• Carregando...
Líder norte-coreano Kim Jong-un é fã de diversos filmes estrangeiros, como os do agente 007, James Bond | STR/AFP
Líder norte-coreano Kim Jong-un é fã de diversos filmes estrangeiros, como os do agente 007, James Bond| Foto: STR/AFP

O cinema é uma das principais atividades de lazer na Coreia do Norte. Porém, com uma restrição: apenas filmes produzidos no país são exibidos por lá. As produções hollywodianas são proibidas e, caso alguém seja flagrado assistindo a um filme de fora, será severamente punido. Com exceção do líder Kim Jon-Un, que é fã de diversos filmes estrangeiros, como os do agente 007, James Bond. 

Os filmes norte-coreanos contam diversas histórias, mas com um único objetivo: fazer propaganda do governo. É o que conta Johannes Schonherr, autor do livro North Korean Cinema: A History ("Cinema Norte-Coreano: Uma História", em tradução livre). Para garantir a qualidade dos filmes produzidos para estimular o culto à personalidade, Kim Jon-Il, pai do atual ditador Kim Jon-Un, fez pesados investimentos no cinema nacional e ainda garantiu um extra: sequestrou o diretor de cinema sul-coreano Shin Sang-ok em 1978, junto com a esposa, e o obrigou a produzir filmes para o governo. 

Se o mundo do cinema é fechado para os norte-coreanos – e assim eles não conhecem outras realidades fora do regime onde vivem, o inverso também acontece. Quase não há filmes sobre a Coreia do Norte. Abundam documentários, mas há problemas na captação de imagens, já que é proibido fotografar ou filmar qualquer coisa no país sem autorização e supervisão severa de agentes do governo. 

Under the Sun

Documentário 

Direção: Vitaly Mansky 

Ano: 2016 

Disponível no Netflix 

 

O diretor, nascido e criado na antiga União Soviética, passou dois anos negociando com o governo da Coreia do Norte para fazer um documentário sobre a vida de uma família comum. Obteve a autorização, mas em seguida percebeu que teria liberdade zero para produzir seu filme: os agentes queriam simplesmente determinar tudo o que deveria ser feito. Isso incluía o roteiro e a fala dos "personagens", transformando a história numa novelinha do regime, praticamente caricata. Todas as cenas também seriam supervisionadas em cada milímetro pelo governo, para garantir que nenhuma imagem indesejada saísse do país. 

Porém, Mansky conseguiu enganá-los. Fazendo uso de dois cartões de memória e deixando as câmeras filmando entre as cenas oficiais sem que os agentes do governo soubessem, o diretor conseguiu sair da Coreia do Norte com farto material sobre o rígido controle do regime sobre seus cidadãos. Nas cenas, agentes militares aparecem "dirigindo" a família em uma cena de jantar ou orientando os funcionários de uma fábrica onde trabalha a mãe, para que apareçam alegres e bem dispostos e falem bem sobre o regime. 

"Under the sun" fala sobre a trajetória de Zin-mi, uma garotinha de oito anos que está se preparado para se juntar à União das Crianças da Coreia do Norte. Em uma das cenas rodadas na escola de Zin-mi, a professora fala única e exclusivamente sobre os grandes feitos dos líderes, suas histórias e lendas sobre a grandeza deles para salvar o povo das garras do imperialismo. 

O governo norte-coreano protestou junto ao governo russo, que estava entre os patrocinadores do documentário, mas mesmo assim a produção seguiu em frente. 

The Propaganda Game

Direção: Alvaro Longoria 

Ano: 2015 

Disponível no Netflix 

 

O diretor espanhol viajou à Pyongyang com autorização para fazer cenas em alta definição, por intermédio de Alejandro Cao de Benós - o único estrangeiro a integrar o quadro do governo de Kim Jon-Un, graças à sua lealdade e amor pelo regime norte-coreano. 

Neste documentário, onde Longoria foi acompanhado de perto por agentes do governo, incluindo Benós, as pessoas entrevistadas nas ruas falam sobre as maravilhas do regime, como saúde e educação gratuitas, como todos se sentem amparados e defendidos pelo líder Kim Jon-Un das incessantes ameaças dos Estados Unidos de invadir o país e derrubar o comunismo. Todos mostram gratidão e amor pela dinastia Kim, por tudo que fizeram ao país. É uma peça de propaganda, e o diretor deixou para os espectadores decidirem por conta própria sobre o que foi mostrado no filme. 

Campo 14 – Zona de Controle Total

Documentário 2012 

Direção: Marc Wiese 

 

Este documentário é baseado no livro "Fuga do Campo 14", do jornalista Blaine Harden, que conta a história de Shin Dong-hyuk, único sobrevivente dos campos de trabalho forçado da Coreia do Norte. Dong-hyuk nasceu e viveu 23 anos no Campo 14, uma das prisões mais severas do regime destinada a presos políticos. Lá, ele viua mãe e o irmão serem assassinados na sua frente. Cansado de apanhar e de passar fome, elaborou um plano de fuga junto com outro prisioneiro. Apenas Dong-hyuk sobreviveu. 

A ausência de imagens do Campo 14 é compensada por animações. Há também depoimentos sobre os horrores vividos no local, incluindo dois ex-oficiais que desertaram. 

Inside North Korea Newest Documentary

Documentário 2017 

Direção: Anthony Dufour 

 

Este documentário, embora acessível em inglês, é uma boa recomendação do professor da Universidade Califórnia, Stephan Haggard, especialista em Coreia do Norte na Universidade da Califórnia em San Diego. O filme mostra a ligação dos norte-coreanos com seus líderes e as excentricidades dos mesmos, além da questão das ameaças nucleares e o poderio militar do país. 

State of Mind

Filme de 2004 

Direção: Daniel Gordon e Nick Bonner 

 

O filme mostra o dia a dia de duas ginastas adolescentes e suas famílias durante oito meses de preparação para os Jogos de Massa, em que atletas realizam diversos movimentos sincronizados e criam mosaicos. "Esses jogos não são mais realizados, mas a preparação mostra o ponto chave da sociedade norte-coreana", diz o professor Stephan Haggard. 

Cash for Kim: North Korea Forced Labores in Poland

Documentário produzido pela VICE, em 2016 

 Também disponível apenas com legendas em inglês, este documentário é uma sugestão do professor Kent Boydston, também da Universidade da Califórnia. No filme, os cineastas alemães Sebastian Weis e Manuel Freundt mostram trabalhadores norte-coreanos em regime praticamente escravo, em uma fábrica na Polônia. 

"Algumas mudanças ocorreram desde que o documentário foi feito. O governo polonês decidiu não renovar os contratos de trabalho dessas pessoas, mas é uma história fascinante sobre as interconexões dos trabalhadores norte-coreanos com as redes ilícitas do país. E mostra como vivem esses trabalhadores quando estão fora de casa”, pontua Boydston.

Conheça os autores que, sufocados pela falta de liberdade de expressão, sentiram a necessidade de contar ao mundo suas histórias e opiniões, sem serem censurados pela ditadura cubana. 🇨🇺️🇨🇺️🇨🇺️🇨🇺️🇨🇺️

Publicado por Ideias em Terça-feira, 10 de outubro de 2017
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]