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Crescimento de população idosa supera nascimento de crianças no Brasil | Átila Alberti/Tribuna do Parana
Crescimento de população idosa supera nascimento de crianças no Brasil| Foto: Átila Alberti/Tribuna do Parana

Os números não mentem. O Brasil está se tornando um país cada vez mais velho. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada na sexta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), de 2012 a 2016, o contingente populacional na faixa de 60 anos ou mais teve aumento de 16%, o equivalente a 4 milhões de brasileiros a mais com, pelo menos, 60 anos de idade. Já no caso das crianças de 0 a 9 anos, esse montante diminuiu 1 milhão - um encolhimento de 4,7% nos últimos quatro anos. 

Este cenário, avalia o coordenador do Núcleo de Estudos Populacionais e Sociais do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Leonildo Pereira de Souza, se deve a mudanças comportamentais aceleradas pela tecnologia e que ajudam a redesenhar a pirâmide populacional do país. Se de um lado as pessoas estão vivendo por mais tempo, por outro lado, a taxa de fecundidade tem tido queda ao longo dos anos. “Os países europeus já vivenciaram isso, mas levaram em torno de 100 anos para chegar neste ponto, enquanto o Brasil, cerca de 30 anos”, compara. 

Hoje, o Brasil já apresenta uma taxa de filhos por mulher menor que a taxa considerada de reposição em países desenvolvidos, de 2,1. A taxa é de 1,72 e pode chegar ainda, conforme estimativas do IBGE, a 1,5 filho por família em 2030. 

O número de nascimentos no país caiu de 2000 a 2007, se estabilizou entre 2008 e 2012 e voltou a crescer ligeiramente entre 2013 e 2015. “Mas esse crescimento ocorreu entre mulheres de 30 a 35 anos, uma geração que tem se dedicado mais a estudar e investir no trabalho, e que não pretende ter outros filhos. Por isso, é provável que essa taxa de nascimentos caia de novo”, pontua Souza. 

Por que este cenário deve causar preocupação? 

Economia

Um dos motivos de alerta é o desenvolvimento do país em meio à queda do montante de pessoas economicamente ativas. “Quem será mão-de-obra e como vamos resolver isso?”, questiona o coordenador do Ipardes. Ele se lembra de alternativas adotadas em países onde o envelhecimento populacional já chegou às políticas públicas. “Na Europa, alguns países escolheram atrair imigrantes para trabalhar em setores com lacunas. Já no Uruguai, houve oferta de um ‘plus’ para aposentados que quisessem retornar à ativa”, assinala. 

Educação, saúde e acessibilidade

Outro ponto que merece atenção é a educação. Se menos crianças nascem e menos matrículas tendem a ser feitas, a lógica de ampliação da rede escolar precisará ser repensada, analisa Souza. É a oportunidade de pensar em termos qualitativos, como oferta de educação em tempo integral em vez da construção de mais creches, exemplifica. 

Uma reavaliação de investimentos também deve ocorrer em relação à saúde. “Nosso sistema hoje não está preparado para atender idosos e as doenças que atingem mais esse público”, salienta Souza, ao emendar que as cidades estão aquém do ideal, em termos de acessibilidade, para idosos. “Como vamos adaptar prédios, calçadas e outros equipamentos a esse público?”, pergunta.

Novas profissões 

Um contingente maior de idosos, argumenta a coordenadora do núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles, a geógrafa Olga Lúcia de Freitas Firkowski, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), deve implicar no aumento da demanda por profissionais especializados neste público, como cuidadores. 

Ao mesmo tempo, o referencial etário do que se define hoje como idoso pode ter de passar por reavaliação no que tange ao incremento de políticas de inclusão, como vagas de estacionamento, por exemplo. “Hoje, temos pessoas com 60 anos muito ativas, que vivem mais de 80, 85 anos”, pondera ela, ao observar a influência disso em mecanismos de manutenção dos postos de trabalho e aposentadoria. “Precisaremos mudar algumas regras e é importante que isso seja pactuado com a sociedade”, diz Olga. 

“Temos que repensar a estruturação da previdência, como países europeus fizeram. A França tem um modelo previdenciário invejável”, comenta o sociólogo Lindomar Boneti, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao se referir ao método no qual o tempo de contribuição dos franceses vem aumentando, gradualmente, para 43 anos até 2035. A idade mínima para aposentadoria no país passou de 60 para 62 anos, em 2010. 

Para a professora Olga, não basta o espanto de que o Brasil já se tornou uma nação mais madura. É importante, sustenta, que os agentes envolvidos em políticas públicas entendam que já é hora de se importar com o efeito desses dados a longo prazo. “Precisamos começar a pensar em mudanças agora”.

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