Arquitetura

Novo azul do Palacete dos Leões causa alvoroço nas redes sociais

Luan Galani
01/08/2017 22:11
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Restauro da parte externa do Palacete dos Leões valorizou a cor original do prédio, que é símbolo do ciclo da erva mate no Paraná. O registro foi feito na tarde desta terça-feira (01). Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo | TRIBUNA DO PARANA

O Palacete dos Leões volta a sua antiga glória. Mas parece não estar agradando à opinião popular. Quem passar pela Avenida João Gualberto, no Alto da Glória, vai notar que o palacete símbolo do boom econômico da erva mate no Paraná está de cor nova. O edifício eclético de 1902 está sendo pintado com um novo tom de azul anil, o que despertou a fúria de diversas pessoas nas redes sociais, que alegam que a cor não combina com a imponência do casarão, que é tombado pelo patrimônio histórico estadual e integra a lista das Unidades de Interesse de Preservação (UIP) de Curitiba.
Em 2017, a fachada do Palacete dos Leões recebeu um vibrante tom de anil. Foto: Felipe Rosa / Tribuna do Parana - AGP
Em 2017, a fachada do Palacete dos Leões recebeu um vibrante tom de anil. Foto: Felipe Rosa / Tribuna do Parana - AGP
A pintura faz parte de uma ampla reforma da parte externa do palacete encomendada ano passado pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), atual proprietário do casarão. Entre as outras renovações, recuperação dos revestimentos de alvenaria, conserto de trincas e fissuras, substituição de telhas e impermeabilização dos pisos. As obras acabam esta semana a tempo de reabrir o espaço cultural no próximo dia 7 de agosto.
“A nova cor é um resgate do tom original da casa, que já foi salmão, e depois recuperou seu tom azul no final dos anos de 1980, com um restauro que aconteceu na época”, conta o superintendente da agência paranaense do BRDE, Paulo Cesar Starke Junior. “Esse tom de azul é apenas um pouco mais forte do que o anterior. Reajo com naturalidade à polêmica. Claro que não queremos causar esse impacto, mas não nos incomodamos com as críticas. Temos certeza de que fizemos o melhor.”
A cor foi sugerida no projeto de restauração pelo arquiteto Jeferson Dantas Navolar, que também é presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR) e já havia assinado uma restauração anterior do prédio, em 1986. A ideia veio depois de prospecções pelas paredes do imóvel, que mostraram que o azul anil realmente fez parte da história do casarão.
Por ser um bem tombado, a sugestão da cor foi analisada pela Coordenação de Patrimônio Cultural (CPC) do Estado do Paraná, como é praxe nesses casos, e foi autorizada dentro de todos os trâmites legais, inclusive com consentimento do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), que também não encontrou problema na escolha da cor, como confirma a assessoria de imprensa do órgão.
“A cor faz parte da história do palacete. Por trás das camadas de tinta, foram encontradas evidências desse azul na lateral da escada da casa”, explica o engenheiro civil Sergio Krieger, que encabeça a CPC. “Nossa função não deixar ser chamativo demais ou pálido demais. É não deixar o edifício sumir na paisagem, é ajudar a restabelecer sua imponência.”
O histórico Palacete dos Leões, no Alto da Glória, sede do espaço cultural da agência do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) em Curitiba, reabrirá sua agenda de exposições e eventos em agosto, de cara nova.<br>Curitiba, 31/07/2017.<br>Foto: Divulgação BRDE
O histórico Palacete dos Leões, no Alto da Glória, sede do espaço cultural da agência do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) em Curitiba, reabrirá sua agenda de exposições e eventos em agosto, de cara nova.<br>Curitiba, 31/07/2017.<br>Foto: Divulgação BRDE
A execução do projeto de restauro está sendo feita pelo renomado escritório ArquiBrasil Arquitetura e Restauração. “Infelizmente, o que menos importa no restauro é o gosto pessoal das pessoas”, sentencia o arquiteto Roberto Martins, um dos responsáveis pela obra. “O que importa é chegar no original.”
De acordo com o arquiteto e historiador Irã Dudeque, que leciona na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), na época era comum pintar as casas com cal e anil. “A questão não era estética, mas prática, pois o anil tem ação fungicida”, destaca.
O arquiteto Claudio Forte Maiolino, um dos grandes nomes do restauro de Curitiba e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), frisa que eram comum pintarem as casas com cal e, eventualmente, as mais sofisticadas eram coloridas com outras substâncias.
PALACETE DOS LEOES - CURITIBA - PARANA - 01/08/17 - Palacete dos Leos, restauracao. FOTO: Felipe Rosa / Tribuna do Parana - AGP
PALACETE DOS LEOES - CURITIBA - PARANA - 01/08/17 - Palacete dos Leos, restauracao. FOTO: Felipe Rosa / Tribuna do Parana - AGP
Com 115 anos, o Palacete Leão Júnior, popularmente conhecido como Palacete dos Leões, é resultado de um dos períodos mais prósperos da economia paranaense: o ciclo da erva mate. E está intimamente ligado a uma das empresas mais queridas de Curitiba, a Matte Leão. Ele foi construído pelo ervateiro e industrial Agostinho Ermelino de Leão Júnior e sua esposa, Maria Clara de Abreu Leão.
O projeto do palacete é do engenheiro Cândido de Abreu, que valorizou diversos elementos ornamentais na fachada, com conchas, colunas, taças e cabeças de leão. Embora seja eclética, a construção ‘brinca’ com diversas referências renascentistas e neoclássicas, como a simetria dos vãos das portas e as janelas em arco pleno.

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