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Germes grudados no exterior da Estação Espacial Internacional não vieram daqui, disse o cosmonauta Anton Shkaplerov em uma entrevista na última semana ao serviço estatal russo de notícias Tass. Micróbios “vieram do espaço e se alojaram na superfície externa”, disse Shkaplerov. “Eles foram estudados, e parecem não oferecer perigo.” A agência espacial russa, Roscosmos, não comentou essa alegação extraordinária.

As chances não estão a favor dos alienígenas. Se microrganismos estiverem escondidos dentro das cavidades da estação espacial, como Shkaplerov diz, eles provavelmente viajaram os 400 quilômetros desde a superfície do nosso planeta. 

Mas vamos imaginar que cientistas encontraram micróbios alienígenas. Como a humanidade reagiria a essa notícia? 

Michael Varnum, psicólogo na Universidade do Estado do Arizona e membro da Interplanetary Initiative, está tentando antecipar essa resposta. “Uma das questões iniciais [da iniciativa] é que estamos curiosos acerca de como poderíamos responder se descobríssemos provas de vida extraterrestre”, disse. 

O momento em que humanos conhecem ETs é um ponto comum da ficção e de especulação, assim como na ciência amadora e nos canais de conspiração no YouTube. Ninguém previu as reações psicológicas a microrganismos extraterrestres “de modo sistemático e cuidadoso”, segundo Varnum. 

Varnum se uniu a cientistas planetários e conduziu três experimentos. O estudo, publicado online em novembro em um serviço de pré-publicação, ainda está em revisão, segundo Varnum. Dois psicólogos não envolvidos na pesquisa disseram ao The Washington Post que os métodos do estudo são sólidos. 

O psicólogo e os coautores do estudo “fizeram uma distinção crítica entre as reações a descoberta de inteligência extraterrestre e encontrar evidências de vida microbial fora da Terra”, disse Douglas Vakoch, presidente da ONG Extraterrestrial Intelligence, que não participou do estudo. Esse trabalho é incomum, segundo ele, pois os estudos anteriores focaram em vida inteligente. 

No primeiro experimento do estudo, Varnum e os coautores analisaram como a mídia relata descobertas extraterrestres. Eles observaram cinco eventos: a descoberta de pulsares em 1967, que não foram imediatamente reconhecidos como naturais; a detecção do sinal de rádio “Uau!” pelo astronauta de Ohio, Jerry Ehman, em 1977 (a origem do sinal ainda é debatida); o anúncio, em 1996, de micróbios fossilizados em um meteorito marciano; o comportamento estranho da Estrela de Tabby relatado em 2015; e as descobertas, em 2017, de exoplanetas que existem em zonas habitáveis distantes. 

Reação positiva

Os psicólogos alimentaram um programa de análise de conteúdos de texto com quinze artigos – do New York Times, Wall Street Journal, The Post, entre outros – para busca de palavras positivas e negativas. Jornalistas descreveram esses eventos usando palavras de “efeito positivo” com maior frequência. 

“A reação pareceu muito mais positiva do que negativa”, disse Varnum. 

Gordon Pennycook, psicólogo da Universidade Yale que estuda crenças sobre religião, saúde e notícias falsas, disse que a técnica é sólida, mas argumentou que os resultados não foram particularmente esclarecedores. “Eu não tenho certeza se a análise de linguagem revela algo especial”, disse Pennycook, pois “há algumas evidências de que as pessoas usam mais palavras positivas do que negativas de modo geral”. 

Os pesquisadores também pagaram para participantes responderem online a notícias sobre micróbios extraterrestres. Os cientistas pediram para 500 pessoas descreverem as suas reações a uma descoberta hipotética de microrganismos alienígenas. Os participantes também deveriam prever como a humanidade como um todo reagiria a isso. Assim como os jornalistas, as pessoas do estudo usaram palavras positivas. Não houve características que diferenciaram as pessoas, como renda, etnia ou orientação política, ou traços como neuroticismo ou concordância. Mas as pessoas sentiram que o resto do país seria menos concordante. 

Isso poderia ocorrer porque “a maioria dos americanos tende a pensar, em qualquer traço ou habilidade desejável, que eles são melhores do que as outras pessoas”, disse Varnum. 

Em um levantamento subsequente, os pesquisadores apresentaram a mais de 250 pessoas um artigo do New York Times de 1996, sem indicação de data, relatando evidências de nanobactérias fossilizadas em um meteorito marciano. 

