Urbanismo

Por que não usamos todo o potencial das pequenas praças da cidade?

Jorge Olavo*
19/09/2017 18:27
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Entre as tantas praças existentes em Curitiba, a Menonitas do Boqueirão se destaca pelo uso frequente da população. Um dos motivos é o investimento em equipamentos urbanos e segurança. Foto: Antonio Costa / Arquivo / Gazeta do Povo | GAZETA

Embora Curitiba tenha 439 praças, apenas uma pequena parcela dos curitibanos adotou alguma delas para frequentar e usar. A maioria é pouco aproveitada e a cidade deixa de explorar potenciais palcos para eventos culturais, esportivos e gastronômicos que reuniriam a população. Por um lado, as pessoas ficaram mais reclusas ao longo dos anos; por outro, faltam ações efetivas do poder público para resgatar o interesse coletivo pelas praças.
O primeiro ponto a ser melhorado, na opinião de especialistas, é garantir mais segurança para que as pessoas fiquem mais tempo nesses locais e tenham as praças como espaços de convívio e permanência – não apenas como áreas de passagem. “A maioria das pessoas não vai em locais abertos justamente porque não tem segurança. Não é uma coisa só daqui”, diz a urbanista Gilda Amaral Cassilha, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) que estuda o uso de espaços públicos para a promoção da amizade.
Praça Menonitas, no Boqueirão, é uma das poucas na cidade que conseguem reter a atenção e o uso da população por mais tempo.<br>Foto: Antonio Costa / Arquivo Gazeta do Povo
Praça Menonitas, no Boqueirão, é uma das poucas na cidade que conseguem reter a atenção e o uso da população por mais tempo.<br>Foto: Antonio Costa / Arquivo Gazeta do Povo
Para a pesquisadora, são poucos os casos positivos entre as praças de Curitiba. Uma das exceções é a Praça dos Menonitas, no Boqueirão, que reúne a vizinhança em um amplo espaço propício para piqueniques, brincadeiras e atividades esportivas – com um módulo policial permanente no local. Traçando um paralelo com outras partes do mundo, a urbanista cita as cidades de Munique, Lima, Paris e Bogotá como exemplos de grandes centros que têm várias praças que realmente funcionam como ponto de encontro da população.

Voltando no tempo

Historicamente, os curitibanos consideram as praças como áreas de lazer e festividades. É o que relata o antropólogo Carlos Balhana, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), lembrando que esses espaços foram mais usados para a recreação da população entre as décadas de 1920 e 1950. “Os antigos largos da Rui Barbosa e da Carlos Gomes, por exemplo, tinham repuxos com cisnes que eram muito apreciados pelas famílias, além de serem limpos e terem boa luminosidade e belo ajardinamento”, conta.
Entre os aspectos que teriam contribuído para o afastamento das pessoas das praças estão a marginalização, a transformação estética desses espaços, a falta de manutenção e mudanças culturais provocadas pela urbanização e pelo surgimento de novas tecnologias. “A tevê e o rádio preencheram espaços de lazer da família, que antes ficava sentada na frente das casas. Com o tempo, as pessoas se retraíram e as praças tornaram-se um local de passagem, inadaptadas à sua função básica de recreação e lazer”, explica o antropólogo.
Com mais de 30 anos de experiência no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), o arquiteto e ex-presidente do órgão Osvaldo Navaro Alves também acredita que a carência de segurança, falta de manutenção e aspectos culturais contribuíram com esse cenário. Para ele, a população não tem o hábito e não foi educada para se apropriar e cuidar desses espaços. Isso faz com que as praças fiquem sujeitas à degradação e gere vazios urbanos na cidade.

Uso diferente

Para o diretor de Parques e Praças da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Jean Brasil, Curitiba tem equipamentos bem utilizados – outros nem tanto –, contudo, não há indicadores sobre isso. O uso das praças varia de acordo com a região e com as características de cada espaço. Enquanto alguns logradouros são equipados apenas com bancos para as pessoas descansarem e contemplarem a área, outros contam com quadras e pistas esportivas e brinquedos infantis destinados para a prática de atividades físicas e de lazer.
Praças da região central, como a Santos Andrade, têm característica de passagem e não retém as pessoas para permanência.<br>Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Praças da região central, como a Santos Andrade, têm característica de passagem e não retém as pessoas para permanência.<br>Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Com relação às praças centrais de Curitiba, o diretor lembra que são espaços de descanso e que “ajudam a cidade respirar”. “Se não tivéssemos essas praças, hoje seriam só edificações. Se as nossas praças não fossem utilizadas, não teríamos demandas por melhorias”, pondera o diretor, que concorda que aspectos relacionados à segurança inibem o uso dos espaços pela população. Entre os trabalhos feitos pela prefeitura estão manutenções, ações de limpeza e a busca de parcerias entre as secretarias para a promoção de atividades que atraiam a população.

Sugestões

Embora considere difícil reconquistar o antigo prestígio das praças, Balhana considera que – além de revitalizar bancos, colocar mais segurança, melhorar a iluminação e tornar os espaços mais limpos – munir esses endereços com painéis que contenham história, fotos e informações sobre aquela vizinhança poderia despertar novamente a atenção das pessoas. “Isso possibilitaria o conhecimento da história do local e momentos de reflexão, meditação e interiorização. Poderia ser um recomeço”, explica o antropólogo.

*Especial para a Gazeta do Povo

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