Fim dos condomínios-clube? Mercado muda perfil dos empreendimentos lançados em Curitiba

Stephanie D'Ornelas*
01/11/2017 09:30
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Piscinas, espaços gourmet e numerosos itens de lazer a um elevador de distância. Esses são alguns dos chamarizes que atraíram moradores para os condomínios-clube que se proliferaram em Curitiba no início desta década. A conjuntura econômica, no entanto, enxugou o tamanho dos empreendimentos residenciais na cidade, em especial nos últimos três anos. Para contornar a crise que impactou o setor imobiliário, construtoras apostam em prédios que oferecem menos unidades e áreas comuns diminutas.
No primeiro semestre deste ano, edifícios com menos de 100 apartamentos representaram 71% do total de lançamentos na capital paranaense, como demonstrou pesquisa da Brain Bureau de Inteligência Corporativa. No mesmo período de 2015 e 2016 esse número foi ainda mais significativo, representando pouco mais de 94% do perfil dos empreendimentos em cada ano.
Para o economista Fábio Tadeu Araújo, sócio da Brain, dois fatores impactam diretamente o cenário. O primeiro é a menor atividade econômica, que aumentou a preocupação com o custo do condomínio. Os moradores de residenciais com ampla gama de espaços comuns sentem no bolso os custos da manutenção. O segundo é que a própria febre dos clubes residenciais diminuiu.
“Para que um condomínio-clube seja viável é preciso muitas unidades. Hoje, como a demanda é um pouco menor, existe um risco de você colocar um projeto com 400 ou 500 unidades – salvo se for “Minha Casa, Minha Vida” – e ter dificuldade de vender tudo. A crise deixou as empresas com receio de lançar empreendimentos tão grandes”, explica Araújo.

Atuação nacional

Desde 2010, foram construídos dez condomínios com mais de 500 unidades em Curitiba. A última vez que a cidade recebeu um empreendimento residencial com essa dimensão foi em 2014. O boom do período pode ser explicado não só pelo ciclo econômico em alta, como também pela atuação de construtoras nacionais, como a Rossi, Tegra (antiga Brookfield) e Tecnisa, na capital.
“Essas empresas viram que quando estourava uma praça nova o investimento era muito alto. Então, quando vieram para Curitiba, lançaram empreendimentos tipo clubes, com centenas de unidades. Assim era viável para elas receber uma receita significativa”, elucida Leonardo Pissetti, vice-presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário no Estado do Paraná (Ademi-PR).
Com a saída desses players do cenário paranaense, restaram as empresas tradicionais do estado – muitas delas já trabalhavam apenas com empreendimentos exclusivos, com uma ou duas torres e poucas unidades.
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.

Localização

William Ribeiro, gerente regional da construtora Plaenge, aponta que a redução do número de lançamentos com mais de uma centena de apartamentos também tem relação com a escassez de áreas disponíveis.
“A cidade já não apresenta grandes terrenos para empreendimentos como condomínios-clube. Nossa estratégia hoje é encontrar áreas bem localizadas, que são menores. Quando o mercado estava muito ativo, tínhamos lançamentos bem maiores, mas também tínhamos mais disponibilidade de terrenos”, conta.
Construtoras locais também estão trabalhando com lançamentos que oferecem áreas comuns enxutas, diminuindo o preço das unidades e de manutenção. A ACMA Construções Civis, que entregou recentemente o empreendimento Terra Gutierrez, próximo ao Clube Curitibano, investiu em um projeto que valoriza ao máximo as áreas privativas das unidades, com o mínimo de área comum.
“Diminuímos as áreas comuns de corredor e circulação, jogando essa área para dentro do apartamento, para deixar a residência o mais confortável possível e privilegiar a área privativa”, expõe Frederico Carstens, arquiteto responsável pelo projeto.
“Teve um momento de lançamentos de condomínios gigantescos que chegavam a ter centenas de itens de recreação. Isso gera dificuldade de manutenção, controle e custo – você tem que criar praticamente a estrutura de um clube para gerir isso”, complementa o arquiteto. Carstens destaca ainda que muitas pessoas não se adaptaram aos clubes residenciais, por sentirem-se “apenas um número” entre tantos moradores.
“Os condomínios menores têm mais inserção na vida urbana, menos burocracia para o viver, menos custos. As áreas de lazer são as necessárias, que basicamente são a área do fitness, área de diversão das crianças e o salão de festas”, conclui.
*Especial para a Gazeta do Povo

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