O meteorito era um pedaço de Marte que havia se separado do planeta e caído na Antártida. Pesquisadores relataram no jornal Science que haviam encontrado moléculas orgânicas complexas no meteorito e impressões do que eles pensaram ser pequenas células, entre outros sinais em potencial de vida marciana fossilizada. A alegação foi tão explosiva que o presidente Bill Clinton publicou uma declaração dizendo: “Assim como todas as descobertas, essa irá e deverá continuar a ser revisada, examinada e investigada”.

Após anos de investigação, as alegações de fósseis no meteorito de Marte foram descartadas. O consenso agora é de que os sinais de vida sugeridos eram apenas depósitos minerais naturais. Os participantes do novo estudo não tiverem acesso a essa informação, no entanto. 

Como grupo de controle, outro grupo de participantes leu um artigo do New York Times sobre a criação de vida sintética no laboratório do geneticista Craig Venter em 2010. Venter e sua equipe criaram um genoma bacterial do zero e inseriram em uma membrana celular, essencialmente formando um novo organismo. 

Participantes dos dois grupos descreveram as suas reações de modo positivo, apesar da “tendência positiva” – a proporção de palavras agradáveis e desagradáveis – ter sido mais forte em relação ao fóssil. 

Com esses resultados, Pennycook disse que fica “muito confiante” de que, se a NASA anunciar a descoberta de micróbios alienígenas amanhã, os americanos reagiriam de modo positivo. 

“Resultados desse novo estudo reproduzem uma pesquisa realizada pelo teólogo Ted Peters, que explorou o impacto da descoberta de vida extraterrestre nas crenças religiosas de uma pessoa”, disse Vakoch. A maioria das pessoas respondeu que a sua religião suportaria a notícia – mas que outras religiões teriam dificuldades. “Parece que não precisamos nos preocupar com outras pessoas não conseguirem suportar o anúncio de vida extraterrestre”, disse. “Elas ficarão bem.” 

A cientista planetária Lindy Elkins-Tanton, que é diretora da iniciativa da Universidade do Estado do Arizona, mas não estava envolvida diretamente com esse estudo, disse que “se preparar para o que podemos encontrar” no espaço é o primeiro passo. A resposta positiva dos americanos, segundo ela, é algo “muito esperançoso”. 

Varnum alertou que esses resultados não refletem como o resto do mundo poderia responder. Vakoch reiterou essa opinião. Pesquisas anteriores sobre civilizações extraterrestres sugerem que os americanos tendem a ver alienígenas com menos nuance do que os moradores da China, por exemplo, segundo ele. “Participantes chineses conseguiram imaginar que o contato levaria tanto a riscos quanto benefícios”, enquanto americanos pensaram que a descoberta seria “totalmente boa ou totalmente ruim, mas não ambos”, disse. 

Esqueleto gigante

Isso também é crucial para acostumar as pessoas à ambiguidade, segundo Elkins-Tanton. Ela citou o longo debate acerca do meteorito marciano. Mesmo na ocasião de uma missão de recuperação em Marte obter uma amostra e levá-la a um laboratório, e espectadores testemunharem o organismo se reproduzindo, o consenso não seria imediato, dada a possibilidade de contaminação na Terra. Nesse cenário, a comunidade científica se convenceria mais rapidamente? “A menos que possamos ir para a Europa e encontrar um esqueleto gigante”, disse Elkins-Tanton. “Isso não acontecerá, na verdade.” 

Pequenos ETs não são uma ideia tão absurda. Durante 2,9 bilhões de anos, toda a vida na Terra era microscópica. Se a evolução funciona do mesmo jeito em outros lugares do universo, o alienígena médio seria menor do que um pequeno homem verde. Muito menor. 

“É mais provável encontrarmos micróbios ou vírus do que, digamos, civilizações inteligentes vivendo em Vênus”, disse Varnum. 

Vokach não foi tão rápido para trocar o rádio telescópio pelo microscópio na busca por alienígenas. 

“Apesar de não haver dúvidas de que existem mais planetas na galáxia com vida microbial do que vida inteligente, isso não significa que iremos detectar ‘bactérias’ fora da Terra antes de captar um sinal de rádio”, disse Vokach. Ele prevê que, desde que o dinheiro não acabe, especialistas escutarão um milhão de estrelas na próxima década, em busca de extraterrestres barulhentos.

Tradução de Andressa Muniz
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