Estilo & Cultura

O inusitado e o irreverente

Eloá Cruz
26/03/2015 10:36
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Guto Lacaz: designer e artista multimídia. Foto: Rômulo Fialdini / Divulgação

Guto Lacaz é assim: técnico, industrial, engenhoso e incrível. Suas exposições, conhecidas por trazer humor e surpresa, impressionam e desconstroem padrões. A proposta é entrar no jogo do artista, pois ele transforma até pequenos objetos do cotidiano em graça. A tarefa é muito fácil, e talvez seja por isso que ele é conhecido como um dos maiores artistas brasileiros da atualidade. Lacaz, artista multimídia, ilustrador, designer, desenhista e cenógrafo, ufa!, produz arte sem trajes de gala e nos surpreende do início ao fim.
Você é considerado um dos artistas plásticos mais conceituados no cenário nacional. O que, na sua opinião, o torna tão singular?
Acho que é devido a minha formação de cartunista com curso colegial técnico em eletrônica com arquitetura . É uma mistura de humor, ciências e artes. O fato de eu não ter feito faculdade de Artes Plásticas também ajudou, acho.
Como é trabalhar com o humor, saber dosá-lo e ter a certeza de que a ideia vai ser entendida pelo público?
Quando a solução aparece, quase sempre vem com humor. É natural. Nunca se tem certeza sobre como será feita a leitura de qualquer obra. É um mistério que só é desvendado nas conversas com o público ou nos cadernos de presença (das exposições) onde algumas pessoas deixam seus comentários espontâneos – contra ou a favor.
Há humor em tudo?
Acho que não. Em artes plásticas, por exemplo, a maioria do que se produziu até hoje é sério, sisudo. Fora a “Monalisa”, de Leonardo Da Vinci, e “As Meninas”, de Diego Velazquez, o humor só chegou nas artes com os surrealistas, dadaístas, modernistas.
Existe a preocupação em passar uma mensagem em toda obra?
Preocupação não é a palavra. Espera-se que a obra comunique, toque, vibre, transforme quem a vê.
Suas obras são conhecidas principalmente pelo uso de objetos comuns, como a fita k-7, lápis, embalagens. Qual é a proposta do uso de tudo isso?
Sou um artista urbano, que, entre outras coisas, utiliza, desmonta, desvirtua produtos industrializados, conhecidos e usados no dia a dia pelo público. A ligação (público e obra) vai se construindo com o tempo. A maior parte do que fiz e faço é projeto, construção, erros, acertos.
Qualquer um tem a capacidade de produzir arte?
Acho que todos nascem artistas, uns mais, outros menos. A gente vê isso fácil nas crianças, mas, depois, a escola e a família tendem a castrar essa criatividade toda em nome da formação de cidadãos comportados e empregados obedientes. É uma pena, afinal, arte é vital.
A popularização das obras de Romero Britto causou certa saturação e ocasionou efeito negativo no trabalho do artista. O que você acha? O artista tem controle da sua obra?
Cada artista tem sua trajetória, seu mercado, seu público. Romero Britto é mal visto por alguns, mas para muitos é o de maior sucesso. Alguns artistas ficam reféns de algumas soluções que dão certo no mercado e eles param de avançar ou não sabem fazer outra coisa.
A arte é única ou pode ser produzida em série?
Existem edições de gravura, edições de múltiplos, artesanatos e mesmo objetos industrializados, que podem ser vistos como arte . É só querer ver desta forma.
Fale sobre o cenário da arte brasileira na atualidade.
É um cenário muito vasto e diverso. Vejo o que é exposto em São Paulo. Uma grande produção com cinco exposições abrindo por semana ( nacionais e internacionais) com boa qualidade, trabalhos surpreendentes e muita porcaria.

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