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11 candidatos concorrem à presidência da França, mas apenas cinco têm chances reais de chegar ao segundo turno | Joel Saget/AFP
11 candidatos concorrem à presidência da França, mas apenas cinco têm chances reais de chegar ao segundo turno| Foto: Joel Saget/AFP

Neste domingo (23), os eleitores franceses irão às urnas escolher seu presidente pelos próximos cinco anos. Famosa pela grande participação popular apesar do voto facultativo (em 2012, o comparecimento foi de 80%, índice superior até ao de países com voto obrigatório, como o Brasil), a França está novamente dividida entre uma série de candidatos das mais variadas tendências políticas: são onze presidenciáveis concorrendo a duas vagas no segundo turno, previsto para acontecer em 7 de maio. Desde o início da campanha, cinco candidatos se destacaram como os mais prováveis sucessores de François Hollande, que decidiu não concorrer à reeleição. Abaixo, apresentamos o que cada um deles propõe para o futuro da sexta maior economia do mundo – e quais suas chances de vencer.

Emmanuel Macron: o novato que lidera as pesquisas

Macron em Nantes, nesta quarta-feira (19): “nem à esquerda nem à direita”Jean-Sebastien Evrard/AFP

Com apenas 39 anos de idade, Emmanuel Macron não é apenas o mais novo candidato francês em 2017: se eleito, vai se tornar também o mais jovem presidente da história da França, superando Luís Napoleão (sobrinho de Napoleão Bonaparte), que tinha 40 anos quando assumiu o cargo em 1848. Ex-ministro de Economia de François Hollande, Macron nunca concorreu a cargo político algum e enfrenta suas primeiras eleições no próximo domingo.

Apesar da pouca experiência no jogo político, é considerado um administrador competente, e teve uma ascensão rápida desde que decidiu romper com o governo e se candidatar pelo seu próprio partido, o “Em Marcha!”, que fundou em abril do ano passado. Macron aparece desde o final de janeiro como um dos dois candidatos mais citados nas pesquisas de intenções de votos, e vem liderando as pesquisas nas últimas semanas.

Seu projeto de modernização da economia francesa inclui o abandono definitivo do carvão em prol de energias renováveis e a redução de impostos para grandes empresas

Nas enquetes mais recentes, divulgadas ontem, o candidato detém 23% da preferência do eleitorado e aparece em primeiro lugar. Centrista convicto, razão que causou seu afastamento em relação aos socialistas, Macron leva sua campanha adiante sob o slogan “nem à direita nem à esquerda”. Seu projeto de modernização da economia francesa inclui o abandono definitivo do carvão em prol de energias renováveis e a redução de impostos para grandes empresas.

Durante seu período como Ministro da Economia, tornou-se conhecido por arquitetar a polêmica “Lei Macron”, que permitiu a abertura do comércio aos domingos e reduziu a regulamentação para setores da indústria francesa. Propõe, como presidente, continuar pressionando pela flexibilização da carga horária semanal dos empregados, que poderia superar as 35 horas atualmente previstas em lei.

Oposto a um controle migratório mais duro e crítico de Donald Trump, Macron defende a continuidade da França na União Europeia, e promete trabalhar para fortalecer o euro.

Marine Le Pen: o desafio será o segundo turno

Marine Le Pen durante ato de campanha em Marseille, no Sul da FrançaAnne-Christine Poujoulat/AFP

Candidata mais polêmica das eleições francesas, Marine Le Pen construiu sua carreira política com um discurso fortemente nacionalista, criticado pelos opositores como xenófobo e racista. As propostas políticas de extrema-direita vêm de berço: seu pai, Jean-Marie Le Pen, fundou o partido da Frente Nacional nos anos 70 (hoje liderado por Marine), e chegou ao segundo turno das eleições presidenciais francesas de 2002.

Marine, que no passado chegou a comparar a presença de muçulmanos rezando nas ruas francesas à ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial, defende um rígido controle imigratório, a renegociação dos termos frente à União Europeia e a saída do país da zona do euro. Fala em realizar um “protecionismo inteligente” na França, tanto para a indústria quanto para os trabalhadores: quer reformar a legislação trabalhista de modo a priorizar a contratação de funcionários franceses, criando um imposto de até 10% sobre o salário de estrangeiros.

