Arquitetura

Arquitetos curitibanos ganham prêmio nacional com projeto de interesse social

Carolina Werneck*
14/08/2017 21:20
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Foto: Leonardo Finotti/Divulgação | rosenbaum arquitetura 2017

Os arquitetos curitibanos Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes, do Aleph Zero, acabam de ganhar o Prêmio de Arquitetura Tomie Ohtake AzkoNobel. Em parceria com o estúdio de design Rosenbaum, eles desenvolveram o projeto de uma escola na Fazenda Canuanã para a Fundação Bradesco em Formoso do Araguaia, no Tocantins.
São 23.344 m² de área construída. Ali, 540 crianças e adolescentes entre 13 e 18 anos estudam e vivem em regime de internato. “O terreno era uma fazenda do fundador do Bradesco. A escola aconteceu porque ele queria dar educação para a população da região. Lá, as crianças levam duas, três horas para chegar à escola. Então fica completamente inviável para os pais”, explica Utrabo. Instalada na fazenda há quase meio século, a escola abrigava os alunos em quartos divididos por até 40 crianças. Daí a necessidade de criar um espaço em que fosse possível aprender, mas também viver de modo prático e confortável.
As estruturas em madeira e tijolos foram projetadas para abrigar 540 crianças e adolescentes, além dos professores da escola. Foto: Divulgação
As estruturas em madeira e tijolos foram projetadas para abrigar 540 crianças e adolescentes, além dos professores da escola. Foto: Divulgação
Por isso os dormitórios foram um dos pontos de preocupação dos profissionais dos dois escritórios, afirma o arquiteto. “A ideia foi dar mais individualidade às crianças. Porque é muito duro ficar longe da família, por mais que aquela seja a única opção de estudo da região. A gente queria trazer acolhimento e propiciar maior individualidade a elas.” Foram criados dois módulos separados, de modo a dar ares de casa ao ambiente da escola e das residências.
Um dos dormitórios da escola. Foto: Divulgação
Um dos dormitórios da escola. Foto: Divulgação

“Escola-varanda”

Para somar leveza ao cotidiano de tantos estudantes, os materiais utilizados na obra foram cuidadosamente escolhidos. Embora os dois módulos sejam muito grandes – cada um tem mais de 1,5 mil m² -, a alternância entre volumes e vazios dá a sensação de conexão da construção com a natureza ao redor. Utrabo conta que a concepção desses espaços veio da convivência com as crianças. “A gente fez workshops para entender qual a relação delas com a arquitetura. O projeto tenta ser uma casa para elas, por mais que seja provisório, então a gente tentou entender como era a casa dos pais e dos avós delas. A partir disso, entender qual escala seria confortável.” Essa experiência trouxe a convicção de que a estrutura precisaria ser leve e, ao mesmo tempo, pré-moldada. Dessa forma, a madeira foi o material perfeito.
Foto: Divulgação
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Como o clima da região está longe de ser ameno, também era preciso encontrar uma solução que proporcionasse conforto térmico. “É um lugar extremamente quente e havia poucas áreas sombreadas. Para melhorar esse quesito, você vê que o projeto acaba saindo como uma grande varanda“, detalha Utrabo. Todas as peças de tijolo utilizadas na construção foram confeccionadas ali mesmo, com barro retirado da própria Fazenda Canauanã. Isso foi possível com a dedicação de cerca de 15 dos funcionários da obra a uma pequena fábrica montada próxima ao canteiro. A mini-fábrica fabricava quatro mil unidades por dia – e foram esses tijolos que ajudaram a garantir frescor do lado de dentro da escola e dispensar os condicionadores de ar.
Foto: Divulgação
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Escalas e escolhas

Olhando de fora, as estruturas montadas parecem enormes. Mas houve uma preocupação para que elas não intimidassem seus principais usuários, as crianças. Para isso, os profissionais do Aleph Zero e do Rosenbaum trabalharam com as escalas. Utrabo diz acreditar que essa foi uma boa solução para a questão dos espaços grandes demais. “O edifício lida com as perspectivas. No pavimento superior, a gente tenta lidar muito com a variação das escalas. Por mais que o edifício seja grande, ele tem que ter a escala da criança. Então usamos esses avanços na parte de cima, um elemento que se repete. Isso faz com que tenha uma métrica que parece diminuir o espaço. Você olha os corredores e não parece que eles têm 165 m.”
Foto: Divulgação
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O arquiteto conta que a grande motivação para esse desafio foi o interesse particular em obras de cunho social. “Essa é a função social do arquiteto. Queríamos fazer um trabalho social para dignificar ainda mais a vida dessas crianças, que são completamente apaixonantes. Você fica muito conectado com elas. Além disso, a fundação tem um trabalho lindíssimo”, diz. Ao todo, o projeto levou um ano para ser desenvolvido e mais 15 meses para ser construído. Os resultados vão ajudar a transformar as vidas de muitas crianças. Sobre o prêmio recebido, Utrabo é realista. “A gente é super jovem, tem perto dos 30 anos. É muito legal receber um prêmio assim, que você sempre quis ganhar. Por outro lado, a gente continua trabalhando, porque a finalidade não é o prêmio. A gente fica muito feliz por ter a oportunidade de discutir a arquitetura de uma maneira mais pública.”
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*Especial para a Gazeta do Povo.

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