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Os bancos se acostumaram a ganhar dinheiro fácil com a inflação e a pouca educação financeira do brasileiro | Pixabay
Os bancos se acostumaram a ganhar dinheiro fácil com a inflação e a pouca educação financeira do brasileiro| Foto: Pixabay

Neste exato momento, em pleno ano de 2017, cerca de quatro em cada 10 brasileiros maiores de 18 anos estão fora do sistema bancário. São os chamados desbancarizados, aqueles que não possuem sequer uma conta para receber salários e que juntos movimentam quase 10% do PIB do país em transações informais. Some a isto o fato de que boa parte dos outros seis utilizam suas contas apenas para receber benefícios do INSS ou Bolsa Família, e não é difícil perceber que a relação dos brasileiros com os bancos não é lá muito amistosa, e o pior: motivos pra isso não faltam. 

Ao longo de décadas de hiperinflação, nossos bancos se acostumaram a uma realidade surreal, na qual, para ganhar dinheiro, bastava que não fizessem nada, exceto esperar o tempo passar. O motivo para tamanha bizarrice é bastante simples de entender. Assim como o governo, os bancos também tem o poder de criar moeda, por meio do chamado multiplicador bancário, que permite a qualquer um deles emprestar até dez vezes mais do que aquela grana que você tenha depositado numa poupança ou conta corrente. Em apenas um ano, 1993, o lucro do setor com a inflação pode ser estimado em 2% do PIB, ou pouco mais de R$ 120 bilhões em valores de hoje. 

Com o plano real e o fim da inflação, a realidade bateu à porta. Passou a ser preciso emprestar dinheiro e principalmente oferecer serviços. Como resultado, vários bancos acabaram quebrando, e o lucro desabou. Entre 1994 e 2002 por exemplo, o lucro do setor ficou em R$ 31 bilhões, ou 1/8 do lucro registrado no período entre 2003 e 2010. Para fins de comparação, apenas a ajuda do governo aos bancos (a maior parte deles banco estaduais quebrados por má gestão), ficou em R$ 45 bilhões, saídos do bolso dos pagadores de impostos. 

Com um histórico tão nebuloso, não é difícil perceber porque algo tão banal quanto ter uma conta em banco para realizar transações ou pedir empréstimos para abrir um negócio seja algo que não tenha “pegado” no Brasil. Temos hoje menos pessoas no sistema bancário do que os Estados Unidos no final do século XIX. 

Mesmo com a expansão das tarefas de bancos públicos e privados, que agora permitem uma imensidão de opções para gerir e poupar o seu dinheiro, a coisa não parece tão simples. Forçados a buscar rentabilidade, os bancos empurram hoje uma série de produtos que nada mais são do que um nariz de palhaço pronto para ser colocado no rosto do primeiro cliente desavisado. 

Escapar dessas armadilhas pode parecer difícil, mas seguindo algumas dicas básicas você pode ganhar dinheiro, e muito. Abaixo resumimos alguns pontos que você deve sempre ficar atento. 

#1 - O gerente do banco não é seu amigo: corra de títulos de capitalização 

Que a educação financeira nunca foi uma das prioridades para os brasileiros, não chega a ser uma grande novidade. Justamente por isso, quando se deparam com um bom atendimento e um mínimo de atenção, a maior parte das pessoas tende a acreditar que pode estar sendo realmente ajudada. 

Na prática o gerente do banco, ou aquele consultor amigão, são funcionários dos bancos, e tem uma única missão: cumprir metas e ajudar a instituição para a qual trabalham a ganhar dinheiro - e se você chegou até aqui, já deve ter sacado que é a missão número um de qualquer banco. 

Até mesmo o caixa do seu banco tem metas de venda de produtos e serviços para cumprir, e se você já foi a uma agência do Banco do Brasil, por exemplo, já deve ter percebido a empolgação com que tentam lhe vender um título de capitalização. 

Pegando um exemplo real, como um título de capitalização do mesmo Banco do Brasil, é possível destrinchar o que cada um ganha nesta brincadeira com o seu dinheiro. 

Para você, a promessa é a de que o seu dinheiro será capitalizado igual a poupança, e ainda lhe dará a chance de ganhar uma bolada em um sorteio. Parece positivo não é? Pois é, só tem um problemas: as taxas. 

Ao depositar R$ 100 no primeiro mês, o banco não irá lhe pagar o rendimento da poupança sobre o total, mas apenas sobre uma fração. No primeiro mês em que seu título de capitalização começa a correr, o banco retira uma parte substancial, que pode chegar a um quarto deste valor, para pagar as chamadas cotas de carregamento e as cotas de sorteio. O que sobra, é o que efetivamente será pago com a tal correção. Na prática, como apenas 75% do dinheiro que você deposita são de fato corrigidos, você chegará ao final com um retorno muito aquém do que teria se colocasse os mesmos R$ 100 na poupança. 

Em outras palavras: título de capitalização não é uma poupança que lhe dá a chance de ganhar uma bolada em sorteios, mas uma aposta, tão simples quanto comprar um jogo da mega sena. 

