Luzes provenientes do alto de janelinhas de uma cúpula tornavam as noites curitibanas do início do século 20 mais brilhantes. O edifício de onde saía o clarão não iluminava apenas a cidade, porém. Seu principal foco eram as mentes. Aquele prédio, chamado de “Palácio da Luz” pela população, era motivo de admiração. Afinal, abrigava a primeira instituição de ensino com a concepção de universidade do Brasil: a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que completa 105 anos nesta terça-feira (19).

A sede histórica da universidade, localizada na Praça Santos Andrade, começou a ser construída em 1913, ano seguinte à fundação da universidade, criada como instituição privada. Seu aspecto original era muito diferente da famosa fachada branca com largas colunas em estilo neoclássico que se vê hoje. Assinado pelo engenheiro militar Baeta de Faria e executado pela empresa de construção civil Bortolo Bergonse, o projeto inicial era eclético, reunindo diversos estilos arquitetônicos.

A princípio, a estrutura monumental tinha apenas um bloco de cinco andares e a imponente cúpula central de inspiração francesa – que era apenas decorativa, de acordo com Rogério Andrade Mulinari, vice-reitor da universidade entre 2009 a março de 2017. O adorno causava problemas estruturais, como frequentes infiltrações. “Alguns contam que era pra ter um observatório astronômico naquela cúpula. Obviamente ela nunca funcionou assim. Nada havia dentro dela, a não ser as dificuldades de calafetação próprias desse tipo de construção”, salienta Mulinari, que presidiu Comissão dos 100 anos da UFPR.

A Universidade do Paraná nasceu graças aos esforços de dois grupos de intelectuais, liderados pelos paranaenses Victor Ferreira do Amaral e Niro Cairo da Silva. A primeira sede da instituição foi uma casa alugada na Rua Comendador Araújo, onde está localizado hoje o Shopping Omar. O imóvel não era grande o suficiente para comportar todas as atividades estudantis, e a solução para o espaço físico surgiu em 1913, com a doação do terreno da Rua XV de Novembro pela Prefeitura Municipal de Curitiba, local em que a nova sede foi construída e definitivamente instalada.

O novo edifício foi inaugurado em abril de 1914, mas só teve sua construção concluída dois anos depois, segundo informações do livro “UFPR Centenário”, da historiadora Márcia Dalledone Siqueira. Quando todos os espaços da sede foram ocupados, foi preciso adicionar alas laterais, edificadas entre 1923 e 1926. Em 1940, houve um novo alargamento da estrutura para receber o curso de Medicina, e o edifício – inicialmente cor-de-rosa, à moda francesa da época – foi pintado inteiramente de branco. Cidade Universitária, Atenas Brasileira, Cidade Sorriso e Coimbra Brasileira: graças à grandeza de sua universidade, a capital paranaense passou a ser assim conhecida aos olhos do país.

Em 1950, a universidade foi federalizada, recebendo um grande aporte estatal que possibilitou nova ampliação do edifício histórico, além da criação de novos campi. “Foram os recursos federais que permitiram a finalização do prédio no formato que ele está agora”, destaca Mulinari. A edificação foi totalmente repaginada na primeira metade daquela década, passando a ocupar uma quadra inteira. A cúpula foi retirada; a escadaria circular, substituída pela atual. A fachada foi transformada, em simbiose com o prédio antigo, num estilo neoclássico, majestoso e imponente.

“A alteração deixou o edifício com uma monumentalidade maior em relação à fachada original. A ideia foi deixar ele mais atualizado para a época”, explicita Salvador Gnoato, arquiteto e professor na PUCPR. “A fachada do prédio histórico é um resquício da primeira metade do século 20. Apesar dela ser estilisticamente tardia, está completamente integrada com Curitiba. Ela tem uma relação muito forte com a cidade”, expõe o arquiteto.

Em 1999, o prédio histórico da UFPR foi escolhido pela população curitibana como símbolo oficial da cidade em um concurso promovido pelo Banco Itaú, em parceria com a Prefeitura de Curitiba. A edificação pública venceu ícones de peso na competição, como o Jardim Botânico e a Ópera de Arame. Posteriormente, a decisão foi oficializada pela Câmara Municipal de Curitiba, mediante a Lei municipal n.º 10.236/01. Em 2012, ano do centenário da UFPR, o prédio no coração da cidade ganhou novo aspecto. O telhado foi inteiramente trocado e a fachada, que na época tinha tom ocre, voltou à coloração branca dos anos 1940.