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Donald Trump conquistou a presidência somando 306 votos eleitorais contra 232 de Hillary Clinton. Mas Clinton venceu no voto popular por quase 3 milhões de votos e uma margem de 2,1 pontos percentuais. | PAUL J. RICHARDS/AFP
Donald Trump conquistou a presidência somando 306 votos eleitorais contra 232 de Hillary Clinton. Mas Clinton venceu no voto popular por quase 3 milhões de votos e uma margem de 2,1 pontos percentuais.| Foto: PAUL J. RICHARDS/AFP

Estavam as pesquisas muito erradas em 2016? Um novo relatório oferece uma resposta ambivalente

Na sequência da eleição presidencial americana do ano passado, a indústria de pesquisas de opinião e projeções políticas apanhou, acusada de ter deixado passar uma das maiores histórias políticas da geração. Um novo relatório examinando o que aconteceu chega a uma conclusão ambivalente: pesquisas nacionais foram geralmente precisas em projetar o voto popular, mas pesquisas estaduais tiveram “um ano historicamente ruim” em prever os resultados do colégio eleitoral. 

Donald Trump conquistou a presidência somando 306 votos eleitorais contra 232 de Hillary Clinton. Mas Clinton venceu no voto popular por quase 3 milhões de votos e uma margem de 2,1 pontos percentuais. Essa foi a segunda vez nas últimas cinco eleições em que um democrata venceu no voto popular e um republicano venceu no colégio eleitoral. 

Os resultados produziram um dilúvio de críticas sobre a cobertura jornalística da campanha, dadas as previsões quase universais de uma vitória de Hillary e questões sobre por que Trump foi tão subestimado na reta final para o dia da eleição. Os autores do relatório sintetizaram a resposta do público ao resultado dessa forma: 

“No dia seguinte à eleição, havia uma palpável mistura de surpresa e indignação dirigida contra a comunidade de pesquisas de opinião, conforme muitos sentiam que a indústria tinha induzido seriamente o país ao erro a respeito de quem ganharia.” 

As críticas levaram a Associação Americana de Pesquisas de Opinião Pública (AAPOR, na sigla em inglês) a convocar um comitê de 13 membros para estudar em detalhes em que medida as pesquisas estavam erradas e por quê. O relatório do painel foi divulgado no início deste mês. 

Fatores

Hillary atribuiu sua derrota parcialmente à decisão do diretor do FBI James B. Comey de enviar uma carta ao Congresso em 28 de outubro anunciando que investigadores tinham descoberto um rastro fresco de e-mails seus e que a investigação sobre seu uso de um servidor privado de e-mail quando era Secretária de Estado estava sendo reaberta. 

“Se a eleição tivesse sido realizada em 27 de outubro, eu seria a sua presidente”, Hillary disse em uma entrevista com a jornalista da CNN Christiane Amanpour. 

O relatório da AAPOR buscou responder a questão sobre em que medida a carta de Comey contribuiu para a vitória de Trump, mas não chegou a oferecer uma resposta conclusiva.

“A evidência de um efeito significativo da carta do FBI sobre a eleição é no mínimo ambíguo”, o relatório afirma. 

Na véspera da eleição, vários indicadores apontaram uma vitória de Clinton, de acordo com o relatório. Entre eles estavam os padrões de votação antecipada em estados indecisos, previsões de analistas e pesquisas de intenção de voto no norte meio-oeste do país, que “mostravam Hillary liderando, ainda que por uma pequena margem, na Pensilvânia, em Michigan e em Wisconsin.” No final das contas, Trump levou esses três estados por apenas 77.774 votos, ou pouco mais de meio ponto percentual. 

Mais precisas do que em 2012

As duas conclusões principais do relatório sobre pesquisas de opinião sublinham que foi um ano traiçoeiro para os pesquisadores e, portanto, para as previsões. O comitê da AAPOR concluiu que as pesquisas nacionais “geralmente estiveram corretas e precisas por padrões históricos”, e que foram mais precisas do que em 2012. As pesquisas, em média, apontavam uma vitória de Hillary no voto popular por cerca de 3 pontos percentuais. Sua vantagem eventual estava exatamente dentro da margem de erro das pesquisas nacionais. 

Mas onde as eleições são decididas, em disputas estado a estado, as coisas não estavam tão cor-de-rosa para pesquisadores. Pesquisas estaduais foram historicamente ruins — o relatório diz que foi o maior erro em pesquisas eleitorais estaduais desde 2000 — e a falha crucial foi a subestimação do apoio a Trump. Isso foi particularmente verdade no norte do meio-oeste, onde a eleição foi decidida. 

O time da AAPOR também encontrou falhas entre aquelas organizações que produzem agregados de pesquisas e projeções de resultados e apontou para essas previsões como uma das razões por que muitas pessoas ficaram surpresas com o resultado da eleição.

“Elas ajudaram a cristalizar a crença errônea de que Hillary era certamente a presidente”, afirma o relatório. 

O relatório buscou traçar uma distinção entre pesquisas de opinião, que os autores chamam de “uma fotografia instantânea do momento”, e modelos de previsão. Mas houve um alerta explícito a respeito dos limites de todas essas medidas. “Parece que cautela e humildade precisam ser recomendadas àqueles que usam pesquisas”, afirma o relatório. 

Decisão de última hora

Os autores buscam determinar porque o voto de Trump foi subestimado, particularmente nas pesquisas estaduais. Uma razão, concluíram, foi de que muitos eleitores esperaram até o fim da campanha para decidir em quem votar, ou mudaram de ideia nos últimos dias. Esses erros foram “substanciais e problemáticos em diversos estados importantes”, conclui o relatório. 

Entre os estados que tiveram maior importância esteve Wisconsin, um estado em que os republicanos não venciam desde 1984, mas que Trump levou por menos de um ponto percentual. Mas também houve problemas em diversos outros estados que se mostraram cruciais, inclusive Michigan e Pensilvânia, dois outros estados que tinham escolhido candidatos democratas nas seis eleições prévias consecutivas. 

Pesquisas de boca de urna revelaram que eleitores que decidiram de última hora apoiaram Trump por margens substanciais na Flórida, em Michigan, na Pensilvânia e em Wisconsin, quebrando a espinha da trajetória de Hillary para a vitória. O relatório observa: “isso pode ser visto como boa notícia para a indústria de pesquisas. Sugere que muitas pesquisas estavam provavelmente bastante precisas no momento em que foram realizadas.” 

Isso pode ser um consolo pequeno para a comunidade de pesquisas, dada a percepção pública de que as previsões em geral estavam bem equivocadas em 2016. 

Nível educacional

Uma clara fraqueza em pesquisas estaduais, de acordo com o relatório, foi o fracasso de muitos pesquisadores em ponderar seus dados com base no nível educacional. Em 2016, houve um significativo abismo educacional no comportamento dos eleitores, com eleitores sem educação superior apoiando pesadamente Trump em comparação com aqueles com educação superior. 

Muitas pesquisas estaduais continuaram a basear seus resultados em amostras que incluíam muitos eleitores com ensino superior e muito poucos sem, apesar do fato de o abismo educacional ter sido bem documentado desde cedo na campanha. 

Outra possível causa para erros nas pesquisas estaduais foi a mudança na composição do eleitorado e o comparecimento às urnas de diferentes grupos de eleitores em comparação com 2012. O relatório sugere que isso foi um problema, mas os autores dizem que eles carecem de dados adicionais do governo federal que permitiriam um estudo mais detalhado. 

Viés partidário

Um fator muito menor citado como uma possível razão por que as pesquisas no meio-oeste tenderam a subestimar o apoio a Trump foi de que ele aparecia como primeiro nome nas cédulas na Flórida, em Michigan e em Wisconsin. 

Uma teoria frequentemente oferecida é de que muitas pessoas que apoiaram Trump estavam indispostas a contar aos pesquisadores sua preferência. Diversos testes dessa teoria “resultaram em nenhuma evidência a seu favor”, diz o relatório. 

O relatório buscou refutar o argumento de que as pesquisas têm um viés partidário em favor dos democratas. Embora as pesquisas de 2016 tenham tendido a subestimar o apoio a Trump, pesquisas em 2012 e 2000 tenderam a subestimar o apoio aos candidatos presidenciais democratas.

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