Estilo & Cultura

As 11 personalidades que se escondem na Santos Andrade

Mariana Domakoski*
04/10/2016 22:56
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De autoria de João Turin, o busto do médico e primeiro reitor da UFPR, Victor Ferreira do Amaral, reverencia a instituição, posicionado de frente para ela desde 1937. Fotos: Leticia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi

Onze. Esse é o número de monumentos espalhados pela Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba. Se você se surpreendeu com a quantidade, não está só: quase todos pensam “mas onde?” quando ficam sabendo. Eles estão por todos os lados: do Teatro Guaíra ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná. Estáticos, observando todo o movimento, a poucos passos de distância um do outro. Durante um breve passeio, é possível admirar de todos os ângulos, posar para fotos e até tocar em obras esculpidas pelas mãos de artistas do Paraná, como João Turin e Erbo Stenzel.

Vejas fotos dos 11 monumentos da Praça Santos Andrade

Figuras de diferentes épocas e áreas de atuação estão ali, disponíveis para quem quiser ver. De repente, a poucos passos de uma parada de ônibus, o rosto da ponta-grossense Júlia Wanderley, suas mãos sobre um livro e um baixo-relevo de crianças lendo. Turin havia sido encarregado de representar a professora de várias gerações. O busto foi instalado em 1927.
Nilo Cairo da Silva também pode ser visitado. O médico de Paranaguá que se especializou em homeopatia foi um dos principais mentores da UFPR e, ainda em vida, homenageado com um busto feito pelo artista norueguês Alfredo Andersen, instalado no hall da instituição em 1921. Em 1933 a estrutura foi realocada para a Praça Santos Andrade, para receber os restos mortais de Nilo Cairo, que faleceu em 1928.
Busto de Nilo Cairo guarda os restos mortais do médico em frente à UFPR.
Busto de Nilo Cairo guarda os restos mortais do médico em frente à UFPR.
Santos Andrade e Santos Dumont têm espaço reservado. Passeando, é possível conhecer todos os fios do bigode do primeiro, advogado parnanguara atuante na política, que foi presidente da província do Paraná. Em 1950, exatos 50 anos depois de sua morte, foi encomendado ao escultor Erbo Stenzel um busto para homenageá-lo.
O pai da aviação ganhou um monumento em 1935, feito pelo italiano residente no Rio de Janeiro Iolando Malozzi. Nele um homem atlético segura um par de asas com uma hélice no meio.
A primeira e a última escultura instaladas na praça convivem quase lado a lado. A mais antiga, também feita por Andersen, do padre Ildefonso Xavier Ferreira, advogado, político e pró-independência do Brasil nascido em 1795 em Curitiba, foi colocada na praça em 1922. A última, feita pelos argentinos Alfi Vivern e Maria Inés Di Bella para homenagear a atriz paranaense de Irati Lala Schneider, foi instalada em 2012, bem de frente para o Teatro Guaíra.
Busto de Lala Schneider, de 2012.
Busto de Lala Schneider, de 2012.
Novo olhar
Não prestar atenção a essas esculturas pode ser uma grande perda. “A partir delas, podemos recontar nossa história. Ao deixá-las de lado, acabamos abrindo mão da nossa memória”, reflete Aparecida Bahls, historiadora da Fundação Cultural de Curitiba e coordenadora do levantamento histórico e fotográfico de obras de arte em lugares públicos na cidade.
Como afirma a arquiteta e urbanista Maria Luiza Marques Dias, professora de planejamento urbano do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, “em meio a edificações que são propriedades particulares, é no espaço público que nos sentimos donos da cidade, que nada mais é do que a casa de todos nós”.
A pressa da vida moderna e o fato de a praça ter virado apenas um lugar de passagem são algumas das explicações para os monumentos não serem percebidos. Para o designer Ivens Fontoura, professor dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Design da PUCPR, as pessoas não se identificam com as personalidades representadas, muitas vezes por falta de informação.
Busto de Plínio Tourinho, de 1969.
Busto de Plínio Tourinho, de 1969.
“Enquanto a obra bidimensional parece endeusar a pessoa, porque não pode ser tocada, a tridimensional é tátil, permite uma relação afetiva”, aponta Rosemeire Odahara Graça, professora de história das artes da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), defendendo que as peças sejam reencenadas na cultura.
Segundo Fontoura, é necessário o cultivo da curiosidade. “Em outro país prestamos atenção, fotografamos tudo. Por que não agir como turistas em nossa própria cidade?”, provoca.
* especial para a Gazeta do Povo

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