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Johnny Flynn (o jovem Einstein) e Geoffrey Rush, que interpreta o cientista já adulto e fugindo da Alemanha nazista em direção aos Estados Unidos (ele era judeu) | Dusan Martincek/National Geographic/Divulgação
Johnny Flynn (o jovem Einstein) e Geoffrey Rush, que interpreta o cientista já adulto e fugindo da Alemanha nazista em direção aos Estados Unidos (ele era judeu)| Foto: Dusan Martincek/National Geographic/Divulgação

Albert Einstein é sinônimo mundial de genialidade. E embora muita gente saiba que ele foi o responsável por criar a Teoria da Relatividade e por ajudar os Estados Unidos a acelerar a produção da bomba atômica que acabaria com a Segunda Guerra Mundial, aniquilando as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki, pouca gente entende exatamente qual linha de raciocínio o levou a tais resultados.

Nem mesmo o produtor da primeira temporada da antologia “Genius”, que estreou neste domingo (23) no canal pago NatGeo, o vencedor do Oscar Ron Howard (diretor de “Uma Mente Brilhante”).

Em notas de produção distribuídas à imprensa durante o lançamento da série em um evento na cidade de Pasadena, leste de Los Angeles, Howard dizia o seguinte: “Antes dessa série eu não entendia nada sobre a Teoria da Relatividade. E depois dela, continuo sem entender.” Mas, com o perdão do trocadilho infame, não precisa ser nenhum “genius” para entender o que se passa nesta série.

Baseada no livro “Einstein: sua Vida e seu Universo”, do autor Walter Isaacson, a série é protagonizada pelos atores Geoffrey Rush, que interpreta o cientista já adulto e fugindo da Alemanha nazista em direção aos Estados Unidos (ele era judeu), e Johnny Flynn, que dá corpo a Einstein na juventude, quando ele era um jovem arrogante, mas não menos brilhante, a ponto de ridicularizar os próprios professores.

A principal premissa de “Genius: a Vida de Einstein”, portanto, é aproximar o público deste notório personagem mostrando suas características demasiadamente humanas e mundanas.

Gênio mundano

O primeiro episódio começa com o assassinato do ministro da relações exteriores alemão e amigo pessoal do físico, Walter Ratenau, sendo fuzilado por rebeldes nazistas em uma emboscada durante o conturbado período político conhecido como República de Weimar, em que um governo fraco e sem apoio popular daria abertura para a ascensão de Adolph Hitler.

Mas enquanto a Alemanha se direciona rumo à era do extremos, Einstein aparece de calças arriadas transando com sua amante e secretária Betty Neumann. Na cozinha, a prima que se tornou sua segunda mulher, Elsa Einstein (Emily Watson) faz vistas grossas.

Tais histórias não são mera ficção sensacionalista. O livro no qual se baseia a série tem como fonte primária uma coleção de 1.400 cartas escritas pelo físico e que foram divulgadas em 2006, 20 anos após a morte de sua enteada Margot, e doadas à Universidade Hebraica de Jerusalém — historiadores apontam que esta é apenas uma pequena parte de um conjunto de mais de 55 mil cartas escritas durante toda sua vida.

Outros dramas presentes neste material têm lugar na narrativa criada por Howard, como o primeiro casamento com a sérvia Mileva Maric (Samantha Colley), a única mulher em sua turma da faculdade. Além de a família desaprovar o romance, Mileva ficou grávida pela primeira vez de Einstein sem planejar e, devido a sua condição, acabou reprovando nos exames finais. Retornou a seu país de origem e teve a primeira filha do casal, Lieserl, cuja existência só foi descoberta em 1986, 31 anos após a morte do físico. Relatos históricos indicam que Einstein nem sequer chegou a conhecê-la, pois a criança teria morrido de escarlatina ainda na Sérvia — mas há quem diga que a criança teria sido doada.

Antes que fosse tarde demais

A série, no entanto, não se limita ao melodrama, mas pretende fazer uma espécie de dramatização do período histórico em que o físico alemão vivera. Tendo sobrevivido a duas guerras mundiais, incentivou muitos amigos judeus da comunidade científica alemã a deixar seu país por volta de 1930 “antes de que fosse tarde demais”.

Rumo aos Estados Unidos, onde viveu até sua morte, foi vítima de escrutínio pelo senador Joseph McCarthy, famoso por sua doutrina de caça aos comunistas. Einstein era socialista declarado e manteve suas convicções, não entregou seus pares e disse que preferia ir para a cadeia a abdicar do seu direito à liberdade de pensamento. Embora McCarthy o odiasse, nunca conseguiu qualquer prova de que ele seria “um inimigo da América”.

Personalidade carismática

Outro aspecto de sua vida que “Genius: a Vida de Einstein” pretende mostrar ao longo de seus dez episódios é como ele se tornara uma celebridade por desvendar uma visão até então desconhecida sobre o universo e a física quântica. Conforme mencionado anteriormente, já em sua época, pouca gente entendia suas ideias, mas, vivesse ele em um mundo de smartphones, certamente seria um dos personagens favoritos na fila da selfie.

“Quando comecei a pesquisar o que seria um gênio, não queria me fixar na ideia de que era apenas alguém com um Q.I. alto. Encontrei minha resposta no filósofo alemão Schopenhauer. Segundo ele, o gênio é aquele que atinge um alvo que ninguém pode ver. Quando li o roteiro e vi suas primeiras imagens desembarcando da Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, assim que ele pisava em terra, imediatamente uma multidão de pessoas se aproximava. Era um homem de um otimismo magnético de um carisma digno do [comediante] Harpo Marx. Eu imaginei, inclusive, o Harpo lendo esse roteiro”, disse o ator Geoffrey Rush ao explicar como compôs seu personagem.

O escritor Ken Biller também destacou o aspecto naturalmente cômico do cientista ao dizer que “os diálogos mais brilhantes” escritos por ele na série eram frase do próprio Einstein.

A hora e a vez dos cientistas

Não por acaso, “Genius”, já foi renovada para uma segunda temporada mesmo antes de sua estreia, chega à TV em um momento em que outros grandes cientistas têm ganhado narrativas cinematográficas centradas em sua vida pessoal. “Estrelas Além do Tempo”, por exemplo, dramatiza a vida das matemáticas afro-americanas Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, responsáveis por ajudar a levar o primeiro americano ao espaço. Três anos atrás, a tragédia pessoal de Stephen Hawking, tido como o sucessor de Einstein e vítima de esclerose múltipla, foi retratada no filme “A Teoria de Tudo”, que deu o Oscar de melhor ator ao britânico Ed Redmayne.

Conforme disse o jornal The New York Times, talvez este seja o momento dos cientistas na cultura popular, especialmente em uma era em que o cinema obtém seus rendimentos brutos em franquias de ficção científica e em histórias de super heróis. Mas também, assim como Hawking, o que atraia o interesse do público nestes personagens seja exatamente suas tragédias humanas. No caso de Einstein, a capacidade de enxergar o universo como nunca nenhum outro homem já viu e, ao mesmo tempo, ter que carregar o peso de ter ajudado a criar algo capaz de destruir a própria existência humana.

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