O banco utiliza seu dinheiro para pagar a si mesmo na gestão do produto, além de obrigar você a pagar por uma espécie de bilhetes dos tais sorteios. 

Um exemplo simples: suponha um título que lhe dê um número de 0 a 999.999, como é o caso do SuperPic ItaúClass. Neste caso, você estaria abrindo mão de obter uma rentabilidade de 13% ao ano, paga por um título público por exemplo, em troca de uma rentabilidade que na maior parte das vezes, mal passa de 1%. Tudo isso em troca de 1 chance em 250.000 de ganhar um prêmio. 

Para efeito de comparação, as chances de você acertar na quina, da mega-sena, são de 1 em 77.259, ou 1 em 1.166 para ganhar na quadra. Pelo retorno médio pago na quadra, você ganharia cerca de R$ 489, ao apostar os mesmos R$ 5. Em outras palavras: o mesmo que você abre mão para ter uma chance de ganhar ao longo dos quatro anos de rendimento deste título. 

Se você pensa efetivamente em poupar e construir patrimônio, corra destes títulos, invista na poupança, ou gaste tudo com uma festa para amigos. Ao menos terá um momento de satisfação, ao invés da tristeza de ver seu dinheiro render muito abaixo da inflação ao longo do período em que o título tiver validade. 

#2 - Bancos maiores são o pior lugar para investir 

Com o crescimento da concentração bancária no país, as opções de lugares seguros para guardar seu dinheiro podem parecer menores, mas a realidade brasileira há muito já é diferente. 

Graças ao chamado Fundo Garantidor de Crédito, o FGC, qualquer brasileiro tem até R$ 250 mil a salvo de uma eventual falência bancária de maneira simples: todos os bancos depositam uma grana no FGC, e, com o retorno deste investimento, o fundo garante a cobertura dos correntistas destes mesmos bancos. 

Isso significa que exceto por uma invasão alienígena ou uma falência geral do país, poucos eventos podem levar você a de fato perder toda sua grana. Na prática, a medida é bastante interessante, afinal, permite que bancos menores ofereçam garantias a seus clientes deixando-os confortáveis para que possam aplicar seu dinheiro. 

Num mundo onde bancos gigantes reinam, significa que há uma bela oportunidade para você, se a sua ideia é ganhar mais e pagar menos. Para captar recursos, estes bancos menores, ao contrário de bancos como Itaú, Santander, Bradesco, Caixa Federal e Banco do Brasil, precisam convencer seus eventuais poupadores e investidores de que são um bom negócio. Resultado? Taxas maiores de retorno em investimentos simples como CDB, o Certificado de Depósito Bancário, que é quando você empresta dinheiro ao banco, ao invés de deixar ele ali murchando na poupança. 

Em bancos pequenos, as taxas de retorno do CDB podem chegar a mais de 100% do CDI, com prazo de resgate diário, ou seja, rendem algo similar a taxa básica de juros da economia, bem maior que a inflação, e ainda lhe permitem um ganho que a poupança não dá, por uma razão bastante simples: a poupança, mais conservadora das aplicações, lhe paga uma taxa média de 0,5% ao mês, apenas no 30º dia em que seu dinheiro estiver parado na conta. Se você sacar essa grana no dia 29, terá 0 de retorno. Em um CDB, a capitalização é diária. Se você sacar a grana no dia 29, terá um retorno acima de 95% do valor que ganharia em 1 mês de aplicação. 

Nos grandes bancos, com uma vasta massa de clientes, é bastante provável que se você buscar por opções, encontrará títulos com retornos bastantes similares a caderneta de poupança, com um pequeno detalhe de que sobre este rendimento, pagará imposto de renda, o que pode fazer você de fato perder dinheiro. Para os bancos maiores porém, a chance de uma fração destes clientes topar comprar gato por lebre, é relativamente alta. 

Fique atento ao prazo de resgate do seu CDB, evite cair na conversa de CDBs com prazo de resgate de 3 meses a 2 anos, e principalmente fuja dos grandes bancos. Para isso, a recomendação é simples. Abra uma conta em uma corretora, o que pode ser feito com valores bastante baixos (há casos em que é possível investir apenas R$ 100), e por lá, procure o melhor investimento no prazo mais adequado para você. 

Se você não sabe como abrir uma conta, pode ficar tranquilo, pois com dois cliques é possível encontrar tutoriais no youtube ensinando o passo a passo, e fazer tudo pelo seu celular. 

#3 - Já existem opções de contas sem tarifas, mas cuidado, os bancos não gostam que você fale isso muito alto 

Criada pelo Banco Central, a resolução que obriga os bancos a oferecerem contas sem cobrança de tarifas, mas com serviços limitados, foi uma daquelas febres que durou pouco. Bradesco, Itaú e Banco do Brasil desistiram há alguns meses de suas contas digitais por exemplo, onde você pode fazer tudo em seu app de celular, e sacar em bancos 24h. 

Isso não significa porém que você esteja obrigado a pagar aqueles pacotes de serviços que nem sabe exatamente para que servem. 

