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Sul-coreano em estação ferroviária de Seul (foto de agosto de 2016) observa notícias sobre teste de mísseis balísticos lançados por submarino da Coréia do Norte | JUNG YEON-JE/AFP
Sul-coreano em estação ferroviária de Seul (foto de agosto de 2016) observa notícias sobre teste de mísseis balísticos lançados por submarino da Coréia do Norte| Foto: JUNG YEON-JE/AFP

Um número considerável de observadores dedicados à Coreia do Norte desenvolveu recentemente uma nova habilidade: meteorologia. Este inédito interesse no clima resume-se a um simples fato: Pyongyang esperava testar outro míssil balístico intercontinental. Por razões práticas, a Coreia do Norte normalmente prefere conduzir testes como este quando o céu está limpo. 

Quando quer que ocorra, o próximo teste não será um choque para os analistas. Os avanços no programa armamentista da Coreia do Norte são um fato inegável. O debate sobre quando Pyongyang teoricamente poderia atingir os Estados Unidos com um míssil nuclear modificou-se de “se” para “quando”. Diplomacia e ameaças parecem fazer pouca diferença; no estado das coisas o melhor a ser feito é apenas observar o clima. 

De fato, um fatalismo parece ter sido estabelecido sobre a crise da Coreia do Norte. E, quando se considera a realidade do programa armamentista de Pyongyang, não é difícil de enxergar a razão para tal. 

Em primeiro lugar, a Coreia do Norte possui armas nucleares – talvez até 30, conforme um ex-inspetor de armas das Nações Unidas – e não irá desistir delas voluntariamente. Kim Jong-un sabe o que aconteceu com líderes como o da Líbia, Moammar Gadhafi, e do Iraque, Saddam Hussein, após desistirem de seus programas nucleares. O navio da desnuclearização, neste ponto, quase que certamente já partiu. 

Enquanto isso, a Coreia do Norte em breve será capaz de colocar uma arma nuclear em um míssil que poderia atingir os Estados Unidos. Pyongyang continua testando mísseis e drasticamente melhorando suas tecnologias de armamento no processo. Em 4 de julho, um teste apresentou um míssil que poderia atingir o Alasca. Como o Washington Post publicou recentemente, oficiais americanos esperam que a Coreia do Norte tenha um confiável míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) com capacidade nuclear até pelo menos o ano que vem

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E aí está a grande questão: qualquer tentativa de utilização de força para destruir o sistema de armamentos da Coreia do Norte seria catastrófica. O melhor a ser feito por agora é ignorar a ameaça de mísseis nucleares. Seul, a capital da Coreia do Sul que possui 25 milhões de habitantes, se localiza a apenas 48 quilômetros da Zona Desmilitarizada entre os dois países. Na ocasião de um ataque militar nos locais de armazenamento nuclear da Coreia do Norte, Seul poderia facilmente ser atacada por forças de artilharia de Pyongyang antes mesmo de as armas serem baixadas. 

Como o Secretário de Defesa Jim Mattis disse neste ano, qualquer conflito com a Coreia do Norte seria “o pior tipo de luta na vida da maioria das pessoas”. Poucos pensam isso ser um exagero. Um estudo de 2012 estimava que 64 mil pessoas poderiam ser mortas por fogo de artilharia apenas no primeiro dia de um conflito em potencial com o país. 

Apesar dos comentários de Mattis, não está claro ainda qual exatamente é o plano da administração de Trump para a Coreia do Norte – até mesmo se um ataque militar está fora de discussão. Falando com o Fórum de Segurança de Aspen, o diretor da CIA Mike Pompeo sugeriu que ele “adoraria ver” Kim Jong-un fora do poder. 

Esta sugestão de mudança de regime gerou uma resposta tipicamente violenta de Pyongyang, acusando a CIA e a Coreia do Sul de planejarem assassinar Kim semanas atrás. 

Além disso, há também a figura do próprio presidente, um homem que parece estimar sua própria imprevisibilidade e imprudência. De acordo com o BuzzFeed, assim que o presidente Donald Trump anunciou em uma série de tweets que pessoas transgênero não seriam permitidas a “servir de qualquer forma ao exército dos EUA”, algumas pessoas no Pentágono temiam estar prestes a ver Trump inesperadamente anunciar ataques à Coreia do Norte (um cenário particularmente preocupante para aqueles em Seul). 

Até o momento, Trump parece contente em manter quase que uma continuação da tática de “paciência estratégica” utilizada por seu predecessor, Barack Obama – apesar de declarar em janeiro que a era de tal paciência estava perto de seu fim. Esforços buscando pressionar a China a estabelecer uma linha econômica mais dura geraram resultados diversos, embora o Departamento de Estado pareça estar focado em fazer países menores cumprirem com as sanções contra Pyongyang. 

Trump pode, até mesmo, estar chegando a um acordo quanto ao programa armamentista norte-coreano. Normalmente bombástico nas redes sociais, o presidente pareceu não incomodado após o teste de míssil na Coreia do Norte . “Esse cara não tem algo de melhor para fazer com a sua vida?”, escreveu Trump sobre Kim. 

Se Donald Trump está conformado com uma Coreia do Norte com armas nucleares talvez isto não seja de todo algo ruim. Alguns analistas discutem que o melhor é deixar o assunto de tais armas de lado por ora. 

Tom Malinowski, um ex-Secretário-Assistente de Estado para a Democracia, Direitos Humanos e Trabalho na administração de Obama, escreveu para a Politico nesta semana afirmando que os Estados Unidos deveriam buscar uma política de longo prazo em busca da reunificação da Coreia com uma ênfase em levar informações sobre o mundo para norte-coreanos comuns. O novo presidente da Coreia do Sul quer prosseguir em negociações com a Coreia do Norte, uma posição que é complementar a um objetivo de longo prazo que busca, de alguma forma, uma pacífica reunificação. 

No passado, Trump sugeriu estar aberto a dar início a negociações com Kim Jong-un ou ainda outras opções similares. Embora não haja garantia de que estes esforços funcionarão, eles parecem ser menos arriscados do que ações militares. E eles são, certamente, muito melhores do que simplesmente rezar para que haja chuva.

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