Por que as muitas tentativas para “salvar” o Rebouças não foram adiante?

André Nunes*
05/10/2017 10:29
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Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Primeira cidade industrial de Curitiba, com auge na década de 1940, o Rebouças e seus moradores já estão habituados, ao longo dos anos, em ouvir anúncios de projetos de revitalização do bairro. Seja da prefeitura, setores acadêmicos ou construtoras imobiliárias, o fato é que já “se pensou de tudo” para esta região tão peculiar de Curitiba, mas as iniciativas acabaram por não ir adiante a longo prazo.
As razões disso são variadas, conforme aponta o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Reginaldo Reinert, que trabalha no Ippuc desde a década de 1990 e acompanhou boa parte dos projetos pensados para o Rebouças. Em entrevista à HAUS, ele afirma que dois fatores são fundamentais: a convergência de interesses e a autonomia da iniciativa privada com o poder público para que o projeto siga em frente.
“Desde o projeto Diversidade, no final dos anos 1990, percebe-se que as ideias são convergentes pela inovação no uso do território. Porém, até pela nossa maturidade como cidade, todos eram muito dependentes do apadrinhamento da administração pública. Quando não se tinha uma continuidade nos governos seguintes, o projeto com que a população começava a se acostumar e engajar perdia força, mudava o formato ou era abandonado”, explica Reinert.
Fábrica da Swedish Match, no Rebouças. Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
Fábrica da Swedish Match, no Rebouças. Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo

Lições para a CIC 

Para entender o processo de revitalizar a região do Rebouças, é preciso voltar até os anos 1970, quando o bairro foi definido como tal pelo Plano Diretor de 1965 – mesma data de fundação do Ippuc – ao mesmo tempo em que, em 1973, a criação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) moveu o eixo industrial da cidade (vocação inicial do Rebouças) para a região sul.
Nas décadas seguintes, o Rebouças passou por mudanças em sua estrutura viária, asfaltamento e criação de novas avenidas, como a Dario Lopes dos Santos/Maurício Fruet, que diversificaram o comércio e proporcionaram mais agilidade ao trânsito da cidade.
“A herança fundiária para o Rebouças foi a necessidade de grandes investimentos que para lá migrassem, para dar nova função aos equipamentos existentes. É preciso uma modernização no lado fundiário e a atração de outros usos públicos e privados, inclusive para que a CIC, num futuro próximo, não repita os erros do Rebouças nesse aspecto”, pontua o presidente do Ippuc. 
Prefeito Ivo Arzua preside o encerramento do Seminário "Curitiba de Amanhã", em julho de 1965. Foto: Arquivo IPPUC.
Prefeito Ivo Arzua preside o encerramento do Seminário "Curitiba de Amanhã", em julho de 1965. Foto: Arquivo IPPUC.

SoHo, cultura e juventude

O final dos anos 1990 e a chegada do novo milênio trouxeram novidades ao Rebouças, sendo a mais simbólica o lançamento do Estação Plaza Show (atual Shopping Estação) e reinauguração do Museu Ferroviário, dando vida nova às instalações da antiga estação, responsável pela ocupação inicial do bairro a partir da década de 1880. A chegada das faculdades Uniandrade, Opet e Unicuritiba, e da sede dos Correios no Paraná, também trouxeram ânimo aos arredores.
Lançado em 2003 pela prefeitura, o projeto Novo Rebouças buscou a inovação do movimento cultural curitibano. Porém, as chamadas “residências” – casas alugadas via edital, para que artistas se mudassem para os arredores da Rua Piquiri – e os bares que surgiram nos arredores das faculdades, principalmente na Rua Chile, não criaram afinidade com a ideia de SoHo, propagada por construtoras interessadas em valorizar a região.
“A Fundação Cultural de Curitiba fez sua parte, instalando-se em 2006 no Moinho Rebouças. O público jovem transita bastante pelas faculdades da região, mas pouco permanece por lá. Não basta pensar o Rebouças como uma grande cidade universitária, é um conceito muito específico. É preciso aproveitar as potencialidades desse público jovem, seu clima empreendedor e inclusivo, e oferecer oportunidades para seu desenvolvimento”, analisa Reinert.
PROBLEMAS DO BAIRRO REBOUÇAS
PROBLEMAS DO BAIRRO REBOUÇAS

Tecnoparque, o embrião do Vale

Mesmo afirmando que as administrações municipais muitas vezes descartam iniciativas de gestões anteriores, Reginaldo Reinert reconhece que os benefícios fiscais do Tecnoparque – programa lançado em 2009 para atrair empresas tecnológicas ao Rebouças – foram o “embrião” do atual Vale do Pinhão.
“O Tecnoparque atraiu visibilidade para a região e, de certa forma, evoluiu para o conceito do Vale do Pinhão. Apesar de o nome estar ligado à inovação, vai além da analogia com o Vale do Silício norte-americano, já que propõe ações concretas para se aplicar os conceitos, muitas vezes subjetivos, de tecnologia, inovação e sustentabilidade”, afirma.
Lançado pela gestão do prefeito Rafael Greca, o programa de inovação Vale do Pinhão está entre as iniciativas em curso que têm por objetivo a revitalização urbana da região do Rebouças.
*Especial para a Gazeta do Povo

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