Todo banco ainda é obrigado a manter estas opções, o que não são obrigados, porém, é a divulgá-las. Na prática, significa que você deve ir até seu gerente, e pedir uma transferência para este modelo, tudo isso claro, depois de checar quais os serviços oferecidos lá, e se eles lhe atendem. 

Criados recentemente alguns bancos digitais (que não possuem agências), permitem você obter estas vantagens independentemente da quantidade de serviços que você demande. Com uma pesquisa rápida, é possível descobrir um mundo além dos bancos mais tradicionais que gastam fortunas em propagandas na TV. 

Em alguns casos, é possível ter TEDs ilimitados, e saques na rede de banco 24h também ilimitados, sem qualquer tarifa. Há ainda o conforto de cartões de créditos sem tarifas, e opções de empréstimos muito mais amigáveis. 

#4 -  Você não precisa ser um adolescente descolado pra arranjar um cartão de crédito sem tarifas, mas é bom ficar de olho

O surgimento de opções de cartão de crédito sem tarifa tornou-se uma realidade tão avassaladora no país, que os maiores players deste mercado podem se dar ao luxo de não investir em publicidade, e ainda assim, contar com filas de espera. 

Se você é destes que não faz ideia de quanto paga em cartões de crédito, com anualidades ou taxas, é bastante provável que não tenha parado para fazer as contas direito e saber exatamente no que esta se metendo. A tentação de ganhar milhas e voar no 0800 pode ser grande, mas é preciso ficar atento para não pagar caro por brindes. 

Cartões como Dígio, do Banco do Brasil e do Bradesco, ou o precursor Nubank, oferecem facilidades para quem esta mais preocupado em ter um melhor controle sobre as próprias contas do que programar aquela viagem com as milhas do cartão. 

Como maior vantagem, estes dois casos não lhe cobram qualquer tarifa. De desvantagem, também não lhe dão as tais milhas que podem ser convertidas em passagens aéreas. 

Tal fato sempre pareceu um impeditivo para novos clientes, em especial os de maior renda, e justamente por isso, o Nubank lançou seu programa de recompensas. Nele, com R$ 1 gastos, você acumula 1 ponto, e pode trocar tudo por mensalidades da Netflix, ou simplesmente pagar corridas de Uber e passagens aéreas. A desvantagem, é o custo de até R$ 238 anuais. 

Na prática, se você gasta menos de R$ 23.800 ao ano, está pagando para ganhar um valor menor em brindes. 

Em outros casos, é possível até receber uma parte das suas compras de volta. A modalidade chamada de cashback adotada por alguns cartões, é uma alternativa a quem prefere trocar possibilidades de milhas no futuro por benefícios presentes. 

#5 - Fuja dos planos de previdência privada em bancos 

Se você é destes que já percebeu que uma aposentadoria via INSS não é mais garantia de nada há um bom tempo, talvez seja a hora de começar a se preparar por conta própria, e neste caso, todo cuidado é pouco, afinal, estamos falando seu futuro, e cada escolha aqui, pode ter um impacto imenso no futuro. 

Ofertados por boa parte dos bancos, os planos de previdência privada podem parecer a primeira vista uma opção bastante razoável, mas como sempre, é preciso ficar de olho nas chamadas taxas de administração. 

Em suma, os planos de previdência tem a tarefa de investir seu dinheiro com baixo risco, e assim lhe pagar uma boa aposentadoria no futuro, e é justamente aí que a coisa complica. Investimentos de baixo risco, ou mais conservadores, tendem a ser na maior parte das vezes, investimentos de baixa complexidade, e justamente por isso, encarregar um gestor profissional de fazer isso pode nem sempre ser a melhor ideia, afinal, com um pouco de estudo, você mesmo pode gerenciar seu futuro. 

Se você possui um plano de previdência gerido pela sua própria empresa, a medida deve ser redobrada, e a lógica não é muito difícil de entender. Contribuintes de planos de pensão fechados, estão impedidos de deduzir do seu Imposto de Renda suas contribuições para fundos abertos, os chamados VGBL e PGBL, ao mesmo tempo em que são obrigados a pagar Imposto de Renda quando sacam os recursos. Na prática, se seu fundo é fechado e gerido pela sua empresa, você paga 27,5% na entrada, e 27,5% na saída, inviabilizando o retorno que poderá obter. 

É preciso ainda ficar atento ao caso de você se desligar previamente da empresa, pois neste caso, perde o direito de obter 100% daquilo que a empresa pagou, tendo aí um segundo prejuízo. 

Se por um infortúnio você tiver de sacar os recursos da sua previdência privada em menos de 10 anos, naturalmente irá perder dinheiro, pois o Imposto incidente sobre este tipo de operação costuma ser muito mais alto do que em aplicações de prazo menor. 

Em um exemplo simples, imagine que você invista R$ 100 por mês durante 35 anos. No final do prazo, você terá R$ 198 mil, isto caso sua taxa de administração seja de 1% ao mês. Caso ela seja maior, o que não é improvável, e chegue a 3%, seu total acumulado será de R$ 124 mil, uma pequena diferença.

*Felippe Hermes é um dos fundadores do site Spotniks

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