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Tampas de bueiro antigas revelam história de Curitiba sob nossos pés

Camila Neves*
13/04/2016 01:00
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Na esquina da rua Des. Ermelino de Leão com a Kellers, peça de 1908 revela antiga grafia do nome da cidade. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo

Com um olhar mais atento é possível encontrar, sob nossos pés, parte da história de Curitiba caminhando pelas ruas e calçadas da cidade. Passando batidas em meio à correria do dia a dia dos pedestres, algumas tampas de bueiros antigas escondem histórias e memórias da capital.
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São poucas as que resistiram à ação do tempo e dos ladrões, mas suficientes para despertar curiosidade e lembranças do início da urbanização de Curitiba. “Seu uso se deu a partir de 1904, quando começou a ser implantado o primeiro sistema de abastecimento da cidade”, explica Manoel Santos, técnico do patrimônio histórico do Museu do Saneamento, na capital.
Na Praça Osório é possível encontrar peças da década de 1920. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo
Na Praça Osório é possível encontrar peças da década de 1920. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo
Peça de 1928, também na Praça Osório. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo
Peça de 1928, também na Praça Osório. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo
As tampas de bueiros mais comuns de serem encontradas datam da década de 1930 e 1940, não por acaso. “Com a população e com a cidade crescendo, nessa época houve uma ampliação do sistema de água de esgoto e o consequente aumento do uso dessas peças”, conta.
Peça da década de 1930, no Largo da Ordem. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo
Peça da década de 1930, no Largo da Ordem. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo
Nostalgia
Nas tampas antigas  se encontram gravadas informações históricas, como o ano em que foram produzidas e, em alguns casos, a marca do fabricante. Também se lê a inscrição ““DAE” – o antigo Departamento de Água e Esgoto, responsável pelo saneamento da cidade até 1963, quando a Sanepar assumiu.
Outra curiosidade é a grafia da palavra Curitiba, que em algumas tampas aparece como Corytiba ou Curytiba, de acordo com a norma da época. Também era comum que as tampas fossem identificadas com o nome do prédio que atendiam. É o caso do Edifício Barão do Serro Azul, próximo à Catedral, na rua Pref. João Moreira Garcez.
Peça em frente ao Edifício Barão do Serro Azul, com a marca da antiga fundição Irmãos Mueller. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo
Peça em frente ao Edifício Barão do Serro Azul, com a marca da antiga fundição Irmãos Mueller. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo
Nos primeiros anos da implantação do saneamento, acredita-se que elas eram produzidas em São Paulo. “Quem implantou aqui os primeiros sistemas foi a Empresa Paulista de Melhoramentos no Paraná, que era de São Paulo. Então, possivelmente de 1904 a 1911, as tampas sejam de lá”, sugere Guilherme Max Eschholz, técnico do patrimônio histórico do Museu do Saneamento.
Tampa de 1911, com a sigla "E.P.M.P" - Empresa Paulista de Melhoramentos no Paraná, na esquina da Rua Kellers com Ébano Pereira. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo
Tampa de 1911, com a sigla "E.P.M.P" - Empresa Paulista de Melhoramentos no Paraná, na esquina da Rua Kellers com Ébano Pereira. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo
Mais tarde, a antiga Fundição Irmãos Mueller, fundada em 1878 pelo suíço Gottlieb Mueller, passou a fabricá-las. A fundição também foi a fornecedora municipal – sob a marca Marumby – de postes e bancos de praça, além de fabricar outros artefatos e elementos pré-moldados em ferro fundido que ajudaram na urbanização da cidade. Em 1970, a empresa foi vendida e, depois, virou o Shopping Mueller, que manteve a fachada e o nome da antiga fundição.
Valor histórico
Apesar de muitas ainda estarem em uso, cumprindo sua função nas ruas, algumas tampas antigas de bueiro viraram peça de acervo. No Museu do Saneamento, inaugurado há dois anos pela Sanepar, é possível vê-las restauradas. “Aqui temos alguns exemplares de peças mais raras, com estilo diferente. Elas recebem o tratamento adequado de preservação”, diz Eschholz.
No acervo restaurado do Museu do Saneamento, peça que ficava em frente ao Edifício André de Barros, na Praça Osório. Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo
No acervo restaurado do Museu do Saneamento, peça que ficava em frente ao Edifício André de Barros, na Praça Osório. Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo
Com mais de 8 mil itens já catalogados, o visitante do museu  pode conhecer objetos, equipamentos, vestuário, mobiliário, fotografias, documentação impressa e manuscrita e de áudio e vídeo, projetos técnicos de engenharia e arquitetura que datam de 1875.
Serviço
Museu do Saneamento
Rua Engenheiro Antônio Batista Ribas, 151,  Tarumã, Curitiba, PR. Horário de funcionamento: de terça a sexta-feira das 9 às 11 horas e das 14 às 16 horas. A entrada é gratuita.
*especial para a Gazeta do Povo

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