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Manifestantes: aplicativo quer dar voz aos cidadãos sobre temas importantes para a comunidade | Pixabay
Manifestantes: aplicativo quer dar voz aos cidadãos sobre temas importantes para a comunidade| Foto: Pixabay

As redes sociais ainda são um território de discussões rasas e sem efetiva representação democrática. Enquanto as pessoas compartilham notícias falsas que refletem o que pensam e desfazem amizades com amigos que pensam diferente, a internet parece favorecer as discussões raivosas e dificultar as consultas equilibradas sobre temas delicados. O especialista em tecnologia da informação e relações internacionais Colin Megill, morador de Seattle, viu nesse grande problema uma oportunidade. Em 2013, lançou o aplicativo Pol.is.

Ele e dois sócios criaram um software para os usuários não só escreverem o que bem entendem: seus comentários são submetidos a votação. Essas centenas de posts, com milhares de votos, são gerenciados por um sistema de inteligência artificial que permite extrair significado do debate. 

Dessa maneira, é possível uma prefeitura, por exemplo, saber o que todo o conjunto da população pensa sobre alguma medida polêmica. Algo que vai muito além do textão e dos compartilhamentos de imagens pré-montadas. 

A adesão ao sistema vem acontecendo em diferentes cantos do mundo. Em Taiwan, o governo conseguiu chegar a uma lei a respeito da regulamentação do Uber, com detalhes que foram debatidos junto à população com o uso da ferramenta. O aplicativo foi usado novamente para gerar uma lei que regulamenta a venda de bebidas alcóolicas

Na Dinamarca, um partido político, o Alternativet, usa o Pol.is para que seus membros participem de forma direta das decisões dos nove integrantes do parlamento. 

Na entrevista à Gazeta do Povo, o sócio, cofundador e porta-voz do Pol.is, o cientista da informação Christopher Small, explica a proposta da startup. “Queremos ouvir e entender a multidão como um todo”, ele diz. 

Gazeta do Povo: Como o aplicativo foi desenvolvido? Quantas pessoas trabalharam nele, por quanto tempo? 

Christopher Small:  A faísca inicial surgiu com Colin Megill, nosso CEO. Ele foi motivado por uma pergunta: como a tecnologia poderia permitir que a internet oferecesse discussões de larga escala, mas que tivessem algum significado? Em especial aquelas discussões sobre tópicos decisivos, principalmente os relacionados ao processo democrático. Na primavera de 2012, Colin começou a trabalhar nessa ideia com Michael Bjorkegren, que na época era engenheiro da Amazon. Juntos eles projetaram uma ferramenta que permite os participantes e submeter comentários, votar em comentários que outras pessoas postaram, e também digerir toda essa informação no formato de infográficos interativos. Meses depois, ele me procurou para ajudar a responder uma dúvida: como poderíamos aplicar inteligência artificial para sintetizar com eficiência e visualizar com rapidez esses dados gerados pelos participantes? Ainda no mesmo ano, chegamos a nosso primeiro protótipo. Passamos 2013 trabalhando na implementação e na segurança e melhorando a interface com o usuário. 

Qual a diferença entre usar o Pol.is e publicar opiniões numa rede social tradicional? 

Por algum tempo, nós não sabíamos como e para quem vender o aplicativo. Percebemos que tínhamos um produto com tecnologia muito flexível, mas era preciso ter foco para transformá-lo na base de uma empresa. Passamos mais algum tempo adaptando o Pol.is para que ela se tornasse uma ferramenta de comunicação interna para empresas, pesquisas de mercado, engajamento em salas de aula, e também como um substituto para as áreas de comentários de sites de notícias e blogs. Estávamos abrindo o leque de usos para o app. Mas tudo mudou quando a comunidade de ativistas de grupos civis online nos encontrou. Eles perceberam o potencial da ferramenta e nos procuraram, eufóricos, para começar a usar nosso produto. Graças a eles, voltamos ao nosso foco inicial e trabalhamos com clientes que são basicamente partidos políticos, instituições governamentais e defensores de direitos civis

Onde o aplicativo está sendo usado nesse momento? 

Em quase todos os continentes, com exceção da África e da Antártida. Nosso aplicativo tem sido testado e colocado em prática em Taiwan, na Dinamarca, na Coreia do Sul, em Hong Kong, na Austrália, na Nova Zelândia, no Canadá, no Reino Unido, no Sri Lanka e nos Estados Unidos. 

O Pol.is é mais eficiente para engajar pessoas do que o Twitter ou o Facebook? 

Sem dúvida. Parte da nossa motivação surgiu exatamente da percepção de que o Twitter e o Facebook dão grande dimensão para a capacidade de as pessoas dizerem algo, mas nunca deu a mesma importância para a capacidade de ouvir. Essa é a grande mágica do Pol.is: usar técnicas de inteligência artificial para realizar uma síntese de todo o grande volume de opiniões com o objetivo de criar informações fáceis de digerir. Com isso, queremos ouvir e entender a multidão como um todo. Isso é algo que, até agora, Twitter e Facebook não conseguiram resolver. Até porque esses sites se apoiam em softwares de propriedade privada. Você não pode entrar neles e entender o que está acontecendo, quais são os critérios exatos usados para montar sua timeline. A falta de transparência é um impeditivo para a democracia, e é por isso que o Pol.is fez a opção de abrir nossos algoritmos e a base de nossa interface. Somos um software aberto, e isso faz toda a diferença. 

Vocês conseguem ter lucros? 

Fico feliz em relatar que somos, sim, um negócio rentável. Ainda prestamos consultoria e temos empregos de meio-período para cobrir nossas despesas pessoais, mas poderemos nos bancar com o Pol.is a partir do próximo ano. Mais importante ainda: tudo isso com um software aberto, e sem trabalhar com consumidores finais, e sim com organizações e governos. Frequentemente estamos sendo procurados por pessoas que estão empolgadas com nossa proposta e nos ajudam a ir adiante no conceito de democracia digital.

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