mas agora sabemos que competidores já usaram ou usam até agora esses recursos”, insistiu o dirigente.

“Será que podemos concluir que é um algo muito difundido? Não faço ideia!”, admitiu Cookson, que não forneceu detalhes sobre as caraterísticas do motor encontrado na bicicleta.

O conceito de doping mecânico diz respeito a um auxílio ilícito ao desempenho do ciclista, através de um motor elétrico miniaturizado, escondido nos tubos da bicicleta.

Van den Driessche, de 19 anos, colocou a culpa num mecânico. “Esta não era minha bicicleta. Pertencia a um amigo, e era idêntico ao meu”, alegou a belga, em lágrimas, em entrevista ao canal Sporza.

“Este amigo foi reconhecer o percurso no sábado, e colocou sua bicicleta de volta no caminhão. Um mecânico, que pensava que fosse a minha, a preparou para a corrida”, explicou a jovem ciclista, jurando que “ignorava totalmente” a existência de um motor.

As primeiras suspeitas de doping mecânico surgiram em 2010, depois das vitórias do suíço Fabian Cancellara no Tour des Flandres e no Paris-Roubaix, duas das corridas mais tradicionais do ciclismo mundial.

Em ambas as provas, o campeão trocou de bicicleta no meio do percurso, alimentando rumores, sem que acusações sejam realmente formuladas.

Nas semanas seguintes, o ex-ciclista profissional Davide Cassani, que virou comentarista na TV italiana, apresentou um protótipo de bicicleta de corrida com um mecanismo de motor que oferecia mais potência ao utilizador.

‘A bicicleta pedala sozinha’Esses casos levaram a UCI a fazer controles pontuais, sem que ninguém seja flagrado até sábado.

Regulamento

De acordo com o regulamento, quem por pego com uma bicicleta motorizada corre risco de ser desclassificado da prova, suspenso por no mínimo seis meses, e multado em 200.000 francos suíços (192.000 euros).

“O caso está nas mãos da comissão disciplinar”, explicou Cookson, que fez questão de deixar um “recado claro”: “Vamos pegar vocês, porque a nossa tecnologia para detectar esse tipo de fraude funciona”.

Num relatório publicado em março de 2015, a comissão independente pela reforma do ciclismo (CIRC) tinha apontado a existência do doping mecânico, sem apresentar provas concretas.

Na última edição da Volta da França, o fantasma das bicicletas turbinadas ressurgiu quando especialistas ficaram espantados com o desempenho do britânico Chris Froome em etapas difíceis.

“Parece até que a bicicleta pedala sozinha”, tinha observado o ex-ciclista Cédric Vasseur, hoje comentarista de TV. Bicampeão da prova (2013 e 2015), Froome rejeitou categoricamente as acusações.

bnl-pr/sk/lg

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