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Confronto entre polícia e manifestantes durante greve geral desta quinta-feira (27), em Caracas | JUAN BARRETO/
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Confronto entre polícia e manifestantes durante greve geral desta quinta-feira (27), em Caracas| Foto: JUAN BARRETO/ AFP

Se no Brasil o PT clama pelas Diretas Já, quando o assunto é a Venezuela, a direção do partido do ex-presidente Lula e de mais dois aliados de esquerda - o PDT, de Carlos Lupi, e o PC do B, de Luciana Santos, apoiam as ações do governo de Nicolás Maduro sem qualquer constrangimento. Recentemente, PT e PC do B manifestaram publicamente, durante o 23º Encontro do Foro de São Paulo, na Nicarágua, o apoio à convocação da Assembleia Constituinte que pode pôr fim às eleições com voto direto e secreto na Venezuela. O PDT não enviou representantes ao evento de partidos de esquerda da América Latina e do Caribe, mas também apoia o discurso chavista.

A assembleia para redigir uma nova constituição venezuelana é apenas a ponta do iceberg de uma crise política e econômica que assola a nação desde 2014 e se aprofundou há três meses. A medida seria uma forma encontrada pelo governante para fugir das eleições regionais e presidenciais – pleitos em que o partido dele tem claras chances de ser derrotado em 2018. Pelo menos um terço da população venezuelana, de 20 milhões de habitantes, rejeitou, em referendo, a Assembleia Constituinte convocada por Maduro para o próximo dia 30 de julho. 

Confira abaixo nove motivos pelos quais o PT, o PC do B e o PDT deveriam se envergonhar de apoiar a ditadura de Maduro na Venezuela: 

1 – Mortes de civis 

Desde a intensificação da crise venezuelana, em abril, pelo menos 125 pessoas foram mortas em cerca de 4 mil confrontos envolvendo forças de segurança e manifestantes contrários e a favor de Maduro. Os dados são do Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais. A maioria das mortes atinge civis. O cenário, segundo especialistas, pode ser o prenúncio de uma guerra civil. 

2 – Fome 

Um dos reflexos causados pela crise é o rastro de fome que atinge a maioria da população da Venezuela. De acordo com uma pesquisa da empresa Venebarómetro, oito em cada dez venezuelanos afirmam não ter dinheiro suficiente para comprar alimentos nem remédios. A saída para aliviar a fome, em muitos casos, tem sido revirar lixeiras e caminhões de lixo próximos a restaurantes e mercados. Embora esses venezuelanos ainda tenham emprego e abrigo, seus salários não dão para comer. 

3 – Violação dos direitos humanos 

Outro reflexo do desgoverno de Maduro é a violação de direitos humanos a partir de prisões arbitrárias, como forma de reprimir a liberdade de expressão. Um levantamento do Fórum Penal Venezuelano mostra que o país conta com 431 presos políticos. A maior parte, 346, foi detida durante manifestações. 

Segundo a Anistia Internacional, há prisões sem ordens judiciais por parte do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), imputação de delitos de caráter militar contra civis e desacato de ordem de libertação por parte daqueles que detêm a custódia dos presos, entre outras situações.

4 – Saques e anarquia nas ruas 

A crise na Venezuela tem sido traduzida por uma completa anarquia nas ruas. Há não só tumultos, protestos e saques a estabelecimentos comerciais, que se tornaram cemitérios de vidros quebrados, mas também linchamentos. Um caso recente foi o de um jovem suspeito de ser ladrão ou espião do governo. Ele teve o corpo incendiado por manifestantes. Em alguns bairros da capital Caracas, homens mascarados também montam barricadas, cobrando pagamento de carros que circulam pelas vias. 

5 – Inflação de 1.600% 

A alta da inflação no país – de cerca de 1.600% em 2017 - tem afetado extremamente o poder de compra dos venezuelanos e, em função dos desdobramentos que isso provoca na sociedade, deveria ser um motivo de vergonha para qualquer apoiador do regime de Maduro. Somente nos últimos cinco anos, o consumo dos venezuelanos teve queda de 55%. Na prática, a população compra apenas metade do que consumia em 2012. Essa escassez de produtos têm imposto mudanças drásticas de hábitos à população. 

6 – Fuga em massa 

Em meio à crise econômica, muitos venezuelanos tem deixado o país em busca de melhores condições de vida. O Brasil é um dos destinos que se tornaram aposta destas pessoas. Somente em Roraima, cerca de 30 mil pedidos de refúgio foram recebidos em 2016. A situação tem gerado impasse em cidades da fronteira, como Pacaraíma, a 190 quilômetros de Boa Vista. As autoridades locais precisaram decretar emergência na saúde pública em função do número de venezuelanos vivendo em situação precária nas ruas. 

7 - Prisão de Leopoldo López 

A prisão de representantes da oposição é uma clara afronta à democracia e ao direito de liberdade de expressão na Venezuela. O líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López, foi condenado, em 2014, a quase 14 anos de prisão por, supostamente, incitar a violência em uma série de protestos contra Maduro. A família de López chegou a ficar dias sem receber notícias dele enquanto o opositor estava preso. O opositor recebeu o benefício para cumprir prisão domiciliar no início de julho, por problemas de saúde. Antes, porém, foi divulgado um vídeo em que é possível ouvir a voz dele pedindo ajuda contra tortura sofrida na cadeia. 

8 – Desaprovação popular 

Cerca de 80% da população venezuelana quer que Maduro deixe o governo do país ainda neste ano. Os dados fazem parte de um levantamento recente do Instituto Datanálisis e mostram que o chavismo, se depender do eleitorado, está com os dias contados. Nome da oposição, como o do próprio Leopoldo López, superam o do presidente na pesquisa. 

9 – Semelhança com Chile, de Allende 

A situação vivenciada pelos venezuelanos é semelhante à crise enfrentada pelos chilenos, no governo de Salvador Allende, na década de 1970. Na época, o capital nacional e estrangeiro desapareceu e também houve escassez de alimentos e outros produtos básicos para a população. No entanto, assim como os apoiadores de Maduro na Venezuela, ainda há quem diga que os problemas no Chile foram causados por sabotagens da CIA, agência de inteligência americana, e não pela política do presidente socialista que estava no poder. 

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