Estilo & Cultura

Mapa do Paraná pintado em 1903 é descoberto em restauro de prédio histórico

Carolina Werneck*
03/07/2017 10:52
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O mapa registrou o Paraná nos primeiros anos do século XX. A porção leste do Estado se perdeu em uma das muitas obras feitas no edifício. Em seu lugar, hoje, estão uma porta e uma pilastra de sustentação. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo | Carolina Werneck Bortolanza

Um gigantesco mapa do Paraná feito em 1903 foi descoberto no prédio do Memorial do Ministério Público do Estado. Ao cortar uma parede para instalar uma tubulação, a equipe que fazia o restauro percebeu que havia algo incomum sob as muitas camadas de tinta.
Aumentando o ponto de prospecção, encontrou-se uma série de elementos que apontava que a pintura poderia ser um mapa. Foram chamados, então, a professora Nancy Valente, responsável pelo laboratório de conservação e restauração da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), e Claudio Forte Maiolino, professor de conservação e restauração na mesma universidade. “Essa é uma descoberta incrível porque, além do aspecto documental, há a retratação do Paraná antes do acordo final feito no final da Guerra do Contestado, em 1916”, avalia Maiolino. O conflito travado na região em que hoje é a fronteira entre o Paraná e Santa Catarina terminou com a perda de uma parte do território paranaense para o estado vizinho. Congelado no tempo, o mapa de 1903 ainda mostra o Paraná fazendo divisa com o Rio Grande do Sul.
Detalhe do Rio Uruguai desenhado no mapa do Paraná pintado em 1903. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo
Detalhe do Rio Uruguai desenhado no mapa do Paraná pintado em 1903. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo
“Eu não encontrei outro mapa daquele ano. Encontrei de 1904, e um muito simples de 1902”, afirma Nancy. Daí a grande importância histórica da descoberta. Infelizmente, a região em que estão Curitiba e o litoral paranaense acabou se perdendo em alguma obra anterior. Em algum momento da história do edifício, sem ter conhecimento da existência do mapa, uma porta foi aberta e uma pilastra foi incluída em um dos lados da parede, no local exato em que deveria estar a porção leste do Estado. Esse incidente também impediu que se identificassem os autores do desenho. “A gente imagina que o nome de quem fez estivesse no canto em que hoje estão a porta e a pilastra”, teoriza Maiolino.
Alguns indícios demonstram que o mapa pode ser sido usado como uma espécie de planilha de controle. É que o prédio em que ele foi pintado era utilizado, no início do século passado, por diversos órgãos do governo estadual, entre eles a Fazenda. “O mapa foi sendo complementado com o passar dos anos. Tem anotações a lápis nele, que também foram recuperadas e mostram que o mapa era utilizado pela Fazenda mesmo”, conta Maiolino. Os dois especialistas afirmam que é comum encontrar, em edifícios do fim do século 19 e início do século 20, pinturas de ambientação. Essa era uma das características da arquitetura eclética, muito adotada na época. Um registro documental como um mapa, entretanto, é objeto de arte muito mais raro de se descobrir.
Anotações feitas a lápis podem demonstrar que o mapa era usado como uma espécie de planilha pela fiscalização da Fazenda estadual, cuja sede ficava no prédio. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo
Anotações feitas a lápis podem demonstrar que o mapa era usado como uma espécie de planilha pela fiscalização da Fazenda estadual, cuja sede ficava no prédio. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo
Recuperar uma obra como essa exige técnica, paciência e muita delicadeza. Foram entre seis e sete meses de trabalho, com uma equipe de quase 20 pessoas para que o mapa voltasse a aparecer por completo. O primeiro passo foi amolecer as camadas de tinta que recobriam o mapa. “Depois de amolecidas, nós as recolocamos no lugar, fazendo a fixação e intercalando secagens. Quando elas estavam totalmente fixadas, aí a gente veio fazendo a remoção das camadas que estavam por cima”, explica Nancy. A maior parte do desenho foi recuperada manualmente, com a ajuda de bisturis. Depois, a equipe aplicou uma resina para realçar as cores do mapa. Por fim, uma camada de resina acrílica. De acordo com a professora, esse material leva quase 200 anos para envelhecer. “Nossa ideia foi de dar uma perpetuidade maior para o objeto e impedir que ele volte a se perder.”
A inscrição original não deixa dúvidas: o mapa registrou o Paraná nos primeiros anos do século XX. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo
A inscrição original não deixa dúvidas: o mapa registrou o Paraná nos primeiros anos do século XX. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo
Na foto Nancy Valente , resonsável pelo laboratório de conservação e restauração da PUC-PR e Claudio Forte Maiolino , professor de conservação e restauração na PUC-PR. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo
Na foto Nancy Valente , resonsável pelo laboratório de conservação e restauração da PUC-PR e Claudio Forte Maiolino , professor de conservação e restauração na PUC-PR. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo

*Especial para a Gazeta do Povo.

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