Design

Conheça o brasileiro que transforma itens de banheiro em peças de arte

Luan Galani
11/05/2017 14:00
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Fotos: Divulgação

Rubens Szpilman é referência internacional na produção de cubas, lavatórios e acessórios para banheiro e lavabo. O designer e artista plástico carioca faz parte do seleto time de profissionais que cria peças para a mais sofisticada rede de boutiques de banho do mundo, a Water Works.
Seus produtos têm uma identidade única que valoriza o saber artesanal, a reutilização de material e a resina de poliéster, comumente usada no conserto e fabricação de pranchas de surfe. Rubens Szpilman leva a fixação que tem pelo mar em todas as suas criações. Foi assim que começou em 1988, ainda na moda, quando criou a Squalus e fez sucesso no Brasil e no mundo com acessórios de moda praia.
Você se considera designer ou artista plástico?
Iniciei minha carreira como artista plástico-escultor em 1984. Minha formação acadêmica foi de três anos e meio de engenharia elétrica na federal do Rio de Janeiro, um ano de comunicação social na federal do Espírito Santo e mais dois anos e meio de artes plásticas na mesma universidade. Apesar de não ter concluído estes cursos, foi uma formação bem heterodoxa e importante para o designer de produtos que me tornei.
Cadeira Zele, criação de Rubens Szpilman.
Cadeira Zele, criação de Rubens Szpilman.
Qual conceito você tem em mente ao desenvolver produtos para banheiros?
Alguns conceitos são essenciais na criação de acessórios para banheiro ou qualquer peça utilitária. É preciso pensar no seu uso no dia a dia aliando a estética à função, lembrando também de outros aspectos como higiene e durabilidade em um ambiente úmido. Como artista plástico tenho sempre em mente aliar o prazer do uso cotidiano do objeto à beleza estética da escultura. Nesta coleção que estou lançando, com uso de LED, existe uma preocupação também com o conforto e a segurança no uso do banheiro à noite.
Desde o tempo da moda, em que criava acessórios de praia, as referências marítimas são muito presentes no seu trabalho. De onde veio essa fixação?
Essa parece ser uma fixação de família. Uma grande afinidade com o mar e sua fauna. Nasci em Copacabana e desde cedo pegávamos “jacaré”, eu e meus irmãos, sob a supervisão do meu pai, em pranchas de isopor. Mais tarde os primeiros mergulhos com máscara e pés de pato ao longo do costão do quartel do exército no posto 6. Depois veio o surfe e a pesca submarina. Hoje meu irmão David, médico, é uma grande autoridade em afogamentos, e Marcelo, irmão gêmeo, biólogo marinho, é o diretor presidente do AquaRio, recém inaugurado aquário do RJ.
Por que você optou pela resina de poliéster para usar em suas peças? O que te atrai?
A resina entrou na minha vida consertando e ajudando na fabricação de pranchas de surfe. Com o tempo fui descobrindo a enorme versatilidade da resina de poliéster e a relativa facilidade de uso inicial. Após tantos anos, ainda tento controlar e entender todos os segredos deste material surpreendente, capaz de assumir diversas formas e parecer o que não é.
Banheira Canoa, criação de Rubens.
Banheira Canoa, criação de Rubens.
Como você descreveria sua própria linguagem de design?
Uma característica marcante do meu trabalho são as transparências, os volumes e os contrastes. É do contraste do polido com o fosco que surgem os volumes, dando a impressão de que flutuam uns dentro dos outros. As cores também são marcantes e junto com as transparências criam inúmeros tons e reflexos.
Hoje se fala muito em resgatar os saberes artesanais, uma espécie de slow design. Qual a importância dessas técnicas no design?
No meu caso sempre usei as técnicas de escultura na criação dos modelos e moldes para fundição da resina de poliéster. Hoje convivo com uma dialética muito interessante. Passamos a usar recentemente modernas tecnologias como CAD, modelagem virtual e impressão 3D em alguns projetos, mas ao mesmo tempo sigo em um sentido de elaborar cada vez mais os objetos que crio em vez de facilitar sua confecção.
Tenho justamente buscado reforçar o fazer manual e o acabamento artesanal, que sempre foram características do trabalho com resina de poliéster polida. Falando dos produtos que estamos lançando, que envolvem a reutilização de madeiras descartadas pelo ataque de cupins, eles são essencialmente artesanais e únicos, já que os desenhos e volumes nunca se repetem e permitem que sejam feitas em vários tamanhos e formatos.
Qual a grande urgência do design hoje?
Honestamente, não vejo nenhuma urgência no design nos dias atuais. O que vejo é uma urgência das pessoas em função de tanta informação em tempo real e mídias sociais. Uma urgência em estar ligado ou logado o tempo todo. Isso cria uma ansiedade generalizada, que também acaba atingindo os produtores de design de todos os tipos.
Linha de acessórios para banheiro criada por Rubens possui acabamento em ouro 24 quilates.
Linha de acessórios para banheiro criada por Rubens possui acabamento em ouro 24 quilates.
A arquitetura e o design às vezes vivem em uma bolha, fechados em si mesmos. Como você vê a tentativa de democratização desses conhecimentos?
Acho válida a democratização do conhecimento do fazer design, mas me preocupa a vulgarização que o termo está tomando com tantas pessoas se autodenominando designers e a velocidade com que isso acontece. Acho que a democratização destes universos já é um fato nas redes sociais e digitais, como Instragram e o Pinterest, e isso é irreversível. Cabe ao artista/designer fazer pesquisas e experimentações em busca de uma linguagem própria.
Tem novidades e projetos que pode adiantar para nós?
Lancei recentemente um novo catálogo com ênfase na durabilidade dos produtos, em contraponto ao descartável. Criamos um nova linha de válvulas para sabonete líquido, tampas e grelhas em aço inox polido em substituição ao latão cromado, oferecendo garantia para toda a vida útil do produto (resina+aço inox), ou seja, mais de 50 anos. Um retorno ao tempo em que os produtos eram consertados e ou recuperados e não descartados com alguns poucos anos de uso. Estamos lançando uma linha que une madeiras antigas, recuperadas de peças quase destruídas por cupins, à resina de poliéster iluminada com LEDs. Os desenhos e volumes orgânicos esculpidos pelos cupins, ao longo de dezenas de anos, são preenchidos pela resina, criando um universo de luzes, cores e reflexos.

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