Arquitetura

Integrada a área de preservação, casa na região de Curitiba é um convite ao descanso

HAUS
17/08/2017 18:00
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A construção retangular em tijolos aparentes parece compor a paisagem do bosque que a circunda. Foto: Divulgação | Carolina Werneck Bortolanza

Linhas retas e materiais brutos parecem pousar em meio à natureza que rodeia “Michelle”, uma casa de 340 m² em Araucária. O projeto é da Yva Arquitetura, de Curitiba, e foi desenvolvido para respeitar os quase 80% de Área de Preservação Permanete (APP) do terreno.
Para combinar com um entorno tão convidativo, a simplicidade da arquitetura é regra. “Esforçamo-nos muito para ir direto ao ponto, sem adornos ou conceituações complicadas. Tudo que era desnecessário foi eliminado ao longo do processo. O que ficou de pé? A valorização do contato com a natureza”, explica Yuri Vasconcelos, um dos responsáveis pelo projeto. Ele explica que a opção por linhas mais retas evidenciou o contraponto que a construção representa ao que é natural. Mas isso não quer dizer que a casa “apaga” o bosque. Pelo contrário, ela usa o espaço emprestado por ele sem ofuscá-lo. Baixa, permite que as árvores sejam vistas acima de sua silhueta. Essa ideia foi levada tão a sério que o cliente chegou a gastar R$ 15 mil a mais para colocar a caixa d’água em uma torre no meio do bosque. Tudo para não criar um volume extra sobre a construção.
A suíte tem janelas voltadas para as árvores do terreno. Para garantir privacidade basta fechar as cortinas. Foto: Divulgação
A suíte tem janelas voltadas para as árvores do terreno. Para garantir privacidade basta fechar as cortinas. Foto: Divulgação
O respeito ao meio ambiente e à paisagem nativa foi mantido até na hora de determinar a posição da casa no lote. Ela foi erguida em uma clareira em que o antigo dono da fazenda costumava deixar seus cavalos. Assim, mesmo sendo tão espaçosa, não exigiu a derrubada de árvores. O terreno fica a apenas 30 minutos do centro de Curitiba, mas todo esse cuidado com a natureza mantém os ares de tranquilidade transmitidos pela floresta. “Não há sinal de celular, internet ou telefone na região. O cliente abriu mão destes confortos em nome de prazeres mais básicos e simples. O irônico é que ele trabalha com tecnologia”, conta o arquiteto da Yva.

Portas e janelas sempre abertas

Três áreas diferentes transmitem a ideia de quais espaços da casa Michelle são sociais e quais são íntimos. A área de serviço, assim como a privativa, está separada do resto do imóvel por paredes. Já a sala e a cozinha são integradas. As muitas janelas dão a sensação de se estar totalmente conectado com a paisagem bucólica que há do lado de fora. Para Vasconcelos, a experiência sensorial conduz os moradores e visitantes por essas áreas. “O próprio caminhar pela casa sugere o que é íntimo e o que é social. Por exemplo, ao entrar no corredor que vai aos quartos, a iluminação é bem mais intimista, o espaço se reduz. A percepção do espaço muda. Você pensa ‘este lugar é diferente daquele ali atrás’, então você adota uma outra postura.”
Amplas portas de correr projetadas em vidro deixam a casa ainda mais conectada à paisagem. Foto: Divulgação
Amplas portas de correr projetadas em vidro deixam a casa ainda mais conectada à paisagem. Foto: Divulgação
Por sua vez, a decoração carrega muito da personalidade da família que vive ali. Alguns móveis foram projetados pelos arquitetos da Yva para acomodar os objetos dos donos do imóvel. “Sabíamos que ele tinha uma coleção de vinis herdado dos pais, livros, presentes e objetos de viagens. Então projetamos uma grande estante embutida na parede dupla, no lado sul da casa, repleta de prateleiras.” Os espaços amplos e abertos permitem uma utilização livre e variada. Os detalhes da iluminação ajudam a tornar a residência ainda mais acolhedora. Com o teto quase sempre livre, ela mostra seus efeitos nos ambientes internos sem se tornar ponto de foco. “Ela está sempre próxima às paredes, colunas, cortinas e estantes. Vários pontos foram colocados no piso também, para iluminar o teto e este, por sua vez, espalhar a luz ao ambiente. O resultado foi uma casa iluminada de forma suave, valorizando as colunas, paredes e tetos brancos.” Objetos como pendentes e abajures aparecem apenas pontualmente.
Uma estante desenhada pelos arquitetos da Yva guarda objetos pessoais, como uma coleção de vinis. Foto: Divulgação
Uma estante desenhada pelos arquitetos da Yva guarda objetos pessoais, como uma coleção de vinis. Foto: Divulgação

Tijolos, tempo e música

Enquanto desenhavam os detalhes da casa, os arquitetos Yuri Vasconcelos, Alexandre Lima e Gregório Temczuk costumavam ouvir “Michelle”. A canção foi gravada pelos Beatles no álbum Rubber Soul, de 1965. Composta por Paul McCartney, embalou a equipe ao longo dos três anos transcorridos entre o início do projeto e a finalização da obra. Por isso, acabou dando nome à residência. “O cliente foi formidável ao perceber que um bom projeto leva tempo, assim como a execução da obra. Observamos hoje em dia esta ânsia imediatista da cultura contemporânea. Isso prejudica de forma irremediável a qualidade do que será construído. Provavelmente não estaremos aqui em algum tempo, mas a obra sim. Ela permanece”, avalia Vasconcelos.
Os pilares em concreto aparente não escondem sua função de sustentar a casa. Foto: Divulgação
Os pilares em concreto aparente não escondem sua função de sustentar a casa. Foto: Divulgação
“A horizontalidade da fachada foi reforçada pelo alinhamento dos tijolos aparentes. Ele assenta a residência ao solo. Estabiliza visualmente a construção.” O uso dos tijolos aproxima ainda mais a casa da natureza. O material é natural e combina com perfeição com o bosque. No interior da residência há, ainda, quatro pilares feitos em concreto aparente. Eles têm o papel de sustentar a construção sem se esconder. No piso foram usadas réguas de madeira para garantir conforto térmico. As exceções são os banheiros, que levam revestimento de mármore e porcelanato.
A escolha dos tijolos deixou as linhas retas da construção ainda mais evidenciadas. Foto: Divulgação
A escolha dos tijolos deixou as linhas retas da construção ainda mais evidenciadas. Foto: Divulgação

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