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Manifestante durante protesto em Caracas contra Maduro: ditador venezuelano tem 70% de rejeição entre a população | Ronaldo Schemidt/AFP
Manifestante durante protesto em Caracas contra Maduro: ditador venezuelano tem 70% de rejeição entre a população| Foto: Ronaldo Schemidt/AFP

Abril trouxe um “despertar venezuelano” de protestos contra o governo, com saldo de 26 mortos, 1.486 detenções, incluindo 12 trabalhadores da imprensa, e centenas de feridos entre os dias 4 e 24, de acordo com ONGs de direitos humanos. Mas o saldo não parece ser, apesar de tudo, desanimador, não desta vez. Cidadãos, convocados ou não por líderes políticos, continuam a ocupar as ruas, apesar das balas, o gás e a tortura. É a única coisa que podem fazer: eles queriam votar em um referendo revogatório no ano passado, mas o governo não permitiu. A insatisfação, intensificada nos quatro anos de Maduro na presidência, não pode mais ser contida. No meio de um golpe institucional, e com um legado chavista de 720,5% de inflação, fome e morte, para onde se pode ir?

No meio de um golpe institucional, e com um legado chavista de 720,5% de inflação, fome e morte, para onde se pode ir?

É a primeira vez em quase 20 anos que a maioria dos venezuelanos concordam, mesmo em descontentamento: Maduro tem pelo menos 70% de rejeição. Por um longo período a polarização, um país “em duas metades”, dominou a dinâmica política liderada pelo carisma de Chávez e um talão de cheques gordo com lucros do petróleo.

O gasto público em programas sociais insustentáveis, juntamente com o controle do câmbio — com enormes esquemas de corrupção associados —, e a expropriação de propriedades privadas e empresas sob o pretexto de um “socialismo do século XXI”, para o qual ninguém votou, levou ao cancelamento da capacidade produtiva do país, e, finalmente, à dependência absoluta das importações para satisfazer até mesmo as necessidades básicas.

A estratégia funcionou para o Chávez porque ele morreu antes do colapso mundial dos preços do petróleo, mas Maduro não teve a mesma sorte. Na era Chávez, com um sistema eleitoral questionável, se votava e Chávez ganhava. Depois de sua partida, seus sucessores começaram a perder, mesmo com vantagem.

Mudança de governo

A única saída para a Venezuela trilhar um caminho mais promissor é mudança de governo, e sobre isso há consenso. Justamente por causa disso que o governo não permite eleições. O referendo revogatório, impulsionado em 2016 por uma oposição com maioria parlamentar recente, foi truncado pela autoridade eleitoral, mesmo com a pressão de uma comunidade internacional que o chavismo/madurismo já não pode comprar, e com as ameaças de expulsão da OEA e Mercosul.

As próximas eleições presidenciais são, em teoria, no final de 2018, mas a oposição as exige já, adiantadas, e gerais, de todas as autoridades –até mesmo dos deputados. A pressão internacional e das ruas serão suficientes para o governo concordar a realizá-las?

Possivelmente não.

O poder para o chavismo/madurismo é uma questão de vida ou morte. Pesam alegações pesadas ​​de crimes contra a humanidade, e de tráfico internacional de drogas sobre seus principais oficiais — provavelmente temem enfrentar a justiça comum e a vida sem privilégios.

Alguns sonham com uma “solução mágica”, possivelmente por meio da força militar, quando um dia os cidadãos se deitaram para dormir e no dia seguinte o governo ditatorial estava fora do poder

E mesmo que Maduro tenha declarado no fim de semana que deseja “eleições agora”, e tenha mencionado de maneira casual e imprecisa sobre um “processo popular constituinte por meios eleitorais pacíficos”, suas declarações foram recebidas com repúdio e ceticismo — elas vêm de alguém com legitimidade questionável e acusado de praticar um golpe institucional. Além disso, o deputado e peça fundamental do chavismo Diosdado Cabello afirmou que “não haverá eleições gerais sob quaisquer circunstâncias” porque isso não está previsto na constituição.

As duas soluções

Alguns são da opinião de que “a ditadura não cai com votos.” Talvez eles sonham com uma “solução mágica”, possivelmente por meio da força militar como em momentos da história distante venezuelana, quando um dia os cidadãos se deitaram para dormir e no dia seguinte o governo ditatorial estava fora do poder. Mas a realidade é que, até agora, a única mensagem, a única pista que existe sobre a intenção dos militares é a repressão dos protestos públicos, e a fidelidade manifesta do ministro da defesa ao governo.

Outra possibilidade manifesta publicamente por alguns atores internacionais é uma “solução negociada” com uma “passagem segura” para Maduro

Outra possibilidade manifesta publicamente por alguns atores internacionais é uma “solução negociada” com uma “passagem segura” para Maduro. É a sugestão da senadora uruguaia Verónica Alonso, que também sugere a mediação do Pepe Mujica. Ela acredita que este poderia ser o caminho para eleições livres.

Mas o termo “negociação” gera desconforto em uma sociedade marcada pela arbitrariedade de um governo ditatorial. Junto com o desejo de uma mudança de governo, há o desejo de justiça.

No entanto, é muito provável que os venezuelanos tenhamos que escolher entre uma coisa e outra, e até mesmo considerar a possibilidade de compromisso sobre alguns aspectos do futuro. Talvez seja preciso fazer as pazes com a ideia de um caminho que permita primeiro mudar o governo, e depois pensar sobre um processo de justiça de transição.

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