Arquitetura

Eles reinventaram o conceito de casa

Luan Galani
28/05/2015 01:00
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Foto: Matt Coldicutt/Divulgação

Falar em arquitetura contemporânea sem citar os asiáticos é sacrilégio. Sem exageros. Os profissionais do continente são verdadeiros mestres da reinvenção. Criam técnicas novas de construção, utilizam materiais nos quais ninguém mais bota fé e ousam fazer diferente. Tudo isso tornou o terreno fértil para arquitetos, designers e clientes testarem sem medo os limites do design e da arquitetura, formando uma verdadeira escola de experimentação.
Tudo passou a ser permitido: escadas sem corrimão, casas sem janelas, residências com formas geométricas inusitadas, construções sem paredes e até completamente transparentes. Os arquitetos asiáticos reinterpretaram suas tradições marcadas pela monumentalidade, solidez e precisão. Passaram a ser conhecidos pela inovação de materiais e formas, pela harmonia dos projetos com a natureza, pela multifuncionalidade dos espaços e pela depuração formal, primando pelo minimalismo.
Os resultados estão aí. Taipei – o coração político de Taiwan –, foi coroada capital mundial do design de 2016. E, das últimas seis edições do Prêmio Pritzker, uma das maiores honrarias da arquitetura internacional, quatro vencedores são da Ásia. Como é o caso dos japoneses Shigeru Ban, Toyo Ito, Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa (premiados juntos), e o chinês Wang Shu.
Como atesta o professor de arquitetura contemporânea da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Antonio Manoel Castelnou, “a criação de estruturas inusitadas, o emprego de técnicas e materiais novos [bambu, plástico, papel, papelão, fibras de papel reciclado e tijolos reutilizados], a plástica revolucionária de caráter simbólico [como ligação com a luz solar, apropriação da ação do vento e harmonização com a natureza] e as preocupações com a sustentabilidade socioambiental marcam o trabalho de todos eles”.
Transitoriedade e design para todos
A paixão dos profissionais asiáticos pela inovação tem um DNA cultural. Como lembra Alastair Townsend, arquiteto norte-americano radicado em Tóquio e um dos fundadores do escritório BAKOKO, a frequência de terremotos os ensinou a não levar os edifícios tão a sério. Afinal, todos vão abaixo algum dia. O desapego é a regra.
No caso do Japão, Townsend afirma que as pessoas estão acostumadas com a efemeridade das construções porque as casas se desvalorizam ao longo dos anos, como é o caso dos carros no Ocidente. Em geral, depois de 15 anos uma residência perde valor e é demolida com apenas 30 anos de vida.
Essa maneira de encarar a arquitetura acaba resultando também em sua popularização. “Lá os projetos não são vilas de luxo apenas para uma elite. Na verdade, muitas são casas de classe média. E o que os move é um forte desejo pela autenticidade”, justifica Townsend.
Shigeru Ban
Arquiteto japonês, de 57 anos, que por mais de 20 tem sido um arauto da criatividade extrema e da sustentabilidade. Sem perder a humanidade que lhe é peculiar. É acontecer um desastre natural, e lá está ele: Ruanda, Turquia, Itália, Haiti e até no Nepal, ajudando a construir casas, igrejas e centros comunitários. Seus tijolos são materiais do dia a dia, como contêineres, bambu, tecidos, papel, plástico e papelão. Foi assim que levantou o Centro Pompidou-Metz (primeira foto), museu de arte moderna e contemporânea na França.
Foto: Daici Ano/Divulgação
Foto: Daici Ano/Divulgação
Toyo Ito
Quando o nome do japonês Toyo Ito, 73 anos, é citado no cenário da arquitetura, muitos costumam dizer que o japonês é um verdadeiro mestre: prefere produzir inovação do que apenas consumi-la. Ele sempre procura dar um sentido transcendente e até esotérico às construções e usa materiais e componentes industriais em suas criações, como metal expandido, chapa perfurada de alumínio e tecidos permeáveis. Uma de suas criações mais emblemáticas é o Museu de Arquitetura Toyo Ito (foto), na cidade japonesa de Imabari-shi. A estrutura escura, hermética e poliédrica é uma homenagem às formas que tanto inspiraram a humanidade, como na teoria das órbitas de Kepler ou das figuras de Escher.
Foto: Hisao Suzuki/Sanaa
Foto: Hisao Suzuki/Sanaa
Ryue Nishizawa e Kazuyo Sejima
Delicada, precisa e fluida. Assim é a arquitetura traçada pela dupla japonesa Ryue Nishizawa, 49 anos, e Kazuyo Sejima, 59 anos. Eles valorizam a interação de suas construções com o entorno por acreditar que os prédios são como montanhas que nunca devem perder suas conexões naturais com o meio. Sua obra mais aclamada é o Centro de Aprendizado Rolex da Escola Politécnica Federal de Lausanne (foto), na Suíça. É um complexo de estudos e convivência que, apesar de ser retangular, se destaca pelas formas onduladas do teto e do piso. A estrutura é transparente e os suportes de sustentação invisíveis, o que demandou a criação de novos métodos de construção.
Foto: LV Hengzhong/Divulgação
Foto: LV Hengzhong/Divulgação
Wang Shu
Este chinês de 51 anos foi o primeiro arquiteto de seu país a receber um Pritzker. Sua principal marca é também uma característica rara entre os arquitetos: construções com presença monumental que criam um ambiente funcional e calmo para as atividades diárias. É assim com o Museu de História de Ningbo (foto), na costa leste da China. Ele foi construído com materiais reciclados, como bambus, telhas e tijolos reaproveitados. Sua forma geométrica criou uma montanha artificial no terreno plano em que foi erigido, com direito a vales, cavernas e cursos d’água.

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