Arquitetura

A arquitetura submersa do reservatório de água mais antigo de Curitiba

Felipe Martins*
01/11/2016 21:52
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Reservatório foi construído no ponto mais alto da cidade nos anos 1900. Hoje a construção do Alto São Francisco continua em atividade. Fotos: André Rodrigues/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Quem passa pela região do Centro Histórico pode não perceber, mas está andando sobre o maior reservatório de água de Curitiba, o do Alto São Francisco. Ele está ali, enterrado sob um jardim de grandes proporções na Praça Presbíteros, no bairro que viu a cidade nascer, em meio a casarões antigos e ruas de paralelepípedos. A construção é uma das mais relevantes da região, tanto em termos de tamanho como de impacto no desenvolvimento da cidade e desperta curiosidade e interesse de estudiosos e curiosos que sabem da sua existência.
A história do reservatório, que é considerado como uma das maiores obras de infraestrutura em saneamento de Curitiba, começa na primeira década dos anos 1900. O então presidente do Estado, Vicente Machado da Silva Lima, assinou em 1904 o contrato que previa a construção do primeiro grande reservatório hídrico do Paraná. Na época, o fornecimento de água era feito pelo chafariz do Largo da Ponte (atual Praça Zacarias), que era alimentado por um olho d’água localizado na Praça Rui Barbosa.
Os engenheiros Otaviano do Amaral e Álvaro de Menezes, que assinaram a planta, foram os responsáveis pelo projeto todo, que envolvia uma adutora de 38 km, ligando quase em linha reta os Mananciais da Serra, em Piraquara, ao futuro Reservatório do Alto São Francisco. Do lado de fora, a construção é composta por amplo jardim cercado por grades, um chafariz e um único e característico edifício, que abriga a antiga casa de máquinas.
Reservatório São Francisco. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
Reservatório São Francisco. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
Reservatório São Francisco. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
Reservatório São Francisco. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
Mas é debaixo da praça que fica a parte mais curiosa do projeto: o reservatório propriamente dito, com pilares de fundação e teto de abóbodas e arcos, alicerces típicos das civilizações antigas. A estrutura sustenta os imponentes salões das duas câmaras do reservatório que, assim como as construções do lado de fora, são exemplares de uma arquitetura eclética, com elementos da art-noveau.
Embora a cidade tenha outras grandes “caixas d’água”, o Reservatório do Alto São Francisco encontra apenas em Lisboa o que se acredita ser o único outro exemplar deste tipo de construção: o Reservatório da Patriarcal, construído nos anos de 1860 e desativado na década de 1940, hoje abriga o Museu da Água, de Portugal.
Uma das câmaras do reservatório, durante obras de impermeabilização em 2009. Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Uma das câmaras do reservatório, durante obras de impermeabilização em 2009. Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Fôlego centenário
No dia 24 de agosto de 1908, o encanamento que corta a Serra do Mar trouxe água com ajuda da própria gravidade, e começou a encher os compartimentos do reservatório. Juntos, os dois bolsões somam 6 mil metros cúbicos, ou 6 milhões de litros de água. Os números e dimensões impressionam, assim como a funcionalidade do reservatório. Em 1908, Curitiba contava com uma população próxima de 50 mil pessoas. Hoje, a cidade comporta mais de 1,8 milhão de habitantes. Com exceção das obras de impermeabilização em 2009 (quando foram esvaziadas as duas câmaras), o Reservatório do Alto São Francisco funciona ininterruptamente desde 1908. De acordo com a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), tem capacidade para abastecer a região central da cidade e outros 16 bairros, o que representa cerca de 600 mil pessoas. Desde 1990, é tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná.

*especial para a Gazeta do Povo

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