Acusada de colaborar com a Rússia e receber apoio financeiro de Vladimir Putin (algo que tanto o Kremlin quanto a Frente Nacional negam), Marine viu a sede de seu partido ser invadida pela polícia francesa em fevereiro, para uma operação de busca e apreensão sob a alegação de desvio de fundos vindos da União Europeia. A candidata minimizou a busca policial e considerou uma tática de pressão do governo: “(o objetivo foi) perturbar o bom andamento da campanha e prejudicar Marine Le Pen num momento em que sua campanha cresce nas intenções de votos”, disse a Frente Nacional em nota divulgada à época.

Marine defende um rígido controle imigratório, a renegociação dos termos frente à União Europeia e a saída do país da zona do euro

Aos 48 anos, Marine Le Pen é creditada por ter ajudado a rejuvenescer a Frente Nacional, mas seu eleitorado ainda é atrelado àquele construído por seu pai. As pesquisas de opinião a colocam em empate técnico com o primeiro colocado Emmanuel Macron (hoje tem 22% das intenções de voto, contra 23% de Macron), e desde as primeiras pesquisas especulativas, ainda em 2013, nunca deixou de ter porcentagem suficiente para atingir o segundo turno após a apuração dos votos no próximo domingo.

Assim como ocorreu com o pai, que em 2002 acabou perdendo de goleada para Jacques Chirac (que fez mais de 82% dos votos no segundo turno), o maior desafio de Marine não é superar a primeira parte das eleições, mas conquistar votos depois disso. De acordo com as pesquisas, Le Pen seria derrotada em todos os cenários mais prováveis para o segundo turno: contra o centrista Emmanuel Macron, o conservador moderado François Fillon ou o esquerdista Jean-Luc Mélenchon.

François Fillon: denúncias encolheram o antigo favorito

Fillon: controle imigratório rígido, mas com manutenção de acordos com a União EuropeiaRegis Duvignau/Reuters

Líder das primeiras pesquisas eleitorais realizadas em 2017, François Fillon segue na briga, mas já viveu dias mais esperançosos quanto às possibilidades de chegar ao segundo turno: hoje em terceiro lugar, com as intenções de voto de cerca de 20% do eleitorado, o líder da centro-direita francesa chegou a virar o ano como favorito absoluto à sucessão de Hollande, com dez pontos percentuais a mais do que possui hoje.

Ex-Primeiro Ministro de Nicolas Sarkozy, Fillon concorre pelo partido “Os Republicanos”, fundado em 2015 para substituir o antigo UMP (União por um Movimento Popular), dos ex-presidentes Jacques Chirac e Sarkozy. A vitória de Fillon nas primárias do partido, em novembro do ano passado, foi considerada uma grande surpresa – deixou para trás o próprio Nicolas Sarkozy, além do ex-Primeiro Ministro de Chirac, Alain Juppé, até então visto como o nome mais cotado para levar a indicação.

O projeto de governo dos republicanos franceses inclui diversas reformas econômicas e trabalhistas, como o aumento da jornada de trabalho semanal (hoje fixada em 35 horas), a anulação do imposto sobre grandes fortunas, e o corte de 500 mil cargos públicos, além de uma reforma do sistema de saúde nacional

O projeto de governo dos republicanos franceses inclui diversas reformas econômicas e trabalhistas, como o aumento da jornada de trabalho semanal (hoje fixada em 35 horas), a anulação do imposto sobre grandes fortunas, e o corte de 500 mil cargos públicos, além de uma reforma do sistema de saúde nacional. Fillon também defende um controle migratório mais rígido mas, diferentemente de Le Pen, defende a manutenção dos acordos com a União Europeia e a continuidade do país na zona do euro.

O favoritismo inicial de Fillon foi seriamente abalado após denúncias que vieram à tona em janeiro, provocando o escândalo conhecido como “Penelopegate”. O candidato é acusado de ter criado cargos-fantasma no governo para seus familiares, incluindo sua esposa Penelope Fillon, aproveitando os vários cargos públicos que ocupou desde os anos 80. Após as denúncias, o candidato nunca mais voltou a ocupar os dois primeiros lugares nas intenções de voto.

Mélenchon: a surpresa da esquerda

Mélenchon: Ao contrário dos nomes de direita, seu grupo defende a entrada de imigrantes no país AFP

Histórico nome do socialismo francês, Jean-Luc Mélenchon rompeu com o principal partido da esquerda do país em 2008, criando sua própria sigla com outros dissidentes do que até então era a ala marxista do Partido Socialista. O novo grupo, chamado simplesmente de Partido de Esquerda (PG, na sigla em francês), é visto como radical e jamais elegeu um político para o Congresso ou Senado da França. De fato, Mélenchon é o único membro do PG eleito para um cargo importante até hoje, atualmente cumprindo seu segundo mandato no Parlamento Europeu.

Em 2017, Mélenchon concorre não sob a bandeira do PG, mas do movimento formado ano passado para estas eleições, conhecido como “França Insubmissa”. Apesar da pouca força eleitoral de seu grupo político na busca de cargos legislativos, esta não é a primeira tentativa de Mélenchon na corrida presidencial: ele já concorreu ao cargo máximo do país em 2012, chegando em quarto lugar. À época, o candidato da extrema-esquerda fez 11% dos votos, número que não se distancia muito do que as pesquisas de 2017 indicavam como intenções de votos até meados de março.

Mélenchon defende um ceticismo frente à União Europeia, e não descarta a saída do país caso os acordos comuns não proporcionem geração de emprego e crescimento econômico

Nas últimas semanas, porém, Mélenchon passou a crescer rapidamente nas pesquisas, chegando a superar brevemente Marine Le Pen antes de se estabilizar em 19% do eleitorado nas pesquisas mais recentes – porcentagem que o deixaria novamente em quarto lugar, mas o torna uma possibilidade ainda concreta para chegar ao segundo turno, se conquistar o eleitorado indeciso. O “França Insubmissa” busca os votos da esquerda descontente com o Partido Socialista, adotando um discurso mais radicalizado que o PS.

Mélenchon defende um ceticismo frente à União Europeia, e não descarta a saída do país caso os acordos comuns não proporcionem geração de emprego e crescimento econômico. Ao contrário dos nomes de direita, porém, seu grupo defende a entrada de imigrantes no país, entendendo que sua contribuição supera o custo de sua presença.

Entre as medidas mais radicais propostas por Mélenchon, está o investimento de 100 bilhões de euros na área ambiental e a taxação das grandes fortunas do país (os 0,05% mais ricos) em 90%. O candidato também promete fundar a “Sexta República Francesa”, formando uma assembleia constituinte para substituir o sistema presidencialista atual.

Benoît Hamon: a situação quase sem chances de vencer

Hamon: renda mínima universalChristophe Archambault/AFP

Em dezembro, quando François Hollande cedeu aos baixos índices de aprovação e anunciou que seria o primeiro presidente da França a não concorrer à reeleição em mais de seis décadas, o Partido Socialista iniciou uma corrida para apontar um nome capaz de substituí-lo. As primárias do PS culminaram com a indicação do deputado Benoît Hamon, crítico à esquerda de Hollande, que surpreendeu ao derrotar o Primeiro Ministro, Manuel Valls.

Com um projeto considerado excessivamente progressista para os padrões do PS, Hamon não conseguiu unificar o partido já fragmentado, e vem sofrendo para conquistar votos do restante da esquerda – seduzida pelo projeto radical de Jean-Luc Mélenchon. As propostas de Hamon incluem a legalização da maconha, a cobrança de impostos sobre indústrias que demitem trabalhadores em prol da mecanização, e um projeto de renda mínima universal, com o objetivo de complementar o salário daqueles que recebam menos de 2.185 euros ao mês. Também é defensor da permanência na zona do euro.

As propostas de Hamon incluem a legalização da maconha, a cobrança de impostos sobre indústrias que demitem trabalhadores em prol da mecanização, e um projeto de renda mínima universal

Com apenas 8% dos votos nas pesquisas mais recentes, Hamon chega ao fim de semana das eleições sem jamais ter ocupado uma das duas primeiras posições nas intenções de votos. Nos bastidores, a situação já admite a derrota diante da tarefa virtualmente impossível de recuperar os catorze pontos percentuais que hoje o separam de Le Pen. Apesar das chances quase nulas de avançar, a fatia de eleitores que o PS ainda detém torna seu apoio estratégico para os candidatos que avançarem para o segundo turno.

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