Arquitetura

Conheça a arquitetura da mesquita que ajudou a integrar sunitas e xiitas

Luan Galani
08/06/2016 00:56
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Ornamentos florais dos mosaicos iranianos da fachada da mesquita de Curitiba celebram a natureza. Fotos: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Aos desavisados, os comerciantes Fouad Omairi e Malih Omari podem até se passar por gêmeos. Além dos sobrenomes quase idênticos, seus primeiros nomes carregam uma poesia forte. Como se tivesse sido pensada para dois irmãos. Em árabe, fouad significa coração e malih pode ser traduzido como bom. Ainda muito jovens ambos trocaram o Líbano, o país com “as melhores frutas do mundo”, pelo Brasil. Vieram tentar a vida pelos pinheirais. Deram certo. Mas dentre tantas similaridades, uma diferença grita entre os dois: um é xiita e o outro, sunita.
Malih Omari e Fouad Omairi são exemplos de imigrantes que se uniram para se adaptar ao Brasil.
Malih Omari e Fouad Omairi são exemplos de imigrantes que se uniram para se adaptar ao Brasil.
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O que em qualquer outra parte do mundo seria sinônimo de problema, aqui em Curitiba é motivo de união. “É a mesma religião. São os mesmos ensinamentos. Acreditamos nos mesmos profetas. O Islã não tem nada a ver com esses conflitos políticos que assistimos por aí”, garante Malih. A discussão toda se dá a respeito da liderança do mundo muçulmano após o falecimento do profeta. Xiitas acreditam que esse lugar de direito cabe ao primo e genro de Maomé, Ali, enquanto que os sunitas defendem que o profeta não deixou um sucessor e seu herdeiro deveria ser escolhido entre todos os muçulmanos, como esclarece o diretor religioso da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, Gamal Omairi.
O fato de rezarem lado a lado sob o mesmo teto atiçou a atenção de diversos pesquisadores ao redor do mundo. Como é o caso do professor de filosofia medieval árabe da Universidade Federal de São Paulo, Jamil Ibrahim Iskandar. “Isto não é comum. É o único caso no Brasil. Normalmente cada doutrina tem a sua mesquita. Mas o caso de Curitiba é histórico, pois isso ocorre desde 1957”, sentencia. “A tolerância se deve ao fato de os primeiros imigrantes libaneses terem tido a sorte e a lucidez de se unirem em um país desconhecido. Foi a preservação cultural mediada pela religião”.
Sunitas e xiitas rezam lado a lado durante a oração das sextas-feiras.
Sunitas e xiitas rezam lado a lado durante a oração das sextas-feiras.
Natureza
A mesquita de Curitiba, oficialmente chamada de Imam Ali Ibn Abi Talib, em homenagem a Ali, foi fundada em maio de 1972. O projeto é do engenheiro cristão de origem árabe Kamal David Curi, que usou os principais elementos arquitetônicos mouros para a construção.
Como os pilares e arcos de ferradura, que exploram a simetria e a harmonia das formas do edifício, a cúpula redonda, que funciona como uma caixa acústica natural para amplificar o som, e os minaretes, dupla de torres que serviam para chamar as pessoas para as orações.
Ornamentos tipicamente árabes pintados à mão por artesãos iranianos.<br>Fotos: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
Ornamentos tipicamente árabes pintados à mão por artesãos iranianos.<br>Fotos: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
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Por muito tempo a mesquita foi toda verde. Uma cor natural e sagrada para os muçulmanos, por representar a esperança. Mas em 2011 a mesquita foi vestida por mosaicos iranianos e ganhou vida nova em tom de azul. Se observados de perto, percebe-se que os ornamentos celebram o céu e a natureza, com detalhes de flores, estrelas e sol.
Sem falar na caligrafia artística do interior, que torna algumas passagens do alcorão verdadeiras obras de arte.
SERVIÇO
A Mesquita é aberta a visitação aos domingos, das 10h30 às 15h30. O endereço é Rua Kellers, 383, São Francisco.

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