Arquitetura

Greca ignora especialistas e autoriza demolição de casa histórica

HAUS*
14/06/2017 21:40
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A Casa Stenzel foi demolida pela Prefeitura depois de ter sido atingida por um incêndio em 14 de junho de 2017. Foto: Arquivo/Hugo Harada/Gazeta do Povo

A ordem de demolir a Casa Erbo Stenzel no Parque São Lourenço, vítima de um incêndio na madrugada desta quarta-feira (14) e considerada por especialistas a construção de madeira mais emblemática de Curitiba, partiu do prefeito Rafael Greca (PMN).
A decisão veio após reunião com o secretário do Meio Ambiente, Sergio Galante Tocchio, o secretário da Defesa Social, Algacir Mikalovski, a superintendente da FCC, Ana Cristina de Castro, e um representante da Cosedi, como atesta a assessoria de comunicação da prefeitura. Mas sem o consentimento prévio do diretor de patrimônio da Fundação Cultural de Curitiba, Marcelo Sutil, e do coordenador da Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi), Marcelo Solera, como contaram os dois à reportagem.
Segundo o departamento de patrimônio da FCC e a Cosedi, a demolição foi necessária pelo fato de a casa oferecer risco aos frequentadores do parque. Porém, todos os especialistas em patrimônio e arquitetura ouvidos pela reportagem discordam da decisão.
Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo
Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo
Para arquiteto José La Pastina Filho, ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Paraná, a justificativa é infundada. “Era só isolar a área da casa. Não precisava demolir”, frisa La Pastina. “Outra alternativa era desmontar a casa para recuperá-la mais tarde. É um choque saber que fizeram isso com a casa.”
O arquiteto Cláudio Maiolino, que atuou na transferência da Casa Estrela, entre outros projetos icônicos da capital paranaense, concorda que a estrutura que não chegou a ser atingida pelo fogo poderia ter sido salva, especialmente por se tratar de um imóvel com valor histórico e arquitetônico.
“Poderia se fazer uma intervenção arquitetônica para a reconstrução da parte danificada, deixando claro no restauro o que foi reconstruído e o que remetia à construção original. Não vi o grau de comprometimento da casa após o incêndio, o que torna difícil o julgamento, mas mesmo as tábuas, dependendo do nível do dano, poderiam ter sido resgatadas”, avalia. “Apagar imediatamente a construção, que é um dos poucos exemplares da arquitetura da madeira da cidade, não seria a melhor solução”, completa.
Pelas redes sociais, Greca volta atrás e promete: “Vamos recuperá-la com uso adequado ano que vem. Nada deve ficar sem uso. Era a casa de Erbo Stenzel escultor, cenário da nossa infância. Foi feito seu deposée na gestão da minha Margarita Sansone na Fundação Cultural de Curitiba” (sic).
Contudo, não deixa claro como fará para recuperar a casa. Ao que tudo indica a prefeitura tentará levantar uma réplica da construção. Procurada pela reportagem, a assessoria do prefeito não se manifestou até as 20h22 desta quarta-feira.
Como era a Casa Stenzel, que foi transferida do bairro São Francisco para o Parque São Lourenço. Foto: Fred Kendi/Gazeta do Povo
Como era a Casa Stenzel, que foi transferida do bairro São Francisco para o Parque São Lourenço. Foto: Fred Kendi/Gazeta do Povo
Erguida originalmente em 1928 no bairro São Francisco por Germano Roessler, a casa foi transferida para o parque em 1998, e desde então estava abandonada e fechada há seis anos. Arquitetonicamente falando, a casa não se encaixa em nenhuma tipologia conhecida pelos almanaques.
De acordo com o arquiteto Key Imaguire Junior, “ela era um exemplar único, algumas soluções usadas ali não existem em nenhuma outra construção.” Sua exclusividade reside no pé direito externo, que foi aumentado para facilitar a habitabilidade do sótão.
Descendente de alemães e austríacos, Stenzel foi artista, tradutor e professor da Escola de Belas Artes e Música do Paraná. Como um dos únicos detentores de prensas de gravura na época, Stenzel era o socorro de diversos artistas paranaenses, que recorriam a ele para imprimir seus trabalhos, como era o caso do pintor italiano Guido Viaro. Stenzel nunca se casou. Ficou no imóvel até seus 60 e poucos anos e depois foi para o Lar Dona Ruth, uma casa de repouso particular  entre Curitiba e Almirante Tamandaré, onde veio a falecer em 1980.

Veja como ficou a área da casa no Parque São Lourenço

O que restou da mais emblemática casa de madeira do Paraná. Foto: André Santos
O que restou da mais emblemática casa de madeira do Paraná. Foto: André Santos
*André Filho, Carolina Werneck, Luan Galani e Sharon Abdalla

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