Ultramaratonista programa desafio insólito pelo Brasil

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Raphael Bonatto é um caso raro. Ele é um dos poucos homens que consegue combinar a calça social com uma camiseta cavada e tênis. Ou, ao contrário, a camisa de colarinho com um GPS de pulso e calção. Não se trata do mundo da mo­­da. É apenas uma metáfora. Afinal, o ultramaratonista curitibano utiliza cada desafio esportivo vencido como um incremento à sua carreira profissional de consultor de vendas.

Nas palestras que ministra em empresas, indústrias ou associações, tem sempre uma experiência de superação dos limites de seu próprio corpo para exemplificar cada uma das "8 Atitudes Vencedo­­ras" que tenta incrustar na mente da plateia.

São pensamentos que funcionam tão bem no mundo corporativo como em uma ultramaratona. Por um simples motivo: você tem de acreditar piamente neles. E é aí que Bonatto ganha o espectador. Por todas as loucuras que já realizou, ele passa credibilidade. Tanta, que a profissão de consultor surgiu quando tentava patrocínio da empresa onde hoje trabalha e é sócio.

"Antes eu era personal trainer, professor de academia", conta sobre uma atividade que, aparentemente, teria mais a ver com o ultramaratonista que disputou as mais duras competições de resistência pelo mundo afora, como a sul-africana Comrades, a americana Badwater e a local Brazil 135.

Não satisfeito com o que já existe, Bonatto começou a criar seus próprios desafios. E assim preencheu praticamente todos os oito itens de sua palestra. Coisas do tipo autoajuda. "De manhã me levanto para vender", por exemplo, é o tópico 1, e ele utiliza o desafio das cataratas como um paralelo. Lembra das bolhas no pé que duplicavam a cada dia da prova que começou em Foz do Iguaçu e terminou em Curitiba.

Há também "O medo não me domina", o tópico 5, onde Bonatto cita sua participação na Badwater, na Califórnia, a prova mais difícil do mundo. Lá conta ter visto até "uns mexicanos desovando um corpo no rio". Já seu próximo desafio com certeza fará parte do item número 3: "Não desperdiço meu tempo".

No dia 26 de outubro Raphael Bonatto começa um prova contra ele mesmo onde tentará fazer 27 maratonas, em 27 dias seguidos, nas 27 capitais brasileiras, terminando a odisseia na Maratona de Curitiba, em 21 de novembro. Nesse caso, o maior desafio do atleta nem será a corrida em si.

Os 42 quilômetros diários corridos por pontos turísticos das capitais brasileiras se tornarão apenas uma espécie de pano de fundo para a trajetória que o atleta/consultor fará via aérea e terrestre por todo o país. Serão quase 20 mil quilômetros de deslocamentos, fazendo com que muitas vezes Bonatto corra sem nem mesmo ter dormido na noite anterior.

"Por isso não reservei hotéis em nenhum lugar, pois tudo irá de­­pender da hora que chegarei", conta.

De Boa Vista a Manaus, por exemplo, o ultramaratonista chegará às 2 da manhã. Começará a correr às 5 h para poder estar às 12 h no aeroporto, rumando para Porto Velho.

"Era a única opção de voo."

Desde janeiro, o planejamento demorou quatro meses para ser feito. Mesmo assim Bonatto não conseguiu evitar dois trajetos de carro, que terá de fazer dirigindo, já que sua equipe é composta por um homem só: ele mesmo. Então como provar que o desafio será mesmo cumprido?

"Vou usar um GPS de pulso e publicar no site diariamente", conta – ele já utilizou o recurso em outras oportunidades.

Olhando de fora, parece coisa de outro mundo. Mas se imagine sendo uma criança de sete anos que pede para a avó acordá-la às cinco da manhã para, antes de ir para a aula, dar umas voltinhas na quadra correndo. Esse foi o começo de Raphael Bonatto.

Memória

O atleta curitibano Raphael Bo­­natto concluiu no fim do ano passado o Desafio das Cataratas, uma corrida que durou sete dias e quase 700 quilômetros – do Parque das Cataratas, em Foz do Iguaçu, até Curitiba. Quando chegou na capital, ele ainda participou da maratona anual da cidade.