Além do óbvio

Design

Designer israelense cria objetos artísticos e tijolos com sobras de sal do Mar Morto

Fernanda Massarotto, especial para HAUS
02/02/2023 14:15
Thumbnail
Erez Nevi Pana relembra com nostalgia suas primeiras incursões no mundo do design. Aos 39 anos, o designer israelense desde muito pequeno adorava passar horas e horas ao lado do irmão no viveiro de plantas da família. Não é de surpreender que suas primeiras criações tenham sido realizadas com terra, folhas e flores. O que nem mesmo ele poderia imaginar é que, anos mais tarde, se tornaria um dos nomes mais importantes do chamado design vegano. E o título atribuído a Erez Pana não lhe incomoda. Pelo contrário.
 Erez Nevi Pana é um dos mais importantes nomes do chamado design vegano.
Erez Nevi Pana é um dos mais importantes nomes do chamado design vegano.
"Eu me sinto honrado em ter meu nome associado a um design ético e naturalista. E essa filosofia eu também adotei na minha vida pessoal tornando-me vegano. Gostaria que outros colegas seguissem esse caminho", comenta o isralense em entrevista exclusiva à HAUS.

Sal, o material perfeito

Vegano em todos os sentidos, Erez Nevi Piana há anos adota o uso de materiais de reciclagem para a produção de suas obras de design como, por exemplo, retalhos de cortinas da sueca Ikea, maior varejista de mobiliário "faça você mesmo", e fios obtidos por meio de fibra de bananas. Mas o elemento que mais atrai o israelense é, sem dúvida, o sal.
Exposição Milan Tropical, com fios obtidos a partir da fibra de bananas.
Exposição Milan Tropical, com fios obtidos a partir da fibra de bananas.
"Um material que todos pensam ser decadente e banal. Na minha opinião é subestimado", defende o designer, que se apaixonou pelo sal marinho em uma das suas férias de verão no Mar Morto, o maior lago salgado do mundo, que fica a 400 metros do nível do mar.
"Enquanto dirigia pelo deserto de Israel, vi uma enorme montanha branca. Fiquei fascinado. Após uma breve pesquisa, descobri que 20 milhões de toneladas de sal do Mar Morto são descartadas pela indústria da extração de alúmen de potássio, popularmente chamado pedra hume, e bromo", explica detalhadamente Pana.
Sal descartado do Mar Morto é uma das matérias-primas reaproveitadas com as quais o designer trabalha.
Sal descartado do Mar Morto é uma das matérias-primas reaproveitadas com as quais o designer trabalha.
O impacto criativo levou o designer a elaborar uma técnica especial posteriormente patenteada. "O sal descartado fica à mercê das fábricas para ser removido. Reaproveitá-lo para a indústria não vale a pena em termos financeiros. E assim, acabam jogando fora", relata o israelense que passou a coletar a matéria-prima. Em seu laboratório, ele prensa e aquece o sal para, finalmente, transformá-lo em blocos, tijolos e azulejos. "O resultado é um material duro e resistente como o mármore e completamente idôneo para ser utilizado em projetos arquitetônicos", explica.
Banco feito de luffa antes de ser "mergulhado" no mar.
Banco feito de luffa antes de ser "mergulhado" no mar.
E a paixão pelo sal marinho não acaba por aí. Erez Pana também trouxe o material para dentro de casa. Suas peças são únicas. Cadeiras e bancos feitos de luffa (fruta com a qual se obtém a bucha vegetal usada para tomar banho) são deixados nas profundezas do mar para que, com o passar do tempo, cristalizem-se e formem verdadeiras obras de arte.
O mesmo banco após a cristalização pelo sal.
O mesmo banco após a cristalização pelo sal.
"Obviamente, não são móveis funcionais", ri o designer vegano. "Digamos que os bancos de sal não são para sentar, servem como uma declaração de como vejo o design do século 21 – especulativo e crítico, sustentável e ético, bonito e confortável para as nossas mentes", aponta.
O sonho de Erez Pana é, em um futuro próximo, criar uma cidade totalmente construída de blocos de sal. O primeiro passo já foi dado, tanto que seus tijolos produzidos com o material descartado do Mar Morto estão expostos na coleção permanente da National Gallery de Victoria, na Austrália. Enquanto devaneia, o designer vegano percorre o mundo com suas mostras artísticas.
A última, "Homecoming" ("Volta à casa", em tradução livre), foi apresentada em Hamburgo, na Alemanha, com Maria Cristina Didero. A colaboração com a curadora italiana já rendeu vários projetos de sucesso. Em 2020, a dupla apresentou em Milão a instalação "Tropical Milan", um vilarejo imaginário onde os moradores, devido às mudanças climáticas, passam a viver em casulos feitos de tecido de fibra de banana.
Peças em sal têm apelo artístico, não funcional.
Peças em sal têm apelo artístico, não funcional.
Os planos para o futuro incluem uma exposição, em 2025, nos Estados Unidos, mais precisamente na Filadélfia, para aonde Erez Pana promete levar uma ovelha e um elefante para promover um debate sobre a sustentabilidade e as espécies em vias de extinção. A fauna e a flora estão constantemente presentes nas criações do israelense, que também estudou Biologia e é admirador incondicional do arquiteto italiano Ettore Sottsass, que define como o grande pensador e profissional que ultrapassou todos os limites do design, deixando um legado que influencia as novas gerações.
"E, é claro, não poderia não mencionar os Irmãos Campana, que eu adoro. A forte identidade e a relação deles com o Brasil me serviram de inspiração. Fiquei muito triste com a notícia do falecimento do Fernando. Só espero que Humberto continue trabalhando com esse espírito que nos emociona com suas brilhantes obras", reflete Erez Pana em uma singela homenagem aos colegas brasileiros.

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!