Arquitetura

Muro de vidro anunciado por Dória pode causar danos à fauna, dizem especialistas

Carolina Werneck*
28/07/2017 10:30
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Prefeitura de São Paulo anunciou que vai substituir os 2.200 m de muro de concreto por barreira de vidro na Marginal Pinheiros. Foto: Prefeitura de São Paulo/Divulgação

Especialistas em biologia e zoologia alertam que a substituição do muro de concreto por uma barreira de vidro entre a Marginal Pinheiros e a Raia Olímpica da Universidade de São Paulo (USP) pode causar problemas para a fauna local. A obra foi anunciada na última quarta-feira (19) pelo prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB).
De acordo com um levantamento da American Bird Conservancy, dos Estados Unidos, mais de um bilhão de aves morrem ao colidir com janelas e grandes vidraças em ambientes urbanos todos os anos. O Brasil, por sua vez, não dispõe de dados sobre o assunto, diz Regina Helena Ferraz Macedo, do departamento de zoologia da Universidade de Brasília (UNB). Outra especialista a criticar as estruturas de vidro é a bióloga Roberta Boss, do Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa, desenvolvido pela Sociedade de Preservação da Vida Selvagem (SPVS). “Mesmo a gente às vezes não enxerga o vidro e acaba trombando nele. As aves passam voando e vão trombar. Algumas vão morrer na hora e outras vão morrer depois, em decorrência da colisão, mas a gente não vai conseguir ver”, explica ela.
O projeto é assinado pelo escritório de arquitetura Jóia Bergamo e vai usar vidro temperado de 10 milímetros de espessura. A ideia, segundo Dória, é “devolver o território da USP para São Paulo, aumentando a visibilidade desta área de uma forma integrada com a sociedade”. O paredão a ser levantando entre a Marginal e a universidade terá um metro de altura de muro de concreto e mais quatro metros de vidro. “Quanto mais alto for o muro de vidro, mais prejudicial para a avifauna. Mas, ainda que ele fosse mais baixo, teria impacto”, diz Roberta.
Para especialistas em vida animal, a utilização do vidro pode causar acidentes com aves. Foto: Prefeitura de São Paulo/Divulgação
Para especialistas em vida animal, a utilização do vidro pode causar acidentes com aves. Foto: Prefeitura de São Paulo/Divulgação

Integração

Segundo divulgado pela Prefeitura, a ideia da troca do concreto pelo vidro é promover a integração da área interna do campus da USP com a cidade. O argumento, entretanto, é contestado pelo professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP) Alvaro Puntoni. “Essa é uma questão puramente visual, mas ineficaz, porque a gente está falando de abrir para a marginal. Aquela é uma via pela qual as pessoas passam a 90 km/h. Nessa velocidade você não vê nada.” Ele afirma que o ambiente da Marginal não é uma paisagem muito agradável para ser apreciada.
A abertura da USP para a comunidade é uma discussão antiga na universidade. Puntoni lembra que, há alguns anos, a linha amarela do metrô de São Paulo fez uma consulta para instalar uma estação dentro do campus. Ele diz que, na época, a reitoria não permitiu que a obra fosse feita. “Há esse mito de que a segurança é garantida por muros. A gente costuma chamar a desigualdade social de insegurança e fica tentando encontrar soluções paliativas, como um muro, seja ele de concreto ou de vidro.” Para ele, se a ideia é realmente promover a integração com a comunidade, o ideal seria abri-la para os frequentadores que não têm vínculo com a instituição. Quanto a derrubar os muros, o professor vai além. “O problema é de todo mundo. Eles não tiram as grades dos parques e os muros da USP porque têm receio. Se acontece alguma coisa quem é o responsável? Ninguém quer ser, é mais fácil botar uma grade em volta de tudo.”
Questionada a respeito das críticas feitas pelos especialistas, a Prefeitura de São Paulo não quis se pronunciar e encaminhou à reportagem um link com a notícia do lançamento do projeto. A alteração será bancada pela iniciativa privada e terá um investimento inicial de R$ 15 milhões.

*Especial para a Gazeta do Povo.

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