Design

Maior nome do design brasileiro conclama colegas a servir às pessoas mais simples

Sharon Abdalla
11/03/2017 22:52
Thumbnail

Foto: Rodrigo Zorzi / Divulgação

Duas redes vermelhas penduradas em estruturas de ferro e mármore. Com esta instalação, assinada para o estande da Michelangelo Mármores na Expo Revestir 2017, o designer carioca Zanini de Zanine exalta a identidade brasileira e chama a atenção para a interatividade mais humana e calorosa em substituição à realizada por meio das redes sociais.
Em entrevista a HAUS, o premiado profissional também fala sobre as linhas de revestimento que assina para a Solarium e sobre o papel e o espaço que o design nacional vem conquistando dentro e fora do país. Confira:
Foto: Rodrigo Zorzi / Divulgação
Foto: Rodrigo Zorzi / Divulgação

Qual é o conceito que você trouxe para o estande da Michelangelo?

A ideia era reforçar um produto já de qualidade, mas deixando claro que se trata de um mármore brasileiro. Então, nada mais emblemático do que trazer como referência e figura de mobiliário a rede, que é um instrumento muito utilizado desde as primeiras civilizações [que habitaram] o nosso território. Fizemos a aplicação de duas redes em uma estrutura metálica [revestida com] o mármore justamente para trazer essa percepção de que estamos falando de uma identidade e de um produto genuinamente brasileiros.
A segunda intenção dessa proposta é fazer a ligação com o mundo e o comportamento contemporâneos. Então, temos essa brincadeira junto às redes sociais. Esse é o segundo ponto de partida e significação da nossa instalação.

O que mais chamou sua atenção na Expo Revestir?

De modo geral, a grande notícia é perceber as colaborações entre marcas e designers. As marcas e as indústrias estão percebendo que o design é uma ferramenta de negócio, e não só uma ação de marketing, e que isso traz resultado e informação.

Além de fortalecer o mercado, isso também é uma forma de democratizar e de trazer o design para mais perto do dia a dia das pessoas?

Sim. O bacana é que é uma feira de construção, então a variedade de itens é muito grande. A possibilidade de aplicar o design nestas diferentes funções, e não só no mobiliário, que é o mais comum, aproxima muito a área do consumidor final, além de apresentar diferentes propostas. Dentro da feira temos materiais mais acessíveis e outros com maior valor agregado, o que populariza [o design] de uma forma muito importante para a área.

Você também assina algumas linhas de produtos apresentadas na Expo Revestir. Pode falar sobre elas?

Estamos apresentando duas séries: um revestimento para parede [linha Joá] e um cobogó [linha Leno], ambas pela Solaruim.

Essas linhas são suas primeiras criações mais voltadas à construção? Como foi essa experiência?

Sim, é a primeira colaboração diretamente para uma empresa que trabalha com material de construção. Foi uma colaboração de quase um ano no desenvolvimento deste projeto que funcionou de forma muito prazerosa, unindo o meu trabalho à qualidade que a Solarium já tem no mercado.

O cobogó Leno foi uma ideia sua?

Não, foi uma sugestão da marca. O cobogó é um elemento que funciona muito bem dentro da empresa, então nossa ideia foi a de trazer uma informação nova. O ponto de referência da linha Leno é o trabalho do Athos Bulcão, que foi um dos colaboradores de Brasília e tem um trabalho aplicado em diversos projetos do Niemeyer, e que eu pude acompanhar desde muito cedo por ter morado na capital com meu pai na década de 1980. Saímos deste ponto de partida e criamos uma linha bem versátil: são três módulos a partir dos quais é possível [montar] a composição.

O que podemos esperar para a Semana de Design de Milão, que acontece daqui a cerca de um mês?

Esta é uma boa pergunta. É sempre muito curioso, até porque a Europa ainda esta tentando se recuperar de uma crise muito forte. Soluções interessantes sempre são percebidas lá.

Na sua avaliação, o design brasileiro já conseguiu conquistar seu espaço ou este ainda é um caminho a ser desbravado?

É um trabalho de formiguinha. Eu vejo que amadurecemos bastante, devido a duas gerações muitos fortes: primeiro a dos modernistas, que começaram essa linguagem e identidade do móvel brasileiro e, em seguida, ao aparecimento dos [irmãos] Campana, no final da década de 1980, que deu um novo fôlego para o desenho nacional abrindo muitas portas na Europa, principalmente na Itália. Essa geração da qual eu faço parte está colhendo muito estes frutos e, ao mesmo tempo, tendo uma oportunidade muito forte junto às empresas. Está havendo muito reconhecimento lá de fora em relação ao que está sendo feito aqui, mas ainda tem muita coisa para a gente aprender.

Um caminho também é mostrar que o design faz parte da vida das pessoas e que não é algo destinado somente ao mercado de luxo?

Com certeza. A função do design é ter acessibilidade, poder atingir desde o muito rico até a pessoa com menor poder aquisitivo. Sem falar que, em termos de conteúdo, nós temos um prato cheio que é essa miscigenação do nosso país, que nos dá informações e referências das mais ricas possíveis. Quando conseguimos transmitir isso, seja em um produto ou móvel, aí sim conseguimos mostrar a força do desenho brasileiro e eles começam a reconhecer e valorizar mais ainda lá fora.

De todos os projetos que já assinou, qual é o mais significativo para você?

Cada um tem sua porcentagem, pois há produtos que não deram certo no mercado, mas que trouxeram um aprendizado e foram tão prazerosos de desenvolver quanto os que [tiveram sucesso]. Eu diria que é o conjunto de todo o trabalho.

E o que ainda falta para fazer?

Falta muita coisa. Essa questão dos espaços, de projetar ambientes, é muito interessante. Aos poucos estamos sendo convidados para fazer projetos que não são somente produtos. Tudo o que nos provocar é bacana, então falta muita coisa.

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!