Design

Designer de sucesso critica a indústria da criação de produtos sem necessidade

Luan Galani
15/11/2017 21:00
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" Minha maior divergência [com a indústia brasileira]é o senso de urgência de tudo ser muito rápido. Não há tempo de matu ração, entendimento das coisas e já há a demanda pelo novo." Foto: Divulgação

Tudo que o arquiteto e designer catarinense Jader Almeida produz tem bossa. Identidade brasileira nua e crua a partir de uma linguagem madura e despretensiosa que remete às nossas melhores tradições, como o modernismo e a própria bossa nova. Sua marca é a simplicidade espartana. E isso aos 36 anos, o que torna o designer um dos mais jovens brasileiros a achar seu espaço no setor, inclusive internacionalmente. Hoje produz peças para grandes marcas, como a brasileira Sollos e a alemã ClassiCon, e coleciona prêmios que exaltam cada vez mais o caráter brasileiro e universal de suas criações. No bate-papo eletrônico com HAUS, o designer critica a obrigatoriedade da indústria de design por lançamentos anuais cada vez mais rápidos, que não encontram tempo de entendimento e maturação entre os consumidores e acaba por mergulhar o setor em uma repetição do que já existe.
Você vê o seu trabalho com uma identidade mais universal ou mais brasileira?
Poderiam haver inúmeras respostas, mas, sendo mais genérico diria universal e isso também pode ser brasileiro, já que somos um país com dimensões continentais, plural e multicultural.
Brasilidade está presente nas obras de Jader Almeida. Foto: Divulgação
Brasilidade está presente nas obras de Jader Almeida. Foto: Divulgação
Que Brasil é esse que você leva em suas criações ou que te inspira a criar?
Gosto do Brasil sofisticado, do modernismo, da bossa nova, da leveza e da beleza despretensiosa
Somos mestres em lidar com a madeira. O que a nossa madeira tem? Só a gente consegue dar esse gingado, em sua opinião?
Na verdade, é como uma consequência. Naturalmente, tivemos certa abundância no passado e a madeira encontra-se praticamente pronta para o uso. A utilização como matéria-prima demanda pouca tecnologia e energia. Superado isso, os arquitetos modernistas foram muito bem-sucedidos no design de mobiliário e isso nos deu uma tradição nesse sentido.
A madeira está presente em diversas criações do designer catarinense. Foto: Divulgação
A madeira está presente em diversas criações do designer catarinense. Foto: Divulgação
Você é um entusiasta da simplicidade espartana, do racionalismo inteligente. Como enxerga o mercado da decoração hoje, em que tantos tentam fingir ser algo que não são ou que não se aproximam da simplicidade. Como vê isso?
Penso que é muito bom termos liberdade de pontos de vista e diversos “gostos”. No entanto, concordo que há muitos excessos de propostas sem contundência e sempre é mais fácil adicionar que subtrair. Para alguns, o belo é o rebuscado. Para outros, o belo é o essencial.
O morar hoje. Como você avalia? Está em transformação?
Acredito que sempre esteve. Somos reativos às evoluções tecnológicas, culturais e econô- micas. Ao lançar um rápido olhar para algumas culturas, em alguns casos é possível perceber um movimento, uma busca por segurança, um local onde as pessoas possam ser elas mesmas sem as devidas edições do dia-dia e isso impacta em uma exigência por bons produtos, por um bom design.
Você pensa em fazer algum produto mais democrático?
Hoje “jaderalmeida” é uma assinatura ligada a produtos mais exclusivos. Isso é uma estratégia de marca, um nicho de mercado. Mas não vejo problema algum em fazer algo de boa qualidade para uma maior audiência.
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
A indústria brasileira tem vários vícios. Qual o pior dela, a maior dificuldade, do ponto de vista do design? Qual o nosso maior pecado?
Não diria apenas a indústria, mas sim toda a cadeia produtiva. Minha maior divergência é o senso de urgência de tudo ser muito rápido e isso é um reflexo de nós mesmos como consumidores e da avidez por novidades. Muitas vezes não há tempo de maturação, entendimento das coisas e já há a demanda por coisas novas que nem sempre são tão novas assim, mas apenas uma repetição daquilo que já existe.
Novidades. O que está planejando agora?
A expansão comercial para diversos países.
Quais as suas dicas para quem está começando e quer seguir seus passos? Como achar identidade própria?
Dicas são sempre questionáveis, já que não há apenas um caminho. Mas costumo dizer que paciência é um grande ingrediente.
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