Em breve o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) terá um dragão. Você não leu errado. Um dragão. Esverdeado como os tipos que aparecem nas histórias de “Game of Thrones”, mas menor. Coisa do arquiteto Lauro Tomizawa, 74. Está só esperando um pequeno arbusto de vaso engordar um pouco mais para pôr as mãos na tesoura de jardinagem e dar vida ao bicho. Sinal de que voltou de vez ao instituto. Apesar da ascendência japonesa, Lauro é fascinado pela cultura chinesa e gosta de deixar todo cantinho pelo qual passa bem alinhado com as regras do Feng Shui. O que explica a ‘pira’ do dragão verde.

Depois de oito anos aposentado, o arquiteto que deu cor aos nossos ônibus, que concebeu o Farol do Saber e que criou a pista de skate da Praça do Gaúcho, a mais antiga do Paraná e a segunda pista pública do Brasil, entre tantas outras intervenções, topou voltar para auxiliar o presidente Reginaldo Reinert na nova cruzada pela cidade.

“Minha esposa que não ficou muito contente: perdeu o motorista”, diz, às gargalhadas, enquanto belisca algumas ervilhas torradas com wasabi de um potinho de papinha de criança que traz no bolso. Agora passa maior parte de seus dias no prédio do Ippuc apelidado de ‘marrom glacé’, em alusão ao doce inventado pelos italianos e consagrado pela culinária francesa, onde fica a equipe de projetos especiais.

Ao longo de 35 anos no Ippuc, Lauro ajudou a moldar a Curitiba que conhecemos hoje. Mas não sem barulho. Na década de 1970, quando surgiram os primeiros expressos e articulados, o arquiteto foi responsável por escolher as cores dos ônibus. Gerou um rebuliço na cidade. Ao pintar os ônibus de vermelho “com faixa preta embaixo para rebaixar visualmente a altura do automóvel”, como ele mesmo explica, o projeto foi acusado de ser rubro-negro.

Os coxas-brancas torceram o nariz. “Até os bombeiros reclamaram. Na época disseram que só os veículos deles poderiam ser vermelhos”, relembra. A real explicação é mais simples: inspirados pela linha vermelha do metrô de Londres, Lauro e o presidente do Ippuc da época, Rafael Dely, optaram pela cor primária, tão popular entre os modernistas. Aproveitaram o ‘incêndio’ e reservaram a cor verde para os Interbairros para fazer uma média com a torcida do Coritiba.

Na mesma época, em 1978, a Praça do Redentor, mais conhecida como Praça do Gaúcho, em homenagem à famosa sorveteria ao lado, foi o primeiro espaço público do Paraná e o segundo do Brasil, atrás apenas do Rio de Janeiro, a ganhar uma pista de skate. Lauro e o arquiteto carioca Roberto Coelho receberam a incumbência de projetar a pista a pedido do então prefeito Saul Raiz. A dupla nunca tinha visto um skate na vida e se inspirou em fotos de duas revistas norte-americanas.

Focaram no equilíbrio entre as superfícies côncavas e convexas e criaram toda a estrutura em barro primeiro. A concretagem ficou por conta do engenheiro Ramon Doria, da Irmãos Thá. Tomaram gosto pelo desafio e construíram também a pista de skate do Jardim Ambiental, na Rua Schiller, no Alto da XV, em formato de bowl. “Mas até hoje não andei de skate”, confidencia.

Hoje, Lauro está debruçado sobre o projeto do nosso próximo Natal. Promete coisa bonita. Dômo Arigatô, Lauro.