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| Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDSAFP

 O autor Michael Wolff reforçou o esforço do presidente Donald Trump em desacreditar seu novo livro Fire and Fury (Fogo e Fúria, em tradução livre) na sexta-feira (05), quando ele reconheceu, em uma entrevista no programa Today Show, que estava disposto a dizer o que fosse "necessário" para obter acesso na Casa Branca. 

A confissão de Wolff não enfraquece necessariamente a veracidade de seu relatório, mas cria uma imagem de que ele pode ter se aproximado de alguns membros da equipe do presidente sob falsas pretensões, levando as fontes a acreditar que, quando se abriam, estavam falando com um ouvinte complacente. Este é um olhar prejudicial – um que a Casa Branca pode usar para impugnar a integridade de Wolff e, talvez injustamente, lançar dúvidas sobre quaisquer elementos de seu trabalho de que o presidente não goste. 

Aqui está a conversa de Wolff com a co-apresentadora do Today Show Savannah Guthrie: 

GUTHRIE: Seu ex-editor na Vanity Fair, Graydon Carter, disse que não estava surpreso de que você escreveria este livro explosivo; ele estava surpreso por eles terem deixado você entrar pela porta da frente na Casa Branca. Você está surpreso? 

WOLFF: Sabe, um, não. Eu sou um cara legal. Eu entro . . . 

GUTHRIE: Você mentiu para conseguir sua entrada? 

WOLFF: Eu certamente falei o que era necessário para conseguir a história. 

É fácil de se encontrar exemplos de Wolff dizendo coisas que agradariam Trump e sua equipe – um tema em que outros jornalistas são injustos. 

Na manhã seguinte à eleição de Trump, Wolff escreveu no Hollywood Reporter que “a mídia se transformou na oposição e, portanto, votou conforme a nova realidade política emergiu”. Ele repreendeu o editor David Remnick, do New Yorker, por ter dito que a vitória de Trump era uma “tragédia americana”, e escreveu que “respeito poderia ser apropriado”. 

Pouco tempo depois, Wolff se referiu a colegas repórteres em uma entrevista ao Digiday. “Deixe-me mandar a mensagem: vocês deveriam se limitar a transcrever as falas do presidente”, ele disse. 

Depois da posse de Trump, Wolff acusou a imprensa de promover uma campanha para derrubar o presidente. “O Santo Graal da mídia é, como tem sido por muito tempo na campanha, sobre qual acusação vai grudar no presidente”, ele escreveu em Newsweek. “Das inúmeras possibilidades prejudiciais, qual seria a que primeiro pareceria prejudicial (não preste atenção nas inúmeras instâncias que muitas pessoas já pensavam que eram, ou que seriam) ou tão chocante e insultante para o corpo político que seria o fim, ou no mínimo o princípio do fim, de Trump? Nada importa a não ser a entrega de uma ferida mortal, então tudo é entregue como se fosse uma ferida mortal.” 

Entrevistando a conselheira do presidente Kellyanne Conway durante um evento no Newseum, em Washington, em abril, Wolff disse, “para mim, o The New York Times parece ter um furo virtual. E neste furo, que costuma merecer uma capa, o furo é que o presidente Trump é um presidente aberrante.” 

Você entendeu a ideia. Pareceria natural para os assessores da Casa Branca concluir, baseados na cobertura de Wolff, que seu livro seria uma obra favorável. 

Michael WolffJabin Botsford/The Washington Post

Fogo e fúria não é completamente inconsistente com as declarações prévias de Wolff. Ele escreve sobre o que ele chama de “autoespírito de justiça da mídia tradicional e desprezo por Trump”, por exemplo. Ainda que o livro seja um retrato de – para pegar emprestada a frase que Wolff aplicou criticamente à cobertura de Times - “um presidente aberrante”. 

Trump, talvez se sentindo traído, publicou no Twitter na noite de quinta-feira que ele “autorizou zero acesso à Casa Branca”, alegou que “nunca falou” com Wolff e acusou o autor de fabricar fontes. 

Como as respostas de Trump a críticas costumam fazer, essa excedeu os limites da realidade. A própria porta-voz do presidente, Sarah Huckabee Sanders, disse na quarta-feira que Trump realmente falou com Wolff, embora ela tenha alegado que a conversa foi breve. A presença regular de Wolff na Casa Branca foi comprovada por pessoas que o viram, e não há evidências de que ele tenha inventado fontes. 

Mas a confissão de Wolff de que ele “certamente disse o que foi necessário para conseguir a história” sugere que algumas de suas coberturas do passado podem ter sido ditadas por estratégia, em vez de convicção sincera, o que deixa o autor aberto para perguntas também sobre a sinceridade de seu livro.

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