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Cartaz publicado no Facebook pela página Direita São Paulo | Reprodução
Cartaz publicado no Facebook pela página Direita São Paulo| Foto: Reprodução

No dia 10 de fevereiro, São Paulo terá uma Guerra Fria em seu carnaval de rua. De um lado, o já estabelecido Bloco Soviético, que desde 2013 faz referências ao comunismo, e celebrou, em 2017, os 100 anos da revolução bolchevique na Rússia. Este ano, em resposta, o grupo Direita São Paulo resolveu criar o Bloco Porão do Dops, convidando todos os “anticomunistas da região”. “Se você é anticomunista, não pode perder! Venham à caça, soldados!”, publicou no Facebook.

O Departamento de Ordem Política e Social (Dops) era o órgão responsável pela repressão durante a ditadura militar.

Na página, ainda anunciou carne, cerveja e “marchinhas opressoras”. Entre as marchinhas publicadas na página, estavam paródias de músicas tradicionais, com letras como: “Lá vem o camburão/ na maior velocidade/ é lindo a PM/ dando porrada e prendendo a bandidage (sic)” e “Você pensa que bandido é gente/ bandido não é gente não/ bandido bom tá descansando/ deitado dentro de um caixão”. 

Em outra publicação da página, é dito que o “Coronel Ustra vive e viverá para sempre em nossos pensamentos.” Ustra foi chefe do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo no período de 1970 a 1974. Também foi o primeiro militar reconhecido pela Justiça como responsável por 502 casos de tortura e de mais de duas mil prisões políticas

A vereadora Sâmia Bomfim (PSOL) se posicionou contra o bloco. “Um grupo de extrema-direita está divulgando nas redes um “Bloco de Carnaval” chamado “Porão do DOPS”. No evento, há foto do Coronel Brilhante Ustra, torturador da época da ditadura, e um anúncio, como atrações do bloco, de “marchinhas opressoras”, “opressão” e “cerveja”. Não há nada de engraçado nisso. Tampouco esta provocação tem a ver com carnaval. Nossa legislação é clara em definir como crime a apologia à tortura e a incitação à violência. Sou membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e, junto à minha equipe jurídica, vou tomar medidas contra esse evento bizarro, essa atrocidade, essa provocação contra a cidade de São Paulo que meia dúzia de reacionários estão querendo fazer, justamente, em meio ao carnaval.” 

Em conversa com a Gazeta do Povo, Paula Kaufmann, chefe de gabinete da vereadora, disse que estão estudando as possibilidades legais para, se for o caso, levar adiante um processo contra os realizadores do bloco. 

Douglas Garcia, de 23 anos, do grupo Direita São Paulo, disse à Gazeta do Povo que não considera Ustra torturador. “Não acreditamos que Ustra tenha torturado alguém”. Para ele, o tribunal que condenou Ustra é um “tribunal de exceção”. Ustra foi condenado pela justiça de São Paulo em primeira e segunda instâncias. A escolha de Ustra para o cartaz do Bloco, segundo Douglas, seria para “desmistificar” a fama de torturador do coronel. 

O uso do Dops para batizar o bloco teria surgido ano passado, como uma brincadeira. Primeiro foi criado um evento fictício no Facebook, marcado para o mesmo local do Bloco Soviético, como forma de provocação. Este ano decidiram colocar a ideia em prática. “A gente queria algo que fizesse o contraponto ao Bloco Soviético, algo que causasse ojeriza na esquerda. Então pensamos no regime militar — não concordamos que tenha sido uma ditadura — que é algo sobre o que eles escrevem até hoje, e quando rebatemos somos tachados de nazistas e fascistas.” 

Na página do evento, os organizadores da Direita São Paulo pediram para os participantes para que “todos ignorem as ameaças e discursos de ódio contra o nosso evento. Não respondam a essas ameaças. Fiquem tranquilos, nosso evento haverá segurança. Não vamos entrar na onda e nem na pilha desses intolerantes. Se eles têm o direito de fazer o Bloco Soviético, nós também temos o direito de fazer o nosso Bloco.” 

O evento estava previsto inicialmente para ser realizado na Rua Faustolo, 35, no bairro da Lapa, endereço do Restaurante Três Pescadores. Mas depois das fortes reações na página do restaurante no Facebook contra o Bloco, os proprietários cancelaram a realização da festa

“A todos os clientes e amigos, não sediaremos qualquer evento político em nosso estabelecimento, a nossa primeira missão é servir bem a comunidade, e quando a comunidade não está bem, nós também não estamos, pedimos desculpas a todos, o evento foi cancelado e todas as providencias já foram tomadas, não apoiamos a violência o preconceito ou quaisquer outras condutas relativas em nosso estabelecimento, novamente pedimos desculpas pelo nosso erro.”

Douglas Garcia disse que os donos do restaurante receberam várias ligações com ameaças de depredação. “Essa é a democracia da esquerda. Eles podem ter o bloco deles, mas nós não podemos realizar o nosso.”

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