Proposta da prefeitura de Curitiba para edifícios-garagem com habitação popular é alvo de críticas

André Nunes*
07/11/2017 22:03
Thumbnail

Imagens: João Guilherme Dunin/Ippuc/Divulgação

Com o objetivo de melhor utilizar os espaços ociosos de estacionamentos do Rebouças, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) acaba de anunciar uma proposta inicial de edifícios-garagem com habitações de interesse social para terrenos privados em torno de centros universitários do Vale do Pinhão (área que compreende parte do Rebouças e do Prado Velho), que poderiam ajudar a realocar famílias que vivem às margens do rio Belém.
Arquitetos sem ligação com o projeto em questão, ouvidos pela reportagem, elogiam a iniciativa de incluir o tema da habitação social na pauta, como um dos elementos que podem auxiliar na transformação da região, mas tecem críticas ao projeto arquitetônico apresentado, que, segundo eles, precisa ser revisto para valorizar as pessoas e o diálogo com o tecido urbano.
Foto: João Guilherme Dunin / Ippuc
Foto: João Guilherme Dunin / Ippuc

Projeto preliminar

“O projeto tem por base a concentração de estacionamentos existentes em função da demanda das universidades, mas vai para além disso ao agregar a possibilidade de realocar famílias como medida de solução ao saneamento ambiental”, explica o arquiteto do Ippuc responsável pelo projeto, João Guilherme Dunin, antecipando que os terrenos estudados são todos privados: o município entraria apenas com o projeto arquitetônico e a autorização para a construção.
Segundo o arquiteto, a proposta é permitir o estacionamento e ter como contrapartida a habitação. O estudo prevê que cada edifício possa abrigar até 64 famílias atendendo também a demanda de estudantes que precisam de moradia próxima da universidade e de trabalhadores nos projetos de inovação do Vale do Pinhão.
Foto: João Guilherme Dunin / Ippuc
Foto: João Guilherme Dunin / Ippuc
Os apartamentos teriam 38 m², com dois quartos, sala de estar/jantar, banheiro e cozinha e lavanderia conjugadas. A garagem comportaria até 432 veículos em sistema automatizado ou 304 no modelo com manobrista. De acordo com Dunin, o desenho proposto para o edifício tem forma de um cubo de 35 metros de lado emaranhado pela estrutura externa, com dois setores distintos: o de garagens e os andares de habitação separados por um pavimento aberto para o lazer. No térreo, haveria acesso aos veículos e pedestres ao longo das fachadas de forma que haja a continuidade do tecido urbano.
“O conjunto está inserido em um jardim como um garfo que ponteia, circunda e define um pequeno parque. Nesse modelo apresentado, a habitação é considerada prioritária. A ventilação será feita a partir do efeito chaminé, gerado pelo pavimento intermediário e o vazio do miolo, proporcionado aeração cruzada nas unidades habitacionais”, explica o arquiteto.
Estudo prevê que cada edifício possa abrigar até 64 famílias em apartamentos de 38 m². Foto: Divulgação
Estudo prevê que cada edifício possa abrigar até 64 famílias em apartamentos de 38 m². Foto: Divulgação

Críticas

Procurados pela reportagem para avaliar o estudo preliminar divulgado pela prefeitura, alguns arquitetos de renome da capital paranaense elogiaram a iniciativa, mas defendem que o conceito arquitetônico do atual projeto precisa ser melhorado.
“Enquanto o mundo todo tá buscando fachada ativa, o Ippuc faz uma caixa e coloca habitação no topo”, avalia o arquiteto Fábio Domingos, da Grifo Arquitetura. “Estamos discutindo num grupo de vários arquitetos a viabilidade econômica desse projeto, as referências arquitetônicas e, principalmente, o uso das fachadas vivas e dos pavimentos térreos de forma a estimular a movimentação urbana.”
Fernando Caldeira de Lacerda, do Arquea Arquitetos, frisa que a habitação social é um dos maiores problemas da região do Rebouças, mas que o projeto precisa ser bem trabalhado. “É preciso que a iniciativa seja bem pensada e executada não só para atrair investidores, mas para atender a demanda social desejada”, comenta.
“Trata-se de um novo olhar que tenta resolver dois problemas que afligem a sociedade curitibana – estacionamento e habitação de interesse social – de forma inédita e colaborativa. Algo que devemos nos esforçar para realizar no grande laboratório urbano do Vale do Pinhão. Mas da forma como está sendo apresentada, parece configurar maior importância para os carros do que para as pessoas. Os pavimentos mais baixos são os mais conectados com as vias públicas e os que oferecem melhor conectividade visual e física. É preciso que se discutam esses e outros pontos do estudo apresentado”, sentencia o arquiteto Orlando Ribeiro, presidente da Reurb, que junto com HAUS e a Agência Curitiba, que representa a prefeitura, é responsável pelo movimento Reação Urbana.
Em resposta, o arquiteto do Ippuc responsável pelo projeto, João Guilherme Dunin, diz que está aberto a contribuições e ressalta que o desenho ainda é um estudo preliminar.
Imagens: João Guilherme Dunin/Ippuc/Divulgação
Imagens: João Guilherme Dunin/Ippuc/Divulgação
*Especial para a Gazeta do Povo.

LEIA TAMBÉM

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!