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Policiais fazem busca em Manchester: menos recursos que a capital Londres | OLI SCARFF/AFP
Policiais fazem busca em Manchester: menos recursos que a capital Londres| Foto: OLI SCARFF/AFP

Depois que uma enxurrada de fãs criticou o sistema de segurança no show da cantora Ariana Grande na Manchester Arena — onde um ataque suicida matou 22 pessoas e deixou 59 feridas — muitos questionam a vulnerabilidade de espaços públicos no país, principalmente fora da capital.

Segundo os espectadores, bolsas e mochilas não foram revistadas e não havia detector de metais na entrada do local, o que contrasta com a preocupação antiterrorista vigente na Europa e, principalmente, em Londres. A Manchester Arena afirmou que o incidente aconteceu “fora do estádio, num local público”, sugerindo que o terrorista se aproveitou de um ponto fraco ao agir na área da entrada do estádio, ligada à estação de trens Victoria e à estação de bondes.

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Durante a madrugada, muitos presentes comentaram em redes sociais e em entrevistas à mídia britânica que era possível entrar na arena com objetos debaixo dos casacos, sem qualquer revista. Um procedimento incomum para a segurança que se espera na maior arena da Europa, num país que já vivia alto nível de alerta antiterrorismo — aumentado pela premier Theresa May para crítico, o mais elevado.

“Estive em shows antes e às vezes te revistam ou você tem que esvaziar os bolsos. Não houve absolutamente nada no show. Scanearam nossos ingressos e entramos”, disse Chris Pawley à Fox News.

Para Otso Iho, do Jane’s Terrorism & Insurgency Center (JTIC), ao esperar que as pessoas passassem do perímetro de segurança antes de realizar a explosão, o terrorista evidenciou a vulnerabilidade destes eventos em massa, “apesar das medidas de segurança no local e nos próprios estádios”.

“A posição do agressor suicida e o momento da detonação, que maximizaram as mortes num espaço fechado, enquanto conseguia escapar dos controles de segurança, sugerem que ele havia calculado um número importante de elementos para a operação”, explicou Kit Nicholl, analista de segurança no IHS Markit.

Críticos concordam que muito esforço foi destinado à proteção da capital, em alerta de emergência severo — o segundo nível mais alto, quando é altamente provável que haja um atentado — desde agosto de 2014 até terça-feira, em contraste com outras grandes cidades, como Manchester, com quase 500 mil habitantes. Entre 2013 e março deste ano, os serviços de segurança impediram 13 grandes conspirações terroristas na capital.

“Apesar dos esforços recentes para regionalizar e descentralizar operações contraterrorismo, muito do aparato de segurança do país permanece focado em Londres, onde unidades especiais estão em prontidão 24 horas por dia, sete dias da semana, e autoridades podem confiar na extensa vigilância de vídeos para agir rapidamente”, escreveu Rick Noack, em artigo publicado no Washington Post.

“Projetos prestigiados, como um sistema de segurança caro desenhado para proteger o distrito financeiro de Londres, não foram amplamente replicados em outras grandes cidades.”

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Nestes locais, as apontadas falhas dos programas governamentais contra radicalização têm sido mais claras — e, em alguns casos, as críticas vêm das próprias autoridades.

Em 2015, o chefe de polícia da região da Grande Manchester, Peter Fahy, rejeitou duramente o programa contra radicalização do Reino Unido, o Prevent, do então primeiro-ministro David Cameron e da secretária de Estado Theresa May, atual premier, que incluía o fechamento de mesquitas ou a interrupção dos fundos para caridade acusados de colaborarem com possíveis extremistas.

À época, Fahy também afirmou que a segurança de Manchester poderia ser atingida por cortes severos de equipe — algo que as entidades policiais têm alertado que poderia dificultar a resposta das forças policiais a ataques e outros incidentes.

“Um problema principal sempre foi que o programa foi iniciado e conduzido pela polícia”, disse Peter Neumann, diretor do Centro Internacional de Londres para Estudo de Radicalização e Violência em Potencial, em entrevista antes do ataque. “Muitos muçulmanos criaram a percepção de que não eram tratados como cidadãos normais, mas sim como ameaças à segurança.”

Falta de recursos

Em outros locais do Reino Unido, sindicatos de polícia também reclamam da falta de recursos e sobre preocupações de possíveis ataques que não são levadas a sério. A antiga tradição de policiais britânicos não usarem armas de fogo — ao contrário de muitos países ocidentais — também vem sendo alvo de críticas em meio à alta ameaça de terrorismo.

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Mais agentes vêm sendo treinados para usar o armamento, mas principalmente em áreas menos populosas, as corporações argumentam que os esforços são lentos e os poucos policiais armados demorariam a chegar a um ataque. Outros dizem que, mesmo com armas de fogo, eles dificilmente impediriam terroristas de usarem explosivos.

O uso do artefato no atentado também marca uma piora desde os últimos ataques no país, nos quais foram usadas facas e carros.

“Desde os ataques de Londres em 2005, foram colocadas em prática medidas para restringir a compra de materiais que poderiam ser usados para fabricar explosivos”, afirmou Kit Nicholl.

Agora, países como EUA, Japão e Cingapura consideram fortalecer a segurança antes de grandes shows e eventos esportivos. Na terça-feira, a Federação Francesa de Tênis anunciou que aumentou para 1.200 o número de agentes para o Grand Slam de Roland Garros, que começa domingo.

“As empresas de segurança também resistem a serem muito invasivas”, explica Simon Battersby, diretor do Showsec Group, que tem a Manchester Arena como cliente. “As pessoas querem se sentir seguras, mas também relaxadas